Todos os anos, ao chegar setembro, vemos uma série de ações, palestras sobre a prevenção de suicídios, mas é preciso entender que setembro amarelo é todo dia! Falar sobre doenças mentais, assim como, a morte e o processo de morrer é um tabu para muitas pessoas, principalmente quando esta morte é autoprovocada.

Sabe-se que existe uma relação direta entre o suicídio e as doenças mentais, principalmente as não diagnosticadas e não tratadas adequadamente, e no mundo contemporâneo, onde todos são cobrados por uma alta taxa de produtividade, cada vez menos as pessoas se permitem parar para cuidar de sua saúde física e mental.

De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), o suicídio aparece como um problema de saúde pública, principalmente entre jovens de 15 a 29 anos, superando a mortalidade causada por guerras ou homicídios. Trata-se, portanto, de um fenômeno complexo e multifacetado, que afeta indivíduos dos mais diferentes grupos e níveis socioeconômicos.

Diante desse panorama, é possível estabelecer de forma estreita a relação da faixa etária citada com a fase de inserção no mundo organizacional e do trabalho. O trabalho, assim como o não-trabalho (desemprego), podem ser fontes de várias doenças mentais, tais como depressão, ansiedade, estresse, burnout e pensamentos suicidas, por outro lado, um bom ambiente de trabalho e bons relacionamentos interpessoais, promovem uma boa autoestima, resiliência e favorecem o desenvolvimento de habilidades socioemocionais.


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Portanto, é necessário compreender a importância e o significado do trabalho para o indivíduo, assim como os impactos dele em suas vivências.

Vale destacar que o trabalho faz parte da identidade do trabalhador e somando-se a isso temos o contexto pandêmico, onde torna-se necessário olhar para as políticas e práticas de recursos humanos, devido às grandes mudanças organizacionais, com trabalhos remotos e/ou híbridos, que invadiram as casas dos trabalhadores, mesmo muitos não estando preparados para tal mudança, resultando em conflitos entre a família e o trabalho, sobrecarga, quebra dos vínculos, dificuldades com a administração do tempo entre outras consequências.

Houve um desajuste na forma de trabalhar, que fez com que algumas pessoas trabalhassem sem parar e outras ficassem sem saber o que fazer, pois precisavam de um acompanhamento mais próximo da liderança, e nesses casos a produtividade baixou.

Anteriormente a pandemia, assuntos relacionados ao sujeito-trabalho e o desenvolvimento de ferramentas e ações para proteger trabalhadores que atuavam frente a riscos laborais, já eram discutidos com as equipes de gestão de pessoas, a fim de minimizar afastamentos e acidentes de trabalho, assim como adoecimento psíquico ocasionado pelo mesmo, sendo, em 2019, determinado pela OMS a priorização de notificações de doenças relacionadas ao trabalho. Tais fatos tornam ainda mais fundamental tal discussão no contexto atual.

Desta forma, é urgente, que as empresas revejam seus programas de recursos humanos e gestão de pessoas, visando ampliar as discussões sobre saúde mental, diversidade, qualidade de vida e promoção de saúde, para assim mitigar os problemas causados pela pandemia e mudanças organizacionais, buscando melhorias no trato da saúde mental do trabalhador, diminuindo os riscos de desenvolvimento de doenças mentais, tais como depressão, ansiedade, estresse, as quais em conjunto com outros fatores externos, podem levar à ideações suicidas e ao suicídio.

Para tanto, é extremamente importante que as empresas tenham profissionais, em seus departamentos de recursos humanos, habilitados a fazer uma análise da saúde mental do trabalhador, avaliando a personalidade, inteligência emocional, resiliência no trabalho, depressão, através de ferramentas como testes psicológicos, escalas e inventários com embasamento científico e validados para o Brasil.

De acordo com os objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS), colocados pela Organização das Nações Unidas (ONU), é de suma importância, garantir saúde e bem-estar, promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida (profissional), proporcionar igualdade de gênero, oferecer trabalho decente e digno, reduzindo as desigualdades sociais através de ambientes pacíficos e inclusivos para o desenvolvimento sustentável, colaborando para o acesso à justiça para todos, a partir de instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis.

As relações de trabalho são de grande importância quando se fala em saúde mental, visto que o trabalhador passa a maior parte de sua vida permeado por tais contatos, o que favorece a compreensão da saúde para além da relação saúde-doença, mas como a qualidade de vida e bem-estar social, e assim a promoção de políticas organizacionais que favoreçam a prevenção e o estímulo ao cuidado, afastando naturalmente, o indivíduo do adoecimento e colocando-o num espaço de autoconhecimento e realização.

Em contrapartida, o preconceito e a falta de abertura para discussões e acolhimento do sofrimento do trabalhador podem favorecer o desajuste emocional e fortalecer a ideação suicida.

Vale salientar que o suicídio é um fenômeno multifacetado e que o trabalho não desempenha, por si só, o fator desencadeador do ato, mas pode favorecer o adoecimento do indivíduo. Desta forma, é de suma importância que as empresas proporcionem espaços para discussões sobre os temas de saúde mental, garantindo ambientes e condições de trabalho saudáveis e seguros, atuando com responsabilidade social e relacionamentos interpessoais humanizados, e através de campanhas de educação contínua, elaborando novas formas de identificar e potencializar saberes, transformando habilidades e potencialidades em possibilidades de enfrentamento ao sofrimento psíquico, uma vez que, de acordo com a OMS, os esforços de prevenção ao suicídio necessitam da coordenação e colaboração de diversos setores da sociedade (saúde, educação, trabalho, justiça, direito, defesa, negócios, política e mídia), de forma integrada e coesa, pois todos estes fatores causam impacto na questão do suicídio.

Por que falar de setembro amarelo nas organizações

Juliana Paixão

Por que falar de setembro amarelo nas organizações

Erica Hokama

Por Juliana Paixão, psicóloga, com especialização em Residência Multiprofissional em Síndrome e Anomalia de Crânio e de Face, Professora e Supervisora de estágio na Faculdade Galileu, Psicóloga Clínica em consultório particular e Erica Hokama, psicóloga, com especialização em Psicopatologia e Saúde Pública, Mestrado e doutorado em Psicologia da Saúde, Professora na Universidade São Judas (SP) e consultora em Psicologia Organizacional e do Trabalho com ênfase em saúde mental do trabalhador. Ambas são parcerias da Vetor Editora.

Ouça também o PodCast RHPraVocê, episódio 90, “Burnout como doença do trabalho: o que muda?” com Marcela Ziliotto, Head de People na Pipo Saúde e José Ricardo Amaro, Diretor de RH da Ticket. Clique no app abaixo:

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