Resistência à mudança, medo de questionar normas estabelecidas, desvalorização de perspectivas que não sejam as suas ou do seu time. O que essas três situações têm em comum?

Todos são formas de fechamento cognitivo. Ou seja: o estado natural de ficarmos na defensiva, com medo ou raiva, ou de ignorar situações que desafiem nossos hábitos e crenças enraizadas.

Como mostram vários estudos psicológicos, a incerteza e a mudança desencadeiam em todos nós um profundo desejo de estabilidade e segurança. E o que normalmente fazemos quando estamos lidando com este comportamento nas equipes que lideramos?

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Temos a tendência de rotular e afastar aqueles que não aderem às mudanças, julgando-os de inadequados para os processos de transformação, em vez de criar mecanismos para acolher e endereçar este fenômeno que é comum e inerente ao ser humano.

A psicologia do fechamento cognitivo

A necessidade de fechamento tem influência grande no comportamento das pessoas, afetando a tomada de decisões e julgamentos na nossa vida pessoal e no trabalho. Isso porque nossa estrutura cerebral é preparada para detectar “ameaças” no horizonte, a fim de garantir nossa sobrevivência.

Geralmente, as emoções que se revelam diante dessa situação são medo, raiva, confusão e paralisia. A necessidade de fechamento também é impactada por fatores como fadiga, pressão sobre o tempo e estresse.

Ela acontece principalmente pelos seguintes motivos:

1. Necessidade de segurança e certeza. Evitamos tudo o que pareça ameaçar nossa sobrevivência.

2. Evitar desconforto cognitivo. Evitamos o desconforto de ter nossas crenças e ideias estabelecidas desafiadas por alguém ou alguma informação.

3. Confirmar nossos viéses. Temos uma tendência natural de buscar informações que confirmem nossas crenças, validando nossas próprias opiniões e ignorando evidências contrárias.

4. Manter a identidade social e o pertencimento. As pessoas se identificam com grupos sociais específicos e buscam manter a coesão social para se sentirem pertencentes.

Os impactos da mente fechada

O fechamento cognitivo pode gerar impactos de diferentes níveis. “As consequências de uma mente fechada podem envolver desde comportamentos minuciosos, como pequenos julgamentos no dia a dia, até decisões monumentais, como aquelas responsáveis pelo lançamento de ônibus espaciais ou pela negligência na preparação adequada para um ataque inimigo”, diz Arie Kruglanski no livro “The Psychology of Closed Mindedness“.

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Para Arie, uma vez que este a necessidade de fechamento está envolvida em todos os julgamentos e decisões humanas, a princípio, ela não deveria ser julgada. Se a preservação de uma cultura for valorizada e desejada, por exemplo, o fenômeno do fechamento por ser algo eficaz.

O ponto fundamental aqui é: uma vez que as organizações compreendam melhor a necessidade de fechamento humano e criem um ambiente de acolhimento e desenvolvimento, podem evitar que ela tenha consequências indesejadas.

Nossa necessidade de sobreviver é tão forte que outras pessoas que estão com medo nos influenciam muito facilmente” diz Brit Andreatta no livro “Programado para Resistir”. Para ela, é muito importante evitar que medo e angústia se alastrem numa organização.

Portanto, para liderar em contextos de incerteza – que incluem mudança, diversidade e inovação, precisamos estar preparados para ajudar as mentes fechadas que irão se revelar, a gerar consciência do seu processo e assim conseguir navegar melhor nos desafios que o mundo tem nos apresentado.

Como ajudar a abrir mentes

Possuímos um GPS interno, o córtex otorrinal, que funciona como um mapa mental, que nos ajuda a navegar no espaço fisico e social. “Esses mapas criam um senso de familiaridade e conforto, que é o que estamos programados para buscar.” Diz Brit.

As organizações devem ajudar as pessoas no processo de ampliação destes mapas mentais, fortalecendo conexões sociais através de confiança e empatia, e, fundamentalmente, criando autoconsciência e novos hábitos (um processo de coaching pode ajudar nisso):

1. Fortalecer conexões sociais

Nosso impulso de fechamento aumenta quando estamos em torno de pessoas desconhecidas, que podem ser percebidas como ameaças. Por isso, precisamos criar laços sociais para nos sentirmos pertencentes e seguros.

2. Assumir o controle de sua voz interior

O ato de pensar sobre seu pensamento e aplicar esse pensamento de supervisão para regular sua cognição e gerenciar o comportamento futuro para que você possa atingir quaisquer metas relevantes para o alvo atual de seu foco, é chamado de metacognição. Ela deve ser desenvolvida para que consigamos reconhecer quando estamos com medo, inseguros e fechamos nossa mente.

3. Criar novos hábitos

A repetição de um comportamento faz com que o cérebro consuma menos energia quando ele for novamente requisitado para a mesma tarefa. À medida em que transformamos um comportamento em um hábito, nosso cérebro é liberado para se dedicar a novos aprendizados.

Estudos mostram que são necessárias em média 40 a 50 repetições para se criar um novo hábito. Sendo assim, a ideia é criarmos pequenos gatilhos e algumas recompensas para que esses novos hábitos sejam desenvolvidos.

Conclusão

Cada vez mais o mundo pede que estejamos mais abertos para a mudança, a incerteza, a diversidade e a inovação. Nossa necessidade de segurança e integridade é colocada à prova diariamente.

Dentro das organizações isso passa a ser uma demanda constante, que precisa ser devidamente gerida, com práticas intencionais de apoio aos indivíduos.

Sem julgamento moral, respeitando as individualidades, e, ao mesmo tempo, cuidando para que o medo e a insegurança não prejudiquem o desenvolvimento dos indivíduos e, por consequência, da organização.

O que tem por trás da resistência à mudança

Por Carol Fernandes, formada em Design pela PUC-Rio e Behavioural Economics pela Universidade de Toronto X. Atua como designer cultural, especializada em implementar modelos operacionais para times distribuídos. É fundadora da Stretch, consultoria de gestão da mudança adaptativa, que atende empresas de diferentes portes e segmentos.

 

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Nesse episódio do RH Pra Você Cast, Santos aborda fatores-chave para o desenvolvimento de uma carreira saudável, na qual o olhar para si próprio se manifesta como um diferencial para superar obstáculos que nos travam no dia a dia corporativo. Confira:

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Capa: Depositphotos