O farol de Thridrangar é um dos mais icônicos do mundo. Está situado no topo de uma pilha de basalto de cerca de 40 metros acima do mar revolto e a oito quilômetros da costa da Islândia. O início da construção foi em 1938 e foram precisos três anos para o seu término. Durante esse período, os operários escalaram constantemente os penhascos para alcançar o pináculo.

Atualmente é considerado provavelmente o farol mais isolado do mundo, assentado precariamente em um pilar rochoso, cercado por ondas tão grandes quanto o frio oceano do Atlântico Norte.

Por mais isolado que esteja um farol, em meio a tormentas e tempestades torna-se o único guia e objetivo das embarcações em mares revoltos. Embora ainda exista o destino final da viagem, o farol torna-se o único ponto de orientação naquele momento. 

Completar a viagem e não perder de vista o farol, tornam-se um só propósito, pois o primeiro não será atingido se os viajantes falharem em seguir o segundo. O curto e o longo prazo tornam-se um só. Não há longo prazo no meio da tormenta.

Alguns fatos estão ocorrendo no Brasil e no mundo enquanto este artigo é escrito. No rastro de 2022, as Big Techs continuam com processos de demissões, sendo que a Amazon anunciou o corte de mais 18.000 funcionários este ano e o Twiter tem a sua redução de quadro afetando fortemente a operação brasileira.

RH-TopTalks2023

Uma fábrica da Riachuelo fecha no Nordeste levando 2.000 colaboradores ao desemprego. A Didi, controladora da 99, também anuncia reduções no Brasil. Na carona destes acontecimentos, a Americana provoca uma crise de confiança nas bolsas, derretendo o preço de suas ações.

O pano de fundo deste cenário é um início bastante conturbado de um novo governo, com seus ministros ainda se acomodando nos cargos e mandando mensagens desencontradas ao mercado. Os acontecimentos de 8 de janeiro jogam uma sombra no processo de estabilização político institucional, também contribuindo para as incertezas do mercado.

Embora nem todas as notícias sejam negativas, pois a safra de 2023 promete bater recordes e muitos mercados não são atingidos, cria-se uma onda de insegurança, cujo “farol” passa a ser a sobrevivência deste ano ao se passar pela tormenta. Nenhuma crise que atravessamos no passado foi duradoura, assim como esta promete não ser, mas é um momento do “back to basics”, ou na nossa linguagem, ficar no “arroz com feijão”.

Significa fazer muito bem o que você já faz bem. Destacar-se no atendimento ao cliente, garantir que sua equipe esteja motivada e focada, postergar despesas desnecessárias, deixar ainda por um tempo na gaveta aquele “grande projeto” que você quer apresentar. Quem tem em suas mãos o domínio do capital, esperará o “mar acalmar” para saber a direção a seguir, além daquela do “farol”.

Até mesmo investimentos com produtividade a longo prazo não serão bem-vindos, mas sim aqueles que produzam ganhos imediatos para aliviar o caixa. Trata-se de momento de colocar na frente aqueles produtos ou serviços com altas margens e líquidos, colocando em compasso de espera aqueles que vão precisar de tempo para maturar e trazer os devidos retornos.

Já ouvi muitos empresários bem-sucedidos que contaram suas experiências de investir na crise para crescer. Isto é válido para quem tem algum capital de risco em seu portfólio e equivale às especulações de curto prazo na bolsa de valores. Assim como alguns têm sucesso, muitos outros amargam perdas. 

O capital, nas tempestades, sai do “convés do navio” e esconde-se com segurança nos “compartimentos inferiores”, esperando a calmaria e a passagem pelo farol, para então, mostrar a sua face publicamente em um “sol azul de céu de brigadeiro”. Saiba o momento certo de abordá-lo e oferecer alguma segurança.

Estes episódios fazem-me lembrar das repetidas turbulências pelas quais passei ao viajar de avião. O primeiro aviso vem sempre do capitão com o “apertem os cintos”. Certa ocasião, ao iniciar a descida para o aeroporto de destino, o avião em que me encontrava teve uma queda livre de aproximadamente dez segundos. Parece muito rápido, mas naqueles segundos experimentei a dimensão da multiplicação do tempo.

Em meio aos gritos assustados, me vi de olhos fechados, agarrado em minha poltrona e meu pensamento estava em tudo, menos no meu futuro. Meu passado correu em minha mente à velocidade da luz, mas meu foco estava no presente: minha família, minhas imperfeições e meus valores espirituais. Ao final desse tempo, felizmente a queda parou em um tranco, o avião estabilizou e em poucos minutos a vida voltava ao normal na cabine de voo.

Estes “solavancos” pelos quais estamos passando, vão parecer uma eternidade enquanto durarem. O Brasil já passou por muitos e vai passar por este também. Nesse meio tempo a solução é “agarrar-se” bem ao que você faz e não ficar pensando muito além do “farol”. Isto pode distrair a sua atenção nesta sobrevivência de curto prazo, até às águas tranquilas.

Pensar demasiadamente no futuro nestas circunstâncias, pode aumentar ainda mais o pânico. O importante é a confiança no dia a dia, na qualidade do que está sendo feito. Se ainda outras más notícias surgirem, serão apenas raios ou “ondas” mais elevadas, mas que não tirarão a nossa visão do “farol”, até que possamos enxergar novamente o destino. 

Nossa economia e nosso povo são maiores do que tudo isto!

Nas tormentas não há longo prazo

Por Danilo TalanskasAutor do livro Lições de Guerra – Vencendo as Batalhas de Sua Carreira, foi o CEO de três multinacionais: GE Healthcare, Rockwell Automation e Elevadores Otis. Em paralelo à sua carreira como executivo, atuou como palestrante e professor em cursos de pós-graduação nas áreas de Estratégia, Ética e Negócios Internacionais. Nos últimos anos fez parte de conselhos de administração, conselhos consultivos e assessora empresas. É formado em Administração de Empresas pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, com MBA pela Universidade de Brigham Young (EUA) e é mestre em Administração pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Atualmente assessora a Fernandez Mera Negócios Imobiliários Ltda.

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