A dinâmica do mundo corporativo tem uma nova regra: não basta ser bom; é preciso ser rápido sem comprometer a qualidade da entrega. Criadas inicialmente para o desenvolvimento de software, as metodologias ágeis estão cada vez mais presentes nos escritórios, substituindo o modelo clássico de desenvolver projetos. Como o próprio nome revela, esse método busca agilidade na entrega dos produtos e soluções, de forma sempre alinhada à expectativa do cliente, que participa ativamente de todo o processo. A ideia é reduzir a burocracia e aumentar a flexibilidade, permitindo a adequação do que está sendo desenvolvido conforme a necessidade do cliente.
A expansão do uso dessas metodologias não é à toa. Uma pesquisa feita pela Vision One, no final de 2015, mostra que as empresas que adotaram os métodos ágeis melhoraram a entrega no prazo e a qualidade do produto, além de terem identificado um aumento na satisfação do cliente e no valor do negócio. Já em 2020, o estudo A Agilidade na América Latina mostrou que 52% das empresas entrevistadas acreditam que a transformação reduziu os custos, e 68% testemunharam melhorias na redução de riscos. Desenvolvido pela MIT Technology Review em parceria com a consultoria everis, o estudo avaliou a adoção da filosofia ágil por grandes empresas de países como Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México e Peru.
Desde que foi criada a filosofia ágil, diversos métodos surgiram, sendo o Scrum e o Kanban os mais adotados na América Latina, segundo o estudo da everis e do MIT Technology Review. Cada método funciona como uma ferramenta que deve ser aplicada conforme a necessidade de cada empresa. Por isso, não é possível dizer se há uma melhor do que a outra, mas sim a que melhor se adequa à sua empresa.
Principais tipos de métodos ágeis:
Scrum: tem como base equipes pequenas e multidisciplinares, e as reuniões de feedbacks ocorrerem frequentemente. Funções e responsabilidades são bem-definidos. Foco nas características que geram mais valor ao cliente.
Lean: o conceito principal aqui é identificar e eliminar desperdícios dentro da empresa e na execução do projeto, o que engloba desde a redução de custos até mesmo as burocracias e complexidades das tarefas.
Kanban: método de gestão visual que organiza as tarefas em três etapas: TO DO (tarefas a serem feitas durante um determinado tempo); DOING (demandas que estão sendo feitas); e DONE (tarefas finalizadas).
Smart: usado para traçar metas e objetivos, tornando-os mais reais e tangíveis, esse método é baseado em cinco princípios que, em inglês, formam a sigla Smart: Specific (específico), Measurable (mensurável), Attainable (atingível), Realistic (realista) e Timely (tangível).
OKR (Objective and Key-Results): usada por gigantes como o Google, essa metodologia possibilita classificar o que é importante para alcançar suas metas, permitindo o alinhamento e engajamento em torno de metas mensuráveis. Para aplicá-la, John Doerr criou uma fórmula: “Eu vou (Objetivo) medido por (conjunto de resultados-chave)”. Nela, o objetivo deve ser aquilo que se deseja alcançar, e os resultados-chave devem ser quantitativos, que indicam se o objetivo está sendo alcançado.
Design Thinking: não se trata exatamente de uma metodologia, mas de uma abordagem focada na resolução de problemas de forma coletiva e colaborativa. As diferentes perspectivas dos envolvidos possibilitam uma visão mais completa dos problemas e de maneiras para superá-los. Basicamente, segue a seguinte ordem: pesquisa, brainstorms, seleção de ideias e prototipagem.
Espaços ágeis
Como cada uma tem suas próprias características, as empresas que decidem adotar as metodologias ágeis também devem se adequar, criando espaços planejados para que o trabalho flua melhor. A arquitetura pensada nessa filosofia segue uma tendência de layout mais aberto, permitindo a interatividade entre as pessoas e proporcionando locais adequados para as reuniões em equipe. O protagonismo destes métodos de trabalho tem fomentado mudanças nos espaços do escritório.
Ambientes dedicados ao exercício destas ferramentas são cada vez mais requisitados e, consequentemente, considerados em projetos corporativos. Cada qual com suas particularidades, trazem aos escritórios dinamismo e diversidade aos usuários
Um exemplo é o projeto da Qintess. Com mais de 3.200m² de área privada, dividido em quatro andares e meio, o local foi projetado com ambientes como estúdio para gravações, garage band, sala de yoga, lounge café, lactário e gaming room. A estrutura corporativa conta ainda com um “open space” para reuniões ou “coworking”, tudo projetado com base em características como funcionalidade, conforto e sustentabilidade e com o objetivo de provocar reações cerebrais positivas, focadas na experiência do usuário.
Mudança de mentalidade
A adoção deste modo de trabalho requer, principalmente, uma mudança de mentalidade. O estudo da everis mostra que a resistência à mudança é apontada como o principal entrave por 49% dos entrevistados. Mas qual o primeiro passo a ser dado? Agir. E não há uma fórmula mágica para implementar.
O estudo da everis concluiu também que os líderes que se destacaram na implementação da mudança convergem ao apontar a importância de gerar resultados rápidos que vão atrair pessoas céticas a participar da evolução da empresa. Da mesma forma, o envolvimento dos líderes, que não são apenas patrocinadores do processo, mas também participantes diretos, é fundamental para conquistar seguidores e facilitar as mudanças necessárias.
Visão do especialista
Especialista em Metodologias Ágeis e Agile Coach, Petterson Reis, explica que as metodologias ágeis nasceram em razão da necessidade alternativa aos métodos clássicos existentes, tendo como principais finalidades a maximização e otimização dos trabalhos de times e dos resultados a serem entregues aos clientes, com constância no valor e maior frequência e eficácia.
Segundo Reis, para gestores e empreendedores implementarem metodologias ágeis nas corporações é preciso foco em encontrar a melhor estratégia e entender que não existe uma “receita de bolo” para o processo. O que se tem são princípios ágeis que devem ser adaptados a cada realidade, de acordo com a necessidade dos times e dos clientes.
Reis explica que, embora estejamos passando por um hype de metodologias ágeis, é preciso entender, para que se consiga implementar essa cultura nas empresas, que o nascimento delas foi há duas décadas, por meio do “Manifesto Ágil”. Ele diz que, para muitos, o conhecimento já vem de longa data, mas como vivemos em um mundo VUCA (Volatile, Uncertain, Complex, Ambiguous), os frameworks, métodos e processos vêm se adaptando, mudando e se adequando às realidades de cada necessidade.
Por isso, é um papel importantíssimo do gestor, e da organização, fornecer formas de treinamento e atualização dos colaboradores sobre esses assuntos. Também deve haver um estímulo a se buscar conhecimento sobre a área. Hoje, contamos com diversos webinars, meetups, lean coffees, onde podemos conseguir conhecimento de forma gratuita e com diversas pessoas especialistas nos assuntos.
Na visão do especialista, consultorias especializadas em metodologias ágeis podem ser de grande utilidade para que o mundo corporativo se adapte com qualidade. “Por mais que o conhecimento sobre metodologias ágeis seja algo acessível, existem diversas consultorias especializadas e com capacidade de ajudarem empresas a realizarem assessments, com o objetivo de entender onde precisam evoluir para gerar ótimos resultados, de acordo com sua respectiva maturidade e desafios específicos da respectiva área. Além disso, ao falarmos sobre uma transformação ágil de uma corporação, essa sempre vem aliada com mudanças de cultura e mindset, sendo extremamente importante que haja um acompanhamento dessa gestão”, adiciona Reis.
Por Denise Moraes e Erica Prata, sócias da AKMX Arquitetura Corporativa.
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