Assumir um papel de liderança em outro país é uma aventura repleta de emoções e aprendizados. No entanto, não posso negar que a decisão também carrega consigo desafios, muitos derivados dos choques culturais que acontecem dentro e fora do universo corporativo.

Como alemã, formada em Administração de Empresas e Ciência Política, em 2022 dei um grande passo ao me mudar para São Paulo para assumir como CFO de uma grande multinacional, mesmo sem nunca ter tido contato com o português.

A missão de liderar uma área em um país onde o idioma era uma barreira não me intimidava tanto, uma vez que não era a primeira vez. Antes de vir para o Brasil, já havia assumido uma posição de liderança no Vietnã, além de ter concluído meu mestrado na Espanha.

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Aprendi, com essas experiências, que a chave para o sucesso não é apenas aceitar as diferenças, mas de fato abraçá-las e querer compreendê-las profundamente. Só assim é possível crescer e construir relacionamentos sólidos em qualquer canto do mapa.

Entre as principais lições, destaco algumas que podem ajudar quem decide se aventurar liderando equipes fora de seu país. A primeira é justamente a importância do domínio do idioma local. Não dá para contar exclusivamente com o inglês, mesmo que essa seja a língua universal.

Ter pelo menos noções básicas do idioma pode fazer uma diferença substancial na comunicação e na criação de laços com os profissionais da nova equipe. Foi justamente por isso que me esforcei profundamente até mesmo para aprender o vietnamita, o que não foi tarefa simples.

Outra lição aprendida é que, quando falamos de postura e ambiente profissional, é nítido que as culturas latino-americanas frequentemente abraçam uma atmosfera mais descontraída e aberta. Isso vale, inclusive, para os profissionais da alta liderança.

No Brasil, são valorizados os líderes que conseguem criar um ambiente leve, empático, com abertura para o diálogo e segurança psicológica. A autonomia também é bastante apreciada, o que envolve delegar tarefas, confiar e dar visibilidade aos times. Os alemães, em contraponto, frequentemente são percebidos como sérios, formais e reservados – apesar de, muitas vezes, ser uma fachada que desaparece com a convivência.

Ainda sobre as diferenças de estilo de liderança, pude observar os contrastes em relação aos feedbacks. Talvez poucos notem que as abordagens para avaliações variam enormemente entre diferentes culturas e que ter essa clareza é indispensável para conseguir uma equipe engajada com os objetivos do negócio, satisfeita e se desenvolvendo.

No Vietnã, dar e receber feedback não é tão comum quanto no Brasil, onde a interação entre as equipes é mais forte. Aqui, as lideranças estão abertas a compartilhar perspectivas e há uma abordagem mais próxima para fornecer uma avaliação construtiva, com um toque pessoal.

Ao refletir sobre essas vivências, vejo que o sucesso em um papel executivo no exterior é resultado do equilíbrio entre compreender as nuances culturais e se esforçar para aplicar as habilidades de liderança com um olhar para as relações humanas.

A jornada pode ser desafiadora, principalmente longe de casa, mas certamente vale o esforço.

Lições de liderança para assumir cargos no exterior

Por Jana Marlen Ackermann, CFO da multinacional Bayer no Brasil.

 

 

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