O imediatismo, a pressa constante e a falta de atenção à experiência de cada momento são características do mundo multiconectado em que vivemos hoje. Com o uso cada vez mais intenso das redes sociais no dia a dia, muitas vezes nos vemos como meros “executores” de tarefas e missões, e nem sempre temos claro qual o propósito de cada uma delas.
A obrigação de “fazer algo” o tempo todo nos torna indivíduos ocupados demais, e faz com que as relações humanas sejam líquidas e superficiais, resultantes do impacto da cultura digital nos hábitos e comportamentos.
O panorama atual pode ser resumido na sigla VUCA (Volatility – Volátil; Uncertainty – Incerto; Complexity – Complexo e Ambiguity – Ambíguo). É uma realidade muito distante da dos nossos antepassados que, durante séculos, viveram em sociedades agrárias, nas quais todos sabiam, desde cedo, o que esperar do futuro.
Esse modelo sólido perdurou por centenas de anos, e deixou de existir nas últimas décadas. O ambiente corporativo de hoje é marcado pela impaciência, pela rejeição às hierarquias tradicionais, pelo elo frágil com o contratante e pela alta mobilidade.
Pesquisa recente do Grupo Deloitte, realizada nos EUA, apontou que a cada 3 profissionais nascidos entre as décadas de 80 e 90 -a chamada Geração Y-, 2 (66%) pretendiam mudar de emprego até o final de 2020. A Geração Y, também conhecida como Millennial, é a primeira verdadeiramente global, formada por jovens que desejam novas experiências, são ávidos por mudança, movimento, liberdade, inovação e informalidade.
Essa geração deseja isso na vida pessoal e profissional, e busca um propósito em tudo o que faz, principalmente no trabalho e no relacionamento com marcas e produtos. Essa inquietude refletida na pesquisa é a maior responsável pelo turnover (índice de rotatividade) nas empresas americanas, e um retrato da volatilidade das relações atuais, inclusive no ambiente de trabalho.
No Brasil, essa realidade não é diferente. Esse grupo já representa 51 milhões de pessoas (24% da população), segundo o IBGE e a pesquisa “Millennials – Unravelling the Habits of Generation Y in Brazil“, conduzida pelo Itaú BBA. De acordo com o estudo, como 1 em cada 4 brasileiros pertencem a essa geração, eles estão revolucionando as relações de trabalho.
Para esses jovens, é fundamental ter horários flexíveis, poder trabalhar em regime home office (trabalho remoto), além de ter liberdade de escolha nos projetos executados e chance de desenvolvimento pessoal e profissional. Não é possível “fechar os olhos” para todas essas mudanças.
Nesse contexto de incertezas, é comum surgir o medo do novo e o receio de não “dar conta do recado”. Com isso, muitas vezes surgem as comparações com pessoas com quem convivemos em nosso ambiente familiar, pessoal ou profissional, e é nessa hora que pode vir à tona a sensação de frustração ou fracasso.
Isso porque, ao invés de prestar atenção aos comportamentos e atitudes que devem ser trabalhados para mudar dentro de si, o indivíduo cai na “armadilha” da comparação com o outro, que tem suas próprias questões internas para resolver. Ou seja, trata-se de uma abordagem equivocada, que precisa ser deixada de lado.
É a partir daí que o processo de Rebranding pode ser um grande aliado. Podemos definir o Rebranding como um trabalho de reposicionamento da marca pessoal, em que o indivíduo é desafiado a responder que marca gostaria de ser, com que marca se identifica. A partir desse questionamento, é possível detectar fraquezas e fortalezas, mapear dificuldades e desafios pessoais, e ajustar o que é necessário.
Nesse ponto, é comum a pessoa perceber que não consegue atingir determinada meta porque está recorrendo demais (ou de menos) a um tipo de comportamento. Por vezes, são atitudes que a pessoa nem mesmo se dava conta de que utilizava. A partir do momento em que tal “insight” acontece, a evolução passa a ser mais fácil.
Importância de uma marca pessoal forte
O grande “trunfo” do Rebranding é a construção de uma marca pessoal coerente e sólida. É fundamental termos em mente, o tempo todo, que somos todos marcas, que expressam um conjunto de características, capazes de cativar ou de repelir nossos parceiros de caminhada- sejam eles chefes, colegas, amigos ou familiares.
Tal conceito se encaixa nos mais diversos aspectos da vida – seja a vivência profissional, familiar ou amorosa. Construir uma determinada imagem pode conduzir um indivíduo à criação de “personagens” distintos que ajam da maneira com que ele acredita que os outros esperam dele.
Ele pode exagerar algumas de suas virtudes e ocultar imperfeições que teme, em prol de maior aceitação e reconhecimento.
Mas não adianta fingir ser uma coisa que não se é. Os resultados não duram e as consequências podem ser sérias. Por isso, é crucial estabelecer uma marca clara, conectada com sua essência, transparente, que expresse sua verdade e não decepcione o que público possa eventualmente esperar.
O objetivo do Rebranding é identificar dissonâncias, ajustar comportamentos, aprimorar conteúdos, qualificar o “produto” e, assim, constituir uma marca poderosa, cuja imagem dê destaque aos melhores atributos.
Autoconhecimento promove mudança e leva ao sucesso
Quando falamos de Rebranding, tratamos da relação de uma pessoa com os outros ao seu redor, que são seus companheiros de jornada na aventura humana. Por meio do Personal Rebranding – voltado para uma pessoa, não para uma marca corporativa-, o indivíduo pode se auto-avaliar e rapidamente tomar consciência dos desafios que se apresentam para a sua marca.
Durante o processo, ele eventualmente irá olhar para trás e compreender o que foi no passado, em que ponto da trajetória está agora, além de projetar aonde pretende chegar futuramente.
É fundamental esclarecer que, ao trabalhar no reposicionamento de uma marca, o Rebrander jamais irá determinar o que deve ser feito mas sim provocar reflexões. Além da complexidade das questões, é preciso respeitar o tempo de cada pessoa. Ter consciência dos ajustes necessários já é algo muito valioso.
É importante entender, em primeiro lugar, o que a pessoa deseja para si (por vezes, nem ela mesma sabe), se está conectada com sua verdade, e considerar que o outro também tem suas demandas. As pessoas só conseguem se engajar inteiramente no processo de transformação quando percebem, por conta própria, a razão de um sofrimento, de uma injustiça, ou de uma crise. Quando isso ocorre, é bem provável que alguma coisa mude dentro dela.
O Rebrander não apresenta soluções, ele ajuda a iluminar os caminhos para que a própria pessoa enxergue a melhor rota a trilhar. A saída é única e muito individual. Para fazer uma comparação um tanto poética, o Rebrander é alguém que, em uma noite estrelada, oferece um telescópio e um mapa celeste.
Ou seja, ele servirá como um guia para seu mentorado explorar o universo ao seu redor. Lembre-se: é sempre possível mudar de vida, alterar o modelo de trabalho, a rotina, e reinventar o futuro.
Acredite!
Trace planos. Eleja pequenas metas. Cumpra aquilo que prometer para si próprio.
Não pare jamais de fazer ajustes, e não tenha medo de recalcular a rota, quantas vezes for preciso. As marcas vivas e de sucesso não cessam o movimento.
Por Regina Nogueira, especialista em reposicionamento de marca e autora do livro “Você é uma marca! Descubra como usar o Personal Rebranding pode mudar a sua vida por meio das marcas“, que será lançado em outubro. É Pós-Graduada em Neurociência e Comportamento pela PUC- RS, Bacharel em Economia pela PUC-SP, Propaganda e Marketing pela ESPM e em Liderança pela Columbia University – NY. Atuou no mercado publicitário por mais de 20 anos, tendo ocupado cargos de liderança em grandes empresas e agências nacionais e multinacionais nas áreas de Atendimento, Planejamento, Marketing e Branding.
Ouça o PodCast RHPraVocê, episódio 78, “Quando é o momento de mudar de carreira (e como fazer isso)?” com Dani Verdugo, empresária, headhunter e CEO da THE Consulting e Hugo Capobianco, especialista de carreira da Consultoria Global LHH. Clique no app abaixo:
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