Introdução
Edgar Schein, principal estudioso da cultura organizacional, afirma que não existe cultura certa ou errada, melhor ou pior, a não ser em relação ao que a organização está tentando fazer e ao que o ambiente permite. Os elementos da cultura corporativa vão se estabelecendo à medida que dão resulta dos positivos, sendo, portanto, resultado de aprendizagem.
Quando uma organização obtém sucesso, as práticas adotadas – que são parte da cultura – são percebidas como corretas por seus membros e surge o desejo de mantê-las. Se a empresa fracassa, essas práticas são vistas como erradas e surge o desejo de mudá-las.
Em tais condições, este texto sustenta que, ao contrário do que afirma Schein, existe, sim, uma cultura organizacional ideal. A cultura ideal é baseada em conceitos aplicáveis a todas as organizações.
Elementos da cultura organizacional ideal
A cultura organizacional ideal caracteriza-se por dois elementos: ambiente de trabalho e estratégia.
Ambiente de trabalho
Em relação ao ambiente de trabalho, cultura organizacional ideal é aquela que cria e mantém um ambiente mentalmente sadio. Ambiente de trabalho mentalmente sadio, por sua vez, é aquele que promove a saúde mental dos trabalhadores.
Um ambiente de trabalho mentalmente sadio compõe-se dos seguintes elementos:
∙ Ética Pessoal e Empresarial – o ambiente é pautado pelo cumprimento dos valores morais;
∙ Relações humanas – o ambiente de trabalho baseia-se em práticas sadias de relações interpes soais;
∙ Motivação – baseada na Teoria dos Dois Fatores, de Frederick Herzberg. O ambiente de trabalho contém fatores higiênicos adequados e oferece fatores motivadores aos trabalhadores;
∙ Dinâmica do trabalho – todos os empregados possuem uma carga de trabalho e uma jornada de trabalho adequadas, bem como metas viáveis.
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Considerando que a manutenção de um ambiente de trabalho mentalmente sadio é uma obrigação moral da empresa, conclui-se que, em relação ao ambiente de trabalho, a cultura organizacional ideal é uma cultura ética. Isto exclui a cultura autoritária porque a cultura autoritária é antiética.
Estratégia
A partir do momento em que uma empresa é constituída e começa a operar, essa empresa, qualquer que seja ela, passa a ter um e apenas um problema: sobrevivência a longo prazo.
Para sobreviver a longo prazo, a organização precisa conceber e implantar estratégias competitivas. A concepção de uma estratégia, porém, não resulta de um processo lógico, mas sim, caracteriza-se como um ato de criatividade do estrategista. O que pode e deve ser planejado é a execução / implantação da estratégia concebida.
Os dirigentes empresariais acreditam que operários e técnicos são incapazes de ter ideias de natureza estratégica e, mesmo que venham a tê-las, devem esquecê-las porque não é essa sua função. Ocorre, porém, que a crença na incapacidade mental de técnicos e operários não corresponde necessaria mente à verdade.
Embora não seja razoável esperar que técnicos e operários proponham estratégias como fusão, aquisição ou venda de uma linha de produtos, é razoável, por exemplo, esperar dos funcionários de vendas e marketing propostas como novas estratégias de vendas, novos segmentos de mercado e até novos produtos, e dos funcionários da área de logística propostas como novas estratégias de distribuição.
As estratégias não devem ser concebidas e desenvolvidas apenas pelos “planejadores estratégicos”. Deve-se permitir que as estratégias apareçam a qualquer momento e em qualquer lugar da organização, tipicamente por meio de processos informais que devem necessariamente ser executados por pessoas em vários níveis e que estejam profundamente envolvidas nas questões específicas que estejam em discussão.
Essa deveria ser uma tarefa de todos os membros da organização e não apenas dos altos dirigentes. Todos os integrantes de uma empresa deveriam dedicar uma parcela de seu tempo à tarefa criativa que realmente determina a sobrevivência da organização a longo prazo: a concepção de estratégias competitivas.
Atualmente, a competição não ocorre de modo cadenciado, em bases anuais, mas continuamente, em ritmo acelerado, sem prazos pré-determinados. Em tais condições, uma empresa só conseguirá sobreviver a longo prazo se conceber e implantar continuamente estratégias capazes de lhe trazer vantagem competitiva. A finalidade dessas estratégias é permitir que a empresa:
∙ Mantenha ou aumente sua participação nos mercados em que atua;
∙ Crie novos mercados.
As metas deveriam servir apenas como referência destinada a estimular o que realmente importa: a criatividade e a concepção de estratégias competitivas. Para viabilizar esse objetivo, todos os membros da organização deveriam ser autorizados a dedicar uma parcela de seu tempo a essa tarefa.
Se a concepção de uma estratégia competitiva é um ato de criatividade, então a sobrevivência da empresa depende da implantação de uma cultura de inovação. Em relação à estratégia, portanto, a cultura organizacional ideal é uma cultura de inovação.
Conclusão
A cultura organizacional ideal é uma cultura ética e de inovação.
Por Flavio Farah, Engenheiro, Mestre em Adm. de Empresas (concentração em RH) e Prof. Universitário da área de Gestão de Pessoas e Comportamento Organizacional (20 anos de docência). Experiência profissional anterior como engenheiro de projetos, líder de equipe de projetos, responsável técnico, engenheiro de vendas, analista de processos e assistente de diretoria. Especialista em Ética Pessoal e Empresarial (mais de 20 anos de experiência). Autor dos livros “Ética na Gestão de Pessoas” e “Personalidade Autoritária: o caso do povo brasileiro” (30 anos de experiência no tema). Especialista em Erros de Gestão de Pessoas (mais de 10 anos de experiência). Articulista, palestrante e instrutor de treinamento.
Ouça o episódio 75 do programa “Vida Pessoal e Profissional: há limites?” do PodCast do RHPraVocê. Nesse episódio, o CEO do Grupo TopRH, Daniel Consani, e a editora do RH Pra Você, Gabriela Ferigato, conversaram com Tiago Petreca, diretor fundador e curador chefe da Kuratore – consultoria de educação corporativa, Country Manager da getAbstract Brasil e autor do Livro “Do Mindset ao Mindflow”, sobre as principais descobertas da pesquisa. Acompanhe clicando no app abaixo:
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