Uma pesquisa anual do Boston Consulting Group (BCG) feita em parceria com a Federação Mundial de Associações de Gestão de Pessoas (WFPMA, na sigla em inglês) revela que a escassez de talentos qualificados é considerada o principal desafio dos líderes de recursos humanos no Brasil.

De acordo com os dados, a falta de profissionais capacitados no mercado preocupa 71% dos líderes de RH no país. Mas essa é uma apreensão não é exclusivamente nossa, a média global para o mesmo índice chega a 72%. A edição atual da pesquisa, que é realizada desde 2008, contou com a participação de mais de 6.800 líderes de RH de todos os setores, em 102 mercados. 

Outro tema que desafia os respondentes brasileiros é a transformação digital do setor, que foi citada por 53% deles e é vista como o segundo maior obstáculo no país, mesmo valor da média mundial. Esse fenômeno é especialmente atribuído ao rápido avanço da inteligência artificial e à crescente necessidade da integração de dados nos processos de recrutamento e seleção.

Inteligencia artificial

“Independentemente da região do globo, a introdução de novas tecnologias na operação do RH muitas vezes requer investimentos e uma mudança cultural significativa, e isso se mostra bastante desafiador. Porém, depois de anos difíceis no ambiente empresarial, enxergamos que as inovações tendem a ser adotadas com mais velocidade. O mercado sabe que elas serão cruciais para alcançar novos patamares de produtividade”, afirma Santino Lacanna, sócio e líder da prática de Pessoas e Organizações do BCG.

A lentidão no processo de digitalização também chamou a atenção entre os resultados da pesquisa. Apesar de a tecnologia ser crucial para a gestão de pessoas, habilidades digitais nas operações de RH continuam insuficientes em muitas organizações, tornando a transformação digital uma das principais prioridades das lideranças.

No Brasil, apenas 34% dos entrevistados afirmaram que o RH está usando dados e análises para antecipar os desafios de pessoas, e 37% afirmaram que o setor de recursos humanos está usando tecnologias digitais relevantes em suas operações.

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Mas não estamos fora da curva. As médias mundiais mostram que o avanço no uso de dados e tecnologias é um desafio de todas as nações. Globalmente, o índice de RH utilizando dados e análises é 4 pontos percentuais menor que no Brasil (30%). Já para o uso de tecnologias digitais, a média do mundo é 2 p.p. mais baixo (35%).

O uso de inteligência artificial está em crescimento contínuo e tem ganhado tração entre gestores, mas também se encontra em fase inicial de implementação. Apesar disso, outro estudo do BCG, “How Generative AI Will Transform HR”, deixa claro como a incorporação dessa tecnologia poderá trazer benefícios e chegar a gerar um aumento de produtividade de até 30% no RH quando há uma combinação certa entre maturidade digital e metas de IA bem definidas.

Superando desafios – as recomendações do BCG para líderes de gestão de pessoas

A pesquisa traz cinco principais recomendações que as lideranças devem adotar para lidar com os desafios de hoje e do futuro:

  • Utilize dados para planejar a oferta e demanda de talentos com precisão: O planejamento estratégico da força de trabalho é um desafio constante para a maioria das organizações. Embora os princípios fundamentais não sejam novos, a urgência de agir aumentou e a disponibilidade de insights baseados em dados mudou o cenário competitivo.
     
  • Aprimore a aquisição de talentos: Em um mercado onde talentos especializados são escassos, soluções digitais podem ajudar as empresas a se diferenciarem com base na experiência que oferecem aos candidatos, resultando em melhores taxas de sucesso de recrutamento e contratação de novos funcionários.
     
  • Invista na capacitação e reciclagem da força de trabalho atual: Desenvolver novas habilidades na equipe existente é muito mais econômico do que contratar novas pessoas. Além disso, a tecnologia em constante mudança confronta as empresas com a necessidade de atualizar continuamente as habilidades e capacidades de sua força de trabalho.
     
  • Desbloqueie valor por meio da inteligência artificial: A IA generativa tem o potencial de revolucionar processos de autoatendimento, aumentar a produtividade, personalizar experiências para clientes e construir ecossistemas de talentos baseados em dados. Os pioneiros já estão capturando valor com casos de uso ao longo de toda a cadeia de valor de recursos humanos.
     
  • Foque em gestão de mudanças e desenvolvimento organizacional: No âmbito dos comportamentos de liderança, gestão de mudanças e desenvolvimento organizacional, é essencial não subestimar o potencial transformador – e desafiador – da mudança. Com isso em mente, as organizações estão focando mais nos comportamentos de equipes de liderança inteiras do que de indivíduos.

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“O maior desafio das empresas hoje é olhar para frente e ter a capacidade de planejar o futuro a longo prazo. Em um ambiente empresarial de rápida evolução, as companhias precisam ser proativas e antecipar implicações de temas macro, como o avanço da IA, alterações climáticas ou questões geopolíticas. Integrar uma estratégia de inovação e priorizar tópicos críticos da força de trabalho são hoje elementos essenciais para garantir o sucesso organizacional.”, finaliza Santino. 

O estudo completo, em inglês, está disponível no site do BCG.

Por Redação