Por mais que folgar durante os jogos do Brasil na Copa do Mundo seja um desejo para muitos profissionais, é fato que nem todos têm tal luxo. Segundo uma pesquisa realizada pela Catho, por exemplo, 64% das companhias que não adotaram o home office como seu modelo principal de trabalho transmitirão os jogos do Mundial no escritório. 29%, por sua vez, liberarão os colaboradores pelo menos uma hora antes da partida – com o restante da escala sendo realizado a distância, após os jogos, a depender do horário.

A ausência das folgas não é motivo, porém, para que as organizações não façam da competição um fator para promover engajamento e melhorar o ambiente de trabalho. Especialmente depois dos anos de pandemia, que ainda deixam a sua marca na rotina corporativa, a Copa é uma ocasião oportuna para quebrar a rotina, descontrair e aproveitar o clima de união – afinal, mesmo quem não é tão fã de futebol acaba se envolvendo durante os jogos.

“Encaro esses grandes eventos esportivos como ocasiões propícias para capitalizar entusiasmo, reforçar o espírito de equipe e trabalhar na motivação dos times, fortalecendo o sentimento de pertencimento”, comenta Fernando Mantovani, diretor-geral da Robert Half para a América do Sul. “Essa edição do Mundial ainda carrega um diferencial por conta do período em que está sendo realizado, já que o fim de ano naturalmente carrega uma fadiga dos profissionais após longos meses de trabalho e entregas”, destaca.

De acordo com Oséias Gomes, fundador e CEO da Odonto Excellence, as empresas não precisam buscar caminhos complexos para desenvolver um trabalho de engajamento que realmente seja efetivo. Na companhia, por exemplo, a central conta com um espaço decorado e com um telão para que líderes e liderados aproveitem o momento de descontração. E os petiscos, é claro, não podem ficar de fora.

“Para muitas pessoas, acompanhar a competição significa, também, participar do famoso bolão entre os colegas de trabalho. É uma maneira divertida de assistir aos jogos e palpitar sobre eles. A Copa do Mundo é um excelente exemplo de que se pode criar um local de trabalho mais humanizado e interativo através de ações pontuais. Uma atmosfera divertida é a chave para manter as taxas de produtividade altas. Em vez de ignorar estes grandes acontecimentos mundiais, utilize-os a favor do seu negócio”, orienta.

Gomes salienta que os jogos da seleção também são um momento para que as empresas apostem na casualidade e façam com que o pré e o pós-jogo, mesmo em expediente, sejam conduzidos de modo leve. “Deixamos a criatividade fluir [para que a decoração do espaço seja realizada] e autorizamos os colaboradores a usarem roupas mais casuais nos dias de jogos, como uma camiseta nas cores do Brasil e outras peças e acessórios”, diz.

Já no Grupo Nexxees, holding de soluções tecnológicas, tem até campeonato de videogame. A empresa de Florianópolis (SC) entrou no clima do maior torneio entre seleções do mundo com uma competição temática de FIFA. A ideia partiu dos próprios colaboradores e foi bem recebida e implementada pelo time de Gente & Gestão e pela Diretoria, que constantemente buscam por ações para tornar o dia a dia da equipe mais leve e feliz. 

As disputas virtuais acontecem durante o horário de trabalho, geralmente logo após o almoço ou no final da tarde, sempre antes de encerrar o expediente. Os colaboradores na filial de São Paulo e aqueles que trabalham em home office também podem participar e jogar online, a depender da quantidade de inscritos. Este ano, a final do torneio está prevista para o dia 16 de dezembro. O campeão será presenteado com uma camisa oficial da seleção brasileira, o vice com uma bola oficial da Copa e o terceiro colocado com um voucher de R$ 100 do iFood.

“Propor pausas e momentos de descontração para integração de nossos colaboradores é algo que faz parte da cultura do Grupo Nexxees. O campeonato de videogame se tornou um momento de integração e celebração para todos nós, além de ser uma excelente oportunidade para esquecer as preocupações e voltar mais motivado para a rotina de trabalho. A Copa do Mundo potencializa esses sentimentos”, explica Edson Silva, fundador e atual membro do Conselho Executivo do Grupo Nexxees.

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Home office também engaja

Uma enquete da Robert Half no LinkedIn contou com quase 1,9 mil profissionais para entender como eles gostariam que sua empresa agisse durante as partidas do Brasil no Mundial do Catar. Por mais que as confraternizações tenham sido citadas por 8% dos entrevistados, além de 4% apoiarem eventos remotos ou híbridos, a flexibilidade de horário e o home office estão no topo dos desejos, sendo a meta de 70% dos participantes. 18% manifestaram que não se importam com a Copa do Mundo.

“As confraternizações têm um potencial muito grande de engajamento, principalmente para as organizações que não podem liberar seus times durante um dia inteiro de trabalho ou não têm estrutura para o trabalho a distância. Para aquelas que têm essas opções, ouvir os colaboradores é fundamental. Tão legal quanto acompanhar a Copa com os colegas de trabalho é poder assisti-la com familiares, amigos, vizinhos e outras pessoas. Tanto as ações em escritório quanto as flexibilização são válidas e nada é melhor do que entender o que fará as pessoas mais felizes, respeitando, claro, os limites que a empresa possui”, salienta Agnaldo Silva, consultor de RH.

Na visão de Mantovani, uma vez que o engajamento é resultado do esforço contínuo de lideranças em relação aos liderados, a Copa pode ser um ponto de partida para a construção de um relacionamento mais próximo. Além disso, dentro de um contexto geral, algumas ações podem fazer a diferença para que os líderes motivem cada vez mais os seus funcionários:

  • Saber ouvir: dedicar tempo e atenção ao que os colaboradores têm a dizer, seja sobre a empresa ou sobre eles mesmos, é fundamental para criar uma conexão mais significativa. O vínculo favorece o engajamento;
  • Incentivar o protagonismo: abrir espaço para que os funcionários apresentem ideias e soluções, com maratonas da inovação (hackathons), por exemplo, é um excelente caminho para instigar e valorizar participações nos negócios;
  • Oferecer recompensas: proporcionar viagens, presentes, cursos, folgas e outros tipos de reconhecimento para colaboradores que se sobressaem pelo alto desempenho, estimula todos a darem o melhor de si;
  • Definir um plano de carreira: a certeza de que é possível aprender, se aprimorar e evoluir dentro de uma organização faz toda a diferença no nível de compromisso que se tem com ela.

“Não existe uma fórmula certeira. Cada segmento, área, empresa e equipe contam com especificidades que devem ser avaliadas antes de qualquer decisão. Reforço que um ponto fundamental para o acerto é, sem dúvidas, ouvir os funcionários sobre as expectativas em relação ao campeonato e pensar em ações que agradem à maioria. É muito importante não cair em generalizações. Pressupor que todo brasileiro é apaixonado por futebol ou que, dado o contexto em que estamos, o esporte não esteja no topo da prioridade das pessoas, não é uma boa ideia”, completa Mantovani.

Capa: Via Depositphotos

Por Bruno Piai