Na manhã da última terça-feira (29), aconteceu em Barueri (SP), no espaço da Merck S/A, o HR Trends, primeiro encontro do ano promovido pela Organização Internacional de Direitos de Capital Humano, a DCH.

O evento marcou a presença de um time de gala formado por gestores de pessoas e contou com auditório lotado para prestigiar as palestras e a mesa de debate, além, claro, de colocar o networking em dia.

O RH Pra Você acompanhou o encontro e traz tudo o que aconteceu de melhor em cada uma das atrações do HR Trends. Confira:

VII Barômetro DCH de Gestão de Talentos na Espanha, Portugal e América Latina-EAE

Depois das boas-vindas iniciais, dadas por Salete Beltrão, Consultora de Desenvolvimento Humano e Organizacional na Inova&ação Gestão de Recursos Humanos, Edise Torreta, Diretora de RH Latam na Merck, e Danielle Arraes, Vice-Presidente de RH da Puratos e Presidente do Conselho de Administração DCH Brasil, foi a própria Salete quem assumiu o palco para trazer dados do VII Barômetro da DCH de Gestão de Talentos.

Segundo a embaixadora da DCH, “a pesquisa é baseada no olhar dos líderes de capital humano”. Realizado em 2022, o estudo é concentrado na experiência do colaborador.

Em primeiro momento, o levantamento revela que há um olhar mais dedicado para incorporação de programas de talentos jovens. 67,65% das empresas têm tal iniciativa. Apenas pouco mais de 27%, por sua vez, têm um programa para trazer a população sênior.

Quando falamos do mercado europeu, há uma questão de senioridade muito forte. É bem diferente da realidade do Brasil e de alguns países da América Latina. Há muitas pessoas seniores disponíveis no mercado de trabalho europeu. Países como Portugal, por exemplo, estão trazendo profissionais de outros países para rejuvenescer sua mão de obra e movimentar a economia. Já aqui no Brasil, estamos discutindo a inclusão do público 50+”, destacou.

Salete Beltrão

Questionadas sobre os fatores que as tornam mais atrativas para os trabalhadores, as organizações responderam, em sua maioria (62%), que o aspecto mais preponderante é a carreira.

A marca da empresa e os modelos de trabalho flexíveis completam o topo da agenda, segundo os líderes de Recursos Humanos. Enquanto isso, na outra ponta, as instalações do negócio ostentam o menor potencial de atração.

Outro dado trazido pela especialista diz respeito ao foco das companhias para 2023 em relação à inclusão. “39,75% estão concentradas em uma política de diversidade de gênero, 27,88% em inclusão de pessoas com deficiência, 17,77% estão focadas em diversidade geracional a apenas 14,6% em políticas de diversidade cultural.

“Do que acompanho do mercado europeu, é uma tendência de anos atrás começar a dar uma atenção à diversidade de gênero, mas ainda há um longo caminho a ser trabalhado”, disse.

Preparando uma organização baseada em habilidades

Com toda sua expertise em tecnologia, Daniel Uehara, Gerente de Produtos da Oracle, trouxe em sua palestra importantes insights sobre o quanto o trabalho em prol do desenvolvimento de skills é fundamental para o crescimento das organizações.

O profissional abriu a conversa trazendo uma reflexão voltada a uma frase de Tiago Matos, cofundador da Aerolito, que diz que “quem não pensa sobre o futuro, resolve o presente com as ferramentas do passado”.

Ao se apegar àquilo que o passado oferece, de acordo com Uehara, a resolução de problemas tende a ser ineficiente, o que justifica que, de tempos em tempos, líderes e RHs se utilizem do “ócio criativo” para pensar mais a frente.

“Estamos vendo um movimento natural, até por conta da complexidade envolvida no mundo conectado, que traz desafios. Como eu atraio ou mantenho um talento, por exemplo, com base só na descrição de um cargo? O mundo mudou, as referências mudaram e temos que começar a caminhar para a direção das mudanças”, salientou Uehara.

Daniel Uehara

No seguimento da palestra, o gerente salientou que para alcançar objetivos traçados tanto de carreira quanto de resultados, é fundamental ter um olhar atento às habilidades atuais. Olhar para as skills até mais do que para as experiências em si pode ser um catalisador para diminuir a pressão sentida por resultados, pois de tal modo atinge-se mais facilmente o estado de flow, que remete à capacidade das pessoas sentirem mais prazer e foco no que estão realizando.

Se focamos nas skills, conseguimos ter um olhar melhor para identificar os gaps e supri-los, inclusive com o trabalho do desenvolvimento interno”, elucidou o especialista.

Para Uehara, é responsabilidade das empresas encontrarem mecanismos que permitam que o colaborador possa “atualizar o seu perfil”, ou seja, ter suas habilidades sempre atualizadas, em um processo de upskilling e reskilling. Tudo isso de forma acompanhada para que, com auxílio da tecnologia, os RHs possam ter acesso a um banco de talentos atualizado e qualificado.

Mesa Redonda: HR Trends

Sob o comando de Fernando Ceglio, Diretor Consultor de RH da Ackermann, a mesa de debate teve a presença de Willian Katayama, Gerente Sr. de Employer Branding na Telefônica Brasil, Maria Castroviejo, Head de RH da Acciona e Douglas Pereira, Vice-Presidente de RH da Volkswagen do Brasil.

No embalo dos questionamentos e das provocações de Ceglio, a mesa trouxe vários assuntos, desde a saúde e o bem-estar até o desenvolvimento de programas de diversidade & inclusão.

Katayama acentuou que na Vivo há uma atenção especial para a experiência do colaborador. “Olhar a experiência do colaborador como gostaríamos de olhar a do cliente é muito importante para nós. Vemos isso de forma ampla, entendendo o profissional de forma humanizada por completo. Questões de saúde e bem-estar são primordiais. Temos, hoje, um pós-pandemia que tornou esse tema ainda mais importante. Junto com D&I, são temas centrais para trabalhar com talentos”.

Já de acordo com Maria, cuidar das pessoas passa, também, por envolvê-las nos projetos empresariais. Além de ser um estímulo para se desenvolverem e conhecerem a fundo as práticas do negócio, é uma dinâmica importante para que elas se desenvolvam e tenham um outro olhar para sua carreira.

“Oferecemos programas, acompanhamentos, testes, avaliações, tudo para acompanhar o desenvolvimento de carreira dos nossos project leaders. Como toda empresa de engenharia e tecnologia, a gestão do conhecimento não pode deixar de lado a parte técnica. É muito importante a compreensão de novas soluções e sempre inovar nas metodologias de trabalho. Tudo isso agrega competitividade. Anualmente é feita uma pesquisa de clima para entender como nossos colaboradores estão e o que eles precisam.”

Mesa de debate

Da esq. para dir.: Fernando Ceglio, Willian Katayama, Maria Castroviejo e Douglas Pereira

Atuante no segmento da mobilidade, Pereira sabe o quanto a transformação dos últimos anos foi impactante, tanto por tudo que a pandemia trouxe, quanto também pelos novos hábitos das pessoas. Para ele, mais do que nunca os RHs devem olhar assertivamente para as pessoas.

“É preciso olhar para frente e ser muito assertivo como RH ao se falar de talentos. Qual é o talento que preciso para fazer a virada de chave? Seja atraindo pessoas ou desenvolvendo-as, essa assertividade na gestão de talentos é o que levará a empresa a uma direção estratégica. Além disso, diversidade e inclusão geram resultado e geram impacto. Nosso segmento é muito masculino, então temos buscado acelerar os perfis diversos na organização”, pontuou.

O impacto social como estratégia de bem-estar

Head de Pessoas e Cultura da Betterfly, Virginia Vairo destacou em sua apresentação o quanto é cada vez mais importante que o mercado de trabalho tenha um olhar mais humano e social – uma visão que se estende para fora das organizações.

“Estamos em um momento de crise. Pandemia, bancos quebrando, guerras acontecendo. Sabemos que isso impacta fortemente o mercado de trabalho e a atuação das pessoas no mercado. É preciso aprender muitas coisas novas e esquecer velhos hábitos. Mas as pessoas estão exaustas. Por outro lado, temos, graças à ONU, uma geração de compromisso entre as empresas para trazer um olhar mais completo para lidar com esses impactos”, comentou.

Desde que a companhia – cujo propósito foi apresentado pela própria Virginia em episódio do RH Pra Você Cast – mostrou ao mercado que é possível fazer do trabalho com a própria saúde um mecanismo para mudar também a vida do próximo.

Virginia Vairo

Inúmeras doações foram realizadas para as mais diversas instituições à medida que os usuários do aplicativo da Betterfly realizaram mais de 179 milhões de passos em corridas e caminhadas (equivalente a três voltas ao ao mundo), 59 mil minutos de meditação e quase mil sessões de terapia.

“O bem-estar é uma preocupação global e um dos objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU. Por trás de qualquer movimento das empresas, temos a saúde das pessoas. Estudos dizem que daqui alguns anos não teremos pessoas disponíveis para trabalhar por uma questão de exaustão.”

Na Betterfly, três pilares que movem a empresa são pessoas, tecnologia e a jornada de impacto. Nesse sentido, os recursos digitais são essenciais para a potencialização de um trabalho humano e que coloca os indivíduos no centro do negócio e das ações. “A tecnologia traz os dados e as ferramentas para que consigamos tomar as melhores decisões”, compartilhou.

Guerra global pelo talento

Finalizando a manhã de evento, Marcelo Pirani, Sócio-Diretor na Cenarium Training, fez do público um protagonista de sua mesa de debate. Em diversos momentos, ele pediu à plateia que compartilhasse cases, processos administrativos e relatos sobre sua rotina e visões de mercado.

Em clima de total descontração, Pirani, durante a interação com as pessoas, pediu para que duplas fossem formadas e para que um dos envolvidos em cada uma delas fechasse suas mãos. A missão do(a) parceiro(a) era a de fazer seu par abrir a mão, utilizando-se de qualquer argumento necessário.

O teste de persuasão, que teve sucesso para alguns e não deu certo para outros, trouxe a conclusão, por parte do executivo, de que muitas vezes não conseguimos ter poder de convencimento porque buscamos soluções práticas e viáveis para nós, mas pouco atraentes ou significativas para a outra parte, algo que RHs e líderes vivem na prática.

Marcelo Pirani

Em outro momento do debate, Pirani tocou no ponto da retenção. O termo, tão popular no mercado, é muitas vezes mal interpretado e acaba se tornando mais um problema do que uma missão que gera valor às empresas.

“Vou dar um exemplo um pouco exagerado. Por que retemos os nossos animais de estimação? Muitas vezes pelo carinho. Quando levamos isso para o que a liderança vê, ela diz que as pessoas se desligam por conta do salário – dado trazido no barômetro. Mas o salário é o básico. O que vem depois é o que assusta, olhar para o que faz as pessoas quererem estar nas empresas”, explicou.

Por fim, Pirani ressaltou que, por mais que a tecnologia agregue na rotina das empresas, muitas vezes a falta de conexão entre as pessoas é pouco percebida pelas organizações. “Eu ouço e vejo pouco nas empresas um ‘como você está?’ ou um ‘confio que você dará o seu melhor’. Cobramos as pessoas, mas não mostramos que confiamos nelas.

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Por Bruno Piai