A pesquisa global da JLL, “Workforce Preferences Barometer”, realizada com mais de 4 mil pessoas em 10 países, aponta que as questões financeiras saíram do primeiro lugar das prioridades antes da pandemia para a terceira posição em abril de 2022.
No topo da lista, agora estão a qualidade de vida e o equilíbrio entre vida profissional e pessoal, apontados por 59% dos colaboradores. Trabalhar em uma empresa que garanta a saúde e o bem-estar de seus funcionários divide o pódio, também com 59%, tendo subido 15% no último ano.
O levantamento mostra que 25% das pessoas reconsideraram o papel do trabalho em suas vidas durante a pandemia e 71% querem trabalhar em corporações que promovam ativamente um estilo de vida saudável, seguro e focado no bem-estar. Assim, 74% relatam que pediriam demissão em busca de mais flexibilidade e equilíbrio.
Segundo Monica Machado, psicóloga fundadora da Clínica Ame.C, a pandemia e suas consequências no universo dos negócios mostraram a necessidade de repensar e aprender a se desapegar de valores que já estão ultrapassados.
“Priorizar a qualidade de vida nada mais é do que se respeitar, tanto fisicamente quanto mentalmente, gerando boas condições para desempenhar suas tarefas profissionais e pessoais”, afirma a psicóloga.
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Como ter sucesso na carreira sem prejudicar a saúde mental
De acordo com a psiquiatra Danielle H. Admoni, preceptora na residência da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM) e especialista pela ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), é possível aliar carreira de sucesso com qualidade de vida.
“O ser humano tem a tendência de esperar que as coisas melhorem por si só, gerando expectativas irreais. O problema é que a expectativa vira uma exigência e esquecemos que não podemos controlar nada, nem ninguém. É preciso ter em mente que você também pode ser responsável por mudanças em sua vida, sem precisar depender de outrem. Essa nova forma de pensar neutraliza as emoções negativas e faz com que seja possível se relacionar ou atuar em determinadas situações com menos pressão interna e mais equilíbrio emocional.”
Um estudo da Universidade Duke, nos Estados Unidos, pontua que os hábitos são responsáveis por 40% da nossa rotina e das tomadas de decisões. Porém, uma pesquisa publicada na revista científica Biological Psychiatry mostrou que o estresse reduz a capacidade do indivíduo de lidar com adversidades.
“Claro que não existe uma fórmula universal que funcione para todas as pessoas, afinal, cada indivíduo é único e tem recursos e situações particulares. Mas, é possível se reinventar, elencar suas prioridades e fazer escolhas certas, sem correr riscos mal calculados em nenhuma das esferas de sua vida”, diz Monica.
Confira as dicas das especialistas:
Defina suas prioridades
A primeira pergunta a ser respondida é: o que eu quero alcançar na minha vida profissional e na minha vida pessoal? A segunda é: quais são as atividades que eu desempenho diariamente na minha rotina profissional e no meu trabalho?
Responder às questões propostas não é simples e nem mesmo rápido, e exige que o indivíduo esteja disposto a ir fundo nessa atividade. Liste as coisas que faz, os papéis que desempenha e analise sua agenda de compromissos para identificar onde seu tempo está, de fato, sendo empregado.
Sem essa base de informações precisas, fica muito difícil estabelecer as prioridades, porque, para isso, é preciso separar suas atividades em três grupos:
(1) Atividades que podem ser desempenhadas por outras pessoas.
(2) Atividades que são puros “ladrões de tempo” e que devem ser eliminadas.
(3) Atividades que só podem ser realizadas pelo próprio indivíduo.
Evite ser centralizador
Saber delegar ou compartilhar funções é fundamental, pois nem sempre é possível realizar tudo sozinho. E ainda que você consiga, é bem provável que comprometa a qualidade das tarefas, além de te causar uma exaustão desnecessária.
Quebre crenças limitantes
As crenças limitantes que todos têm, embora em diferentes intensidades, são as grandes responsáveis por impedir a expressão de todo o potencial que há no indivíduo.
“Portanto, quebre o ciclo do ‘pensamento impostor’, tenha consciência de suas habilidades, reconheça que capacidades se desenvolvem, mas que novos desafios sempre vão criar um certo nível de tensão interna, o que não significa que você não esteja à altura da tarefa”, pontua Danielle.
Desenvolva resiliência
Resiliência passa por fortalecer nossas qualidades pessoais e agir diante das adversidades com foco em nosso poder de atuação. É preciso cultivar um modelo mental com espaço para uma visão positiva da vida, entrar em contato com as emoções e avaliar se suas escolhas alimentam os problemas ou agem de forma coerente à solução que se busca.
Não tema o julgamento alheio
A autenticidade requer coragem, pois exige de nós aceitar nossa personalidade, nossas falhas e vulnerabilidades. É ter a força para abraçar quem realmente somos, desapegar das comparações e dos paradigmas de quem achamos que devemos ser. Nada vale mais a pena do que trazer ao mundo o que realmente temos para dar. Ser coerente com nossa verdade nos proporciona liberdade, verdade e plenitude.
Reserve um tempo para o descanso e para si mesmo
No modelo de vida atual, a quantidade de coisas que nós mesmos exigimos vai além do que se pode aguentar. E quando não damos conta de tudo, nos sentimos frustrados. Acorda no dia seguinte já se programando para fazer ainda mais e melhor. E a simples ideia de uma pausa se torna cada vez mais impensável.
“Como seria se você se permitisse fazer menos e incluir momentos de descanso em sua jornada? Períodos de desconexão são essenciais para o bem-estar. Esquecer um pouco o checklist, olhar para si mesmo e fazer algo que não esteja vinculado a responsabilidades, mas ao prazer, ao conforto que tanto lhe falta. Sua mente ficará mais descansada e até mais produtiva”, ressalta Monica.
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Tenha autocompaixão
O perfeccionismo e a autocrítica geram um círculo vicioso. Passamos a viver na ansiedade de uma vida e atos perfeitos, tentando nos proteger das situações capazes de expor nossos defeitos ao mundo. Quando entendemos que a perfeição não existe e nos acolhemos exatamente como somos, com o pacote completo, conseguimos nos perdoar, atuar com autocompaixão e pedir ajuda quando precisamos.
“Nos casos em que o esgotamento chegou ao limite, é fundamental buscar auxílio médico especializado para avaliação do quadro e orientação quanto ao tratamento. Especialmente no caso das pessoas cujas características de personalidade as tornam mais propensas ao Burnout, a psicoterapia é um complemento importante, pois o problema está, muitas vezes, dentro da pessoa, e não tanto em suas condições de trabalho”, finaliza Danielle Admoni.
Por Redação