A síndrome do esgotamento profissional, mais conhecida como Burnout, afeta milhões de pessoas pelo mundo e é reconhecida como doença ocupacional pela OMS (Organização Mundial da Saúde). Só no Brasil, dados da ISMA-BR (International Stress Management Association) indicam que 30% dos mais de 100 milhões dos trabalhadores do país são ou já foram vítimas do problema. Para os gestores de empresas, é fundamental entender e saber identificar essa condição para garantir um melhor ambiente de trabalho e o bem-estar dos funcionários.

“Será que podemos contribuir para evitar o Burnout? A boa notícia é que podemos aprender os sinais mais sensíveis dessa doença, muito antes que o quadro se agrave. Dessa forma, temos a chance de alertar líderes na empresa, familiares e amigos para encaminhar o caso, quando necessário, a especialistas como psicólogos e psiquiatras”, afirma psicólogo Luiz Edmundo Rosa, diretor da ABRH Brasil, com foco em Saúde Corporativa, e coordenador do CONARH SAÚDE, evento que será realizado no próximo dia 23, em São Paulo.

A síndrome não é uma exclusividade das grandes empresas, que convivem, muitas vezes, com o estigma de serem ambientes de trabalho com maior pressão. Um estudo da Capterra, empresa que realiza comparações entre softwares, revelou, no ano passado, que mais de 70% dos colaboradores em home office de pequenas e médias organizações manifestaram sintomas da doença ocupacional.

Burnout se torna doença ocupacional

O diretor explica que o Burnout é uma forma de desequilíbrio mental grave, mas cada vez mais comum. Ele ocorre pela incapacidade de uma pessoa perceber e reagir corretamente às alterações em seu estado mental. Contudo, é possível afirmar que também pode haver inaptidão de sua família, amigos e colegas, uma vez que não foram capazes de ver ou de agir a tempo, para evitar que essa síndrome se agravasse.

O Burnout pode causar sérios danos psíquicos e sociais, difíceis de serem resolvidos, tanto pela pessoa, como por todos de sua convivência. Depois que a crise eclode, o tratamento pode ser longo e com um elevado custo emocional e financeiro.

Veja mais: O que mudou nos direitos trabalhistas de quem tem Burnout?

Afastamentos aumentam

O número de afastamentos do trabalho motivados por problemas de saúde mental cresceu 30% de janeiro de 2020 a abril de 2022, de acordo com um levantamento realizado pela Closecare, empresa focada em gestão de atestados médicos e saúde corporativa. A análise foi feita com cerca de 480 mil atestados cadastrados na plataforma e considerou quadros específicos, como episódios depressivos, ansiedade e estresse

Os gastos envolvendo esses transtornos são altos para as empresas, pois cada atestado médico custa em média R$ 1.293, e a expectativa é que os custos com afastamentos de colaboradores envolvendo saúde mental cheguem a R$ 5 bilhões até o final de 2022. Esses dados evidenciam a gravidade do problema que tem se tornado um desafio para as organizações e, ao mesmo tempo, motivado a ampliação de investimentos em programas de saúde, bem-estar e capacitação dos colaboradores para lidar melhor com a saúde emocional.


Um estudo lançado pela Microsoft revelou que os brasileiros são os que mais relataram a sensação de Burnout durante a pandemia. O fator mais estressante foi a impossibilidade de se distanciar do trabalho, o que só fez crescer os índices da enfermidade. Como o RH pode trabalhar para lidar com tal situação? Quais são os limites para que a rotina laboral não leve os colaboradores ao extremo?

Para falar sobre, Daniel Consani, CEO do Grupo TopRH, conversou com Renata Tavolaro, Head de Psicologia da OrienteMe, Alexandre Ullmann, diretor de RH no LinkedIn e Marina Tavares, gerente de Saúde & Bem-Estar da GSK. Confira:


Apoio psicológico, especialistas em atividade física e a prática da meditação são algumas das iniciativas que as empresas têm aderido com o objetivo de cuidar da saúde mental dos profissionais. “Atividades como essas são ferramentas importantes para a prevenção do adoecimento emocional, e também atuam como coadjuvantes nos tratamentos psicológicos, uma vez  que, vários estudos científicos já comprovam a diminuição de sintomas como estresse, depressão e ansiedade”, explica Sueli Klemenchuk, psicóloga da MINDSELF. 

A preocupação dessas empresas não é por acaso, pois o Brasil tem cerca de 11,5 milhões de pessoas que sofrem com a depressão e é o país mais ansioso do mundo, segundo dados da OMS. (Organização Mundial da Saúde). “Os problemas com a saúde mental são uma questão grave que precisa do apoio de toda a sociedade, por isso as organizações estão começando a voltar os seus olhares para essas questões”, sinaliza Alexandre Ayres, sócio-fundador da MINDSELF.

Veja mais: Burnout e o nexo causal com o trabalho

Sinais não podem ser ignorados

Os sinais que antecedem a uma crise podem ser identificados numa escala de gravidade, medida pelo aprofundamento do quadro, que vai agregando sintomas cada vez mais sérios.

“Alguns sinais são mais fáceis de serem percebidos. Outros, entretanto, são mais difíceis de detectar e a pessoa afetada pode não ter consciência do que está acontecendo, exigindo uma observação mais refinada, o que inclui desde um diálogo amigável a uma consulta com um profissional”, explica Luiz Edmundo. 

São muitos os indícios de alerta. Confira, abaixo, 12 pontos que são muito comuns e podem ser suficientes para indicar a necessidade de um processo de ajuda. O risco do Burnout cresce com a persistência, progressão e combinação desses indicativos. Os sinais foram colocados numa escala de risco, divididos nas cores amarelo (leve), laranja (moderado) e vermelho (grave).

https://materiais.rhpravoce.com.br/ebook-saiba-como-a-pandemia-afetou-o-mercado-de-trabalho

Zona Amarela
  • Elevação da ansiedade

Viver em ansiedade é algo normal em nossas vidas, mas quando ela cresce em demasia, e assim permanece, é um sinal de que algo não vai bem.

  • Aumento da irritabilidade

A forma alterada das pessoas reagirem, fora do esperado, com respostas bruscas e agressivas.

  • Alteração do nível de energia

Alguns passam a chamar a atenção pelo excesso de energia e agitação. Outros vivem o oposto, demonstrando cansaço e pouca motivação. Ficam mais quietos e isolados, rejeitando convites de amigos e colegas.

  • Falhas de memória

É o caso de pessoas que começam a se esquecer de horários e compromissos anteriormente assumidos.

Zona Laranja
  • Transpiração excessiva

Quando a transpiração ocorre acima do normal, e se torna frequente, isto pode indicar que o colaborador está sob tensão. Ou seja, pode indicar um nível elevado de estresse e dificuldade para relaxar.

  • Insônia crônica

A perda regular do sono é uma séria ameaça à saúde e precisa ser logo corrigida. Podemos perceber os sinais de cansaço, olheiras, olhos avermelhados, bocejos frequentes e irritabilidade.

  • Alteração de Peso

Alguns sob estresse elevado, passam a comer descontroladamente e logo ganham peso. Contudo, há outros que perdem o apetite e emagrecem.

  • Taquicardia e pressão

Sob forte tensão, os batimentos cardíacos e a pressão arterial se elevam a ponto de alguns registrarem taquicardias abruptas e desconfortáveis. Um dos sinais é se sentir cansado e suar em demasia.

Zona Vermelha
  • Angústia profunda

Indica desconforto generalizado e indefinido com a sensação de vazio ou de que algo grave vai acontecer, respiração ofegante, falta de ar e calor.

  • Sentimento de desesperança

Acontece quando alguém sofre de um conjunto de fatores negativos e persistentes, como angústia, insônia, estresse, sensação de cansaço e a desesperança se aprofunda.

  • Perda do sentido da vida

Quando o nível de estresse se agrava e a autoestima cai, tudo pode parecer difícil e sem sentido. Em meio ao desânimo e à depressão, a pessoa muitas vezes verbaliza que sua vida não tem mais sentido.

  • Vontade de morrer

Se a depressão atingir um grau máximo, aprofunda a sensação de que não há saída, a não ser morrer. É um momento que exige ajuda urgente, pois o sofrimento pode ser insuportável, com alto risco de vida.

Por Redação