Aos funcionários homens, a legislação brasileira obriga as empresas a concederem cinco dias corridos a partir do nascimento do filho, e torna opcional a aderência ao programa federal Empresa Cidadã que estende o afastamento para até 20 dias. Na Youse, plataforma de seguros digital, o benefício de licença-paternidade estendida prevê 30 dias com a possibilidade de emenda com o período de férias e é voltado para homens, famílias com casais homoafetivos e pais não-consanguíneos. Com a iniciativa a empresa tem observado uma mudança na consciência sobre a parentalidade, com pais que assumem ou passam a estar mais próximos do cuidados dos filhos.
Se dedicar aos gêmeos recém-nascidos, Gustavo e Eduardo, em tempo integral foi um misto de privilégio e desafio para o pai de primeira viagem Alexandre Chagas, analista de sinistros na Youse. Ele aderiu ao benefício estendido oferecido pela empresa e cerca de 15 dias após o nascimento dos seus filhos, sua família toda foi infectada pelo coronavírus e ele precisou se dedicar integralmente aos bebês.
“Também tive covid-19, mas minha esposa, minha mãe e minha sogra precisaram ser internadas em diferentes semanas. Nessa situação, pude me dedicar integralmente aos cuidados dos meus filhos graças ao período de licença paternidade maior”, conta. “Felizmente, toda minha família se recuperou e meus filhos não tiveram nada. Nesses meus 50 dias em casa, pude reconhecer o quanto este benefício é fundamental, principalmente para a relação com o filho nesse começo de vida, além de não sobrecarregar a mãe, que já possui muitas responsabilidades maternas”, diz Chagas.
Esse é o mesmo sentimento de Rodolfo Peixoto, desenvolvedor na Youse. Pai de Dalila que possui pouco mais de um mês de vida. “Pela nossa sociedade, a carga fica maior para mulher, entretanto este é o momento de o pai ser ainda mais participativo porque esses primeiros dias exigem ainda mais cuidados”, pontua. Rodolfo também é pai de primeira viagem e desfrutou do período com bastante aprendizado. “Eu não tinha noção da importância de ter direito a mais dias. Agora acho esse benefício importante demais, pois permite uma participação muito ativa em todos os cuidados, além de estar com ela em todos esses primeiros momentos”.
Mais benefícios
Na Youse as pautas sobre igualdade de gênero e inclusão são temas abordados com constância e que fazem parte da cultura da empresa. “Somos uma empresa que estimula paternidade ativa e afetiva porque queremos pais que participem da rotina das crianças de maneira contínua e acompanhem de perto o crescimento das crianças, como as mães são estimuladas a fazer. Para isso, precisamos de práticas e benefícios para isso”, pontua Jorge Branada, consultor de recursos humanos na Youse.
A insurtech estuda a possibilidade de seguir o exemplo de outras empresas para conceder a licença-paternidade equivalente entre funcionários homens e mulheres, sem distinção. “Atualmente o nosso benefício ampliado já contempla pais adotivos e casais homoafetivos, por exemplo. Mas queremos oferecer o mesmo período, contribuindo com a igualdade de gênero e auxiliando as mulheres”, acrescenta. A empresa concede até 6 meses para as funcionárias mulheres.
Branada acrescenta a importância de benefícios que vão além dos primeiros meses de vida, como home office, horários flexíveis, convênio médico para dependentes de até 24 anos, auxílio-babá por até seis meses e auxílio-creche de sete meses a sete anos. Também é enviado um kit para os recém-pais com alguns produtos de cuidados com o bebê. “São benefícios elogiados por nossos colaboradores que contribuem ao longo da vida do filho também”, acrescenta.
Paternidade na pandemia tem desafios e privilégios
Pais de primeira, segunda ou de muitas viagens lidam com sentimentos semelhantes como o de encontrar o equilíbrio entre prover, cuidar e participar. Com a pandemia, a rotina que antes se resumia somente aos jantares juntos muitas vezes, hoje é praticamente compartilhada em tempo integral entre pais e filhos.
O gerente de CSC da filial da multinacional italiana de recursos humanos Gi Group Brasil, Jean Lettiere, conta que, no início do isolamento, as mudanças necessárias foram desafiadoras. Mas, com o apoio da empresa, a transição se tornou mais rápida. “Meus filhos, Pedro (12) e Antonio (5) me perguntavam se eu não iria trabalhar e eu explicava que eu estava trabalhando, mas que não precisava estar presente na empresa”, conta. “De lá para cá, foi muito bom para estreitar os laços afetivos, principalmente porque nesta idade existem muitos ‘porquês’ e está sendo bem legal estar nesses momentos com eles”, completa Jean.
Para Fabrício Vallim, gerente internacional de vendas da Gi Group, a principal mudança foi equilibrar a convivência e as distrações que as crianças podiam causar. “O Matheus (8) entendeu desde o começo e é bem colaborativo, porém, a Isadora (4) às vezes participa de alguma reunião. Agora eu consigo vê-los pela manhã, almoçamos juntos e isso é maravilhoso. Até consigo participar das reuniões da escola, o que era impossível antes”, relata Vallim.
De acordo com uma pesquisa canadense feita com 1.019 pais pela Canadian Men´s Health Foudantion (CMHF), 40% deles consideram que a Covid-19 teve impacto positivo na paternidade, 52% estão mais conscientes de sua importância como pai e 60% se sentiram mais próximos de seus filhos.
No Brasil, com a vacinação em andamento, a tendência é que a volta aos escritórios aconteça de maneira gradual. Vallim acredita que é importante encontrar os colegas de trabalho pessoalmente para estimular a interação e a troca de ideias, ainda que defenda o modelo híbrido, para que possa manter a convivência com a família. “Devemos estar atentos aos resultados que produzimos, seja em casa ou no escritório, mas em todos os casos, quero continuar próximo dos meus filhos”, finaliza.
Por Redação