Já ficou para trás o conceito de que tecnologia e pessoas competem por espaço no mercado de trabalho. Embora seja verdade que os recursos tecnológicos cada vez mais avançados podem contribuir para a extinção de algumas ocupações, é igualmente fato que, para cuidar das pessoas e promover ações que atraiam, mantenham e desenvolvam talentos, a tecnologia é uma aliada fundamental. Do RH à gestão, um trabalho efetivo a favor da humanização carece do apoio automatizado.

“A tecnologia contribui para a redução de custos na medida em que agiliza os processos de gestão de pessoas, otimizando o trabalho da equipe de RH, que, além de mensurar mais rapidamente os resultados, ainda o faz com mais precisão”, ressalta o gestor Oséias Gomes, CEO e fundador da Odonto Excellence.

De acordo com o empreendedor, hoje, um dos principais desafios dos profissionais do setor de Recursos Humanos é atualizar o seu processo de gestão. Para ele, por mais que a área tenha assumido maior responsabilidade no trabalho de potencialização do bem-estar e da produtividade dos colaboradores, se desapegando da rotina unicamente operacional, a “nova fase” carece de ferramentas que auxiliem a aumentar a assertividade na obtenção de dados e resultados e, consequentemente, na tomada de decisões.

“Na área de gestão de pessoas, as novas tecnologias auxiliam, entre outros casos, na avaliação de competências, planos individuais, gestão de metas e planos de desenvolvimento para os funcionários. Outro ponto é o custo para a implementação das novas tecnologias, assim como a sua adaptação. É imprescindível a empresa desenvolver planejamento a longo prazo e treinar sua equipe para a realidade virtual”, destaca.

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Impacto na saúde mental

Na lista de prioridades do RH moderno, a saúde mental é um desafio que não para de crescer. O Brasil apresenta altos índices de casos de doenças e transtornos mentais, o que não exclui o ambiente de trabalho. Segundo a OMS, o Burnout, por exemplo, impacta 11,5 milhões de trabalhadores no país. A expectativa, de acordo com a entidade, é que até 2030 a síndrome seja a enfermidade mais comum em território brasileiro.

Gomes deixa claro que, por mais que as organizações tentem ser criativas para lidar com o problema, especialmente na oferta de benefícios como apps que conectam a psicólogos, práticas de yoga e meditação, entre outros, é preciso ir além. “Os aplicativos voltados para a saúde mental podem ser um aliado na promoção de um ambiente saudável, mas se existir a interconexão das tecnologias”, diz.

Oséias Gomes

Oséias Gomes, CEO e Fundador da Odonto Excellence

Em outras palavras, mais do que oferecer um benefício, é necessário gerar valor por meio dos dados. A tecnologia, por meio do big data, pode facilitar atendimentos, oferecer devolutivas mais completas e melhorar não apenas o suporte médico, como também o apoio que pode ser prestado pelo RH.

“Um exemplo: se tenho um relógio que identifica que o meu sono não é bom e consegue mandar essa informação para um aplicativo, uma vez que o médico acessá-la, isso trará mais valor. Isso vai enriquecer esse acompanhamento de atenção primária, tanto física quanto mental”, pontua.

Na Odonto Excellence, que conta com o SIS Odonto, uma solução que auxilia as empresas na proteção e obtenção de dados, e também no fortalecimento dos indicadores estratégicos, reduzir o estresse que o ambiente de trabalho pode proporcionar é uma prioridade, segundo o executivo. Ele explica que oficinas de leitura,  aulas de idioma e programação de software, cuidado com a alimentação e espaços para happy hour pós-expediente fazem parte da rotina da empresa. O cuidado com o bem-estar caminha junto com a oferta de propósito e desenvolvimento.

“Tenho ciência que a pandemia e o avanço das tecnologias mudaram o modus operandi nas empresas, que precisam se reinventar. Entretanto, temos que estar atentos que nem todos os trabalhadores estão preparados para atuar nesse ritmo. É preciso atentar ao excesso de informações, às horas excessivas de trabalho, ao maior tempo conectado por meio de dispositivos eletrônicos, às interações em demasia em redes sociais etc.”, acrescenta.

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Home office não é receita de sucesso

A crença de que trabalhar em casa garante mais felicidade e bem-estar é, por si só, perigosa. Embora estudos, como um recente da Sodexo, mostrem que os profissionais estão satisfeitos com a oportunidade de trabalhar remotamente (92% são favoráveis ao modelo híbrido, segundo o relatório citado), isso não significa que RHs e lideranças podem baixar a guarda para engajar e acompanhar a saúde emocional e ocupacional.

Ainda é comum que gaps sejam encontrados no trabalho remoto. Embora ele tenha ganhado força em 2020, a realidade ainda é de adaptação, com as empresas aprendendo a lidar com o dia a dia laboral fora de suas dependências. “Na minha visão, as empresas que aderiram ao home office ainda têm regras mal estabelecidas. Elas envolvem falta de planejamento, dispersão de foco, trabalho excessivo, má comunicação, entre outras situações”, diz Gomes.

O CEO relata, inclusive, que a cultura da valorização e do cuidado deve ser implementada nas companhias, especialmente aquelas que reconhecem que as pessoas são o que há de mais importante dentro delas. “Quando digo que as pessoas são parte necessária para um crescimento sustentável, me refiro a todos os participantes do ecossistema, dos colaboradores ao gestores”. Para trabalhar melhor os índices de estresse e outras doenças, presencial ou a distância, Gomes aconselha que alguns hábitos sejam rotineiros:

  • Valorizar os funcionários por meio de reconhecimento claro e genuíno e de feedbacks construtivos;
  • Dar voz para cada indivíduo;
  • Empoderar a equipe;
  • Fomentar grupos internos de apoio;
  • Criar áreas direcionadas à saúde mental;
  • Procurar parceiros que saibam como auxiliar nessa jornada.

“Diante de uma realidade tão singular, podemos não ter todas as soluções. Entretanto, os simples atos de ouvir, trocar ideias, disseminar boas práticas e demonstrar empatia são o ponto de partida para seguirmos mudando o jogo, nos reinventando na busca pelo nosso melhor a cada dia”, finaliza.

Por Bruno Piai