Chega ao fim nesta segunda-feira (7) a Semana do Aleitamento Materno, campanha que tem o objetivo de reforçar ações para que a amamentação não seja mais um tabu dentro do mercado de trabalho. Diante de casos recentes, a importância de reforçar a conscientização somente ganha força. Na cidade de Lagoa Santa (MG), por exemplo, desembargadores da 1ª Turma do TRT-3 deram ganho de causa a uma colaboradora que buscava a rescisão indireta do contrato de trabalho por não haver local adequado para amamentar a filha no espaço da empregadora.

Apesar dos esforços de campanhas como a citada acima, o Ministério da Saúde revela que ainda há uma longa caminhada para que as mães possam receber suporte após o final de sua licença-maternidade. Estima-se que, no Brasil, não mais do que 271 empresas tenham sala de amamentação para que as profissionais possam realizar a coleta e o armazenamento do leite. Tão grave quanto isso, outros dados revelam que 70% das mulheres são demitidas após o cumprimento da licença.

“As firmas não lidam bem com a maternidade, o que traz medo e ansiedade para as mulheres, medo de perder o emprego, comprometer a promoção e carreira. As empresas engajadas na jornada de DE&I são aquelas que priorizam a revisão das políticas parentais. Tudo em prol de um melhor acolhimento e promoção de equidade num momento tão especial. Além disso, é necessário investir em sensibilização e treinamento das lideranças e colaboradores para gerar a conscientização e engajamento”, pontua Leizer Pereira, CEO e fundador da Empodera, empresa que recentemente lançou o Guia de Políticas Pró-Maternidade, Paternidade e Parental.

Case do bem

A Organização Mundial da Saúde (OMS) e a UNICEF recomendam que o aleitamento materno seja o único alimento para bebês até os 6 meses de idade, sendo estendido, se possível, até os 2 anos ou mais em combinação com outros alimentos.

No entanto, essa é uma realidade apenas para 45,8% das crianças brasileiras, segundo dados do Ministério da Saúde. Mais do que um benefício aos bebês, de acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), mães que amamentam por até um ano tem risco 6% menor de desenvolver câncer de mama.

A amamentação é a forma pela qual as mães fornecem todos os nutrientes necessários para o bebê, contribuindo para o seu desenvolvimento e proteção contra doenças e alergias. Além disso, durante esse período, mãe e filho se conectam, criando a segurança necessária para estimular o bebê a crescer com confiança e explorar o mundo ao seu redor.

Agosto Dourado

A experiência do retorno ao trabalho após o nascimento de um filho pode ser um momento muito preocupante para as famílias, já que muitas têm dificuldade em amamentá-los pelo período recomendado. Segundo a OPAS, mais de 500 milhões de mulheres trabalhadoras em todo o mundo carecem de medidas adequadas de proteção à maternidade. Nesse sentido, as empresas também têm o papel de apoiar o aleitamento.

A Kimberly-Clark é uma das organizações engajadas na facilitação do dia a dia das mães trabalhadoras. Das mais de 1.400 mulheres do seu time geral de colaboradores no Brasil, 727 são mães. Nesse contexto, a companhia reforça sua cultura de flexibilidade para mães colaboradoras por meio de programa de acompanhamento materno, com uma enfermeira dedicada para a gestante, licença maternidade estendida de quatro para seis meses e salas de amamentação no escritório de São Paulo e na planta de Suzano.

Há também na empresa uma política de viagem a trabalho para lactantes com filhos de até 12 meses. Neste caso, se as mães desejarem viajar a trabalho, elas podem levar a criança e um acompanhante (com despesas pagas pela companhia), para apoiá-las e garantir que esse vínculo seja mantido.

“Acreditamos que todos os bebês merecem o melhor começo de vida possível e que a amamentação é a melhor maneira de fornecer essa base. Estamos empenhados em apoiar mães e famílias em sua jornada e temos orgulho de oferecer recursos para as nossas colaboradoras”, afirma Marina Yabor, Diretora de Recursos Humanos da Kimberly-Clark América Latina.

Agosto Dourado

Quem também entrou nas campanhas de conscientização sobre o aleitamento materno foi a Qualicorp. Além de destacar as iniciativas internas de apoio às colaboradoras que são mães, os dois prédios da empresa – Qualicity, no centro histórico de São Paulo, e Casa do Cliente, na Avenida Paulista – terão uma iluminação especial durante todo o mês, em referência ao Agosto Dourado, cujo propósito também é o de levar o assunto para o mercado e para a sociedade.

“Por meio do Programa Bem-Estar Quali oferecemos benefícios e ferramentas que ajudam a olhar para a saúde das mulheres, que representam 67% da Companhia. Dentre elas, 48% são mães. Entre a liderança, o percentual é ligeiramente maior: dos 311 líderes, 187 são mulheres, sendo 50% mães”, destaca Fernanda Mazzetto, superintendente de Pessoas e Cultura da Qualicorp.

Dentro da iniciativa de Bem-Estar foi desenvolvido o Programa para Gestantes, que oferece acesso a informações de saúde por meio de orientações e suporte para as mulheres no processo gestacional, com apoio ao aleitamento materno e, principalmente, à adaptação da rotina da mulher nesta fase até o primeiro ano de vida da criança. “Uma empresa que se preocupa com as colaboradoras transforma o ambiente de trabalho em um lugar mais seguro e empático”, analisa Fernanda.

Agosto Dourado Quali

Agosto Dourado: campanha marca a conscientização sobre a amamentação

Além do Programa para Gestantes, a Quali tem iniciativas para as colaboradoras com filhos, como licença-maternidade estendida para filhos biológicos ou adotados; flexibilização do home office para mães de recém-nascidos até a criança completar um ano; serviço de suporte emocional; sala de lactação em sua sede administrativa e na Qualicity; isenção da coparticipação para pré-natal e acesso gratuito a aplicativos de saúde. 

O processo de amamentação é único e exclusivo para cada mãe e a busca por informações é fundamental, avalia Priscila Brito, analista de Antifraudes da Qualicorp e mãe da Lis, de 7 meses. “É o meu momento de conexão com a minha bebê. No início foi difícil, fisicamente falando, pois há um período de adaptação do corpo. Busquei me informar bastante para me preparar para esta fase”.

Outra beneficiada foi Nataly Padovezzi, analista de Produtos e mãe da Beatriz, de 7 meses. “Eu pretendo continuar amamentando pelo menos até minha filha completar um ano e estava muito preocupada sobre como seria tendo que retornar ao presencial, porém, graças ao home office, estou conseguindo conciliar o trabalho e continuar amamentando. Também tive apoio da assistente social da Companhia para que pudesse lidar com esse desafio”, diz.

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Boas práticas devem ser inspiração

Para Leizer Pereira, empresas verdadeiramente preocupadas com o bem-estar e a saúde das novas mamães podem dar segmento em algumas iniciativas para fortalecer suas políticas de cuidado. Entre elas, estão:

  • Revisão completa da política de maternidade/paternidade/parental;
  • Ampliar as licenças maternidade e paternidade;
  • Salas de amamentação para apoiar o aleitamento materno;
  • Orientação para mães e pais pré-parto e pós-parto;
  • Jornadas flexíveis de trabalho;
  • Nova janela para mãe participar de avaliação de desempenho;
  • Auxílio creche;
  • Creche na empresa;
  • Redução de viagens.

Por Bruno Piai