Com a adoção do trabalho híbrido após o período mais intenso da pandemia, podemos dizer que as empresas que não se adequarem às novas “exigências” do mercado terão problemas para se manter de pé.

Afinal, não há empresas sem pessoas.

Só que o mundo todo mudou, bem como as necessidades e os interesses pessoais. Não há dúvida de que vivemos uma crise, não apenas política ou econômica, mas uma crise de significado sobre o que compreendemos ser o “trabalho”.

Colaboradores em todo o mundo querem ter e sentir propósito nas suas profissões e não aceitam mais uma cobrança de resultado pelo simples resultado – muito menos o tripé exploração da mão de obra, lucro sobre o cliente e exploração do fornecedor, que por anos e anos foi o motivo de existir um negócio.

Além disso, ninguém mais aceita a condição de ter que se aposentar para ter qualidade de vida. Todos exigem para o agora a flexibilidade na rotina de trabalho.

A crise de significado vai além e, por isso, termos como “matar um leão por dia”, “vamos à luta”, “vamos dar o sangue hoje” e “é preciso ter sangue nos olhos” não fazem mais nenhum sentido.

Fomos acostumados a colocar um olhar tão árduo sobre o trabalho e pela busca da sobrevivência, que toda transformação visando qualidade de vida e bem-estar assusta.

Foram tantos séculos assim, que finalmente o mercado de trabalho “cobra a conta”.

Onde estão os leões de hoje?

Quais são as nossas verdadeiras lutas?

Qual a razão de ter sangue nos olhos?

Se nada disso faz mais sentido para as empresas, independentemente do porte, somente com a humanização das lideranças e da gestão teremos a sobrevivência dos negócios. Mas, de fato, o que é “humanização da liderança”?

A partir do momento em que os líderes estiverem conectados apenas com a tarefa e os fatores em torno dela – como qualidade, agilidade, eficiência, tempo de execução e resultado esperado –, isso pode, sim, ser traduzido como um excelente desempenho no trabalho. Mas o ato de liderar requer ir além do contexto da atividade.

Quando entendemos o lugar que as pessoas ocupam nas organizações, percebemos que não estamos lidando com robôs ou processos automatizados que produzem por produzir.

Lidamos com egos, expectativas, necessidades, dores e sentimentos. Temos que olhar para os colaboradores como uma engrenagem que é capaz de promover tanto o sucesso quanto o fracasso de uma empresa.

O conceito de liderança humanizada envolve ampliar a zona de consciência e a visão de mundo. O sucesso de um líder não está na capacidade de responder a todas as perguntas, mas de envolver todas as pessoas para que elas façam suas reflexões e contribuam para a construção de novas respostas.

A apropriação de cada pessoa para buscar soluções comuns fortalecerá o propósito do líder de inspirá-las em uma mesma direção.

As necessidades acarretadas pelo período pandêmico serviram como um despertar para os antigos padrões de trabalho. Cada vez mais, ouvimos sobre alternativas ao modelo que se resume a 40 horas semanais, com 100% de presença nos escritórios.

O híbrido e o home-office já são realidade no Brasil e em países como a Holanda, onde há um projeto de lei em aprovação que permite que o funcionário escolha o sistema de trabalho, desde que seja inerente à profissão ou área de atuação.

Também ganha força a ideia da semana de quatro dias, aderida por companhias atuantes no Brasil, especialmente na área de tecnologia, como Crawly, NovaHaus, Winnin, AAA Inovação, Gerencianet e Eva.

No Reino Unido, vem sendo colocado em prática o maior teste dessa redução de jornada, com 3,3 mil trabalhadores de 30 setores da economia – e tudo sem diminuição de salário.

O fato é que, ainda que a implementação dessas medidas garanta o aumento da produtividade e, até mesmo, a “felicidade” dos colaboradores, os líderes precisam se questionar como será o controle a longo prazo de toda essa transformação.

A humanidade está em constante processo de evolução e, sempre que as mudanças se aproximam, surgem os “heróis da resistência”, dizendo que a economia, as organizações e os profissionais não sobreviverão.

O mercado de trabalho já presenciou cargas horárias muito maiores, de até 60 horas semanais, que foram reduzidas pouco a pouco. Porém ainda estamos medindo o desempenho nas organizações por quantidade de horas.

Um dia, nós ainda vamos revisitar todos os nossos modelos e fazer contratações a partir do desempenho das pessoas. Isso vai gerar outras mudanças, no formato do contrato de trabalho, no formato da relação e na interação de trabalho.

As pessoas terão a liberdade de agir de maneira mais empreendedora, com mais protagonismo nas suas carreiras.

É preciso se desprender dos velhos vícios de gestão.

É preciso que as empresas se permitam crescer com novas lideranças.

Aos líderes, cabe entender que o momento disruptivo pelo qual passa o mercado de trabalho chegou para mudar o RH, os negócios, as pessoas.

Somente uma liderança humanizada pode apresentar caminhos para a sobrevivência das empresas, com consequências positivas no longo prazo.

Semana de 4 dias: será que o mercado de trabalho enlouqueceu?

Por Luiz França, especialista em Gestão de Pessoas, humanizador de empresas e autor do livro “Cultura de confiança: A arte do engajamento para times fortes e que geram resultados

 

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