Vamos começar desmistificando. Não existem vilões nesta história. Os dois lados da mesa têm objetivos parecidos e precisam estar em harmonia para os resultados serem alcançados.

Não tem utilidade colocarmos no centro desta discussão comportamentos fora da curva de empregadores e colaboradores. Líderes que continuam a aplicar um modelo antigo baseado em micro controle e falta de confiança, gestão pelo medo e até assédio devem ser tratados, no home office, híbrido ou qualquer outro modelo de trabalho.

Por outro lado, colaboradores que não se comprometem com os objetivos da empresa, displicentes com suas entregas, que não sabem administrar o tempo e desperdiçam os recursos oferecidos, também não devem fazer parte de nenhum modelo de trabalho. Vamos esquecer destes extremos para esta reflexão.

Seguindo então, convido vocês para nos lembrarmos primeiro de uma onda anterior, mais ou menos 10 anos atrás, onde as empresas mais modernas e digitais do Vale do Silício trouxeram um modelo de trabalho que seria talvez o Office Home. Neste modelo, os escritórios tradicionais começaram a ficar mais divertidos, coloridos, colaborativos, humanizados, confortáveis e alguns até pet friendly.

Inteligencia artificial

A motivação para isso foi alcançar a alta performance por meio da felicidade dos colaboradores em frequentar aquele local um pouco mais parecido com a vida real, menos austero. Esse tipo de ambiente também visava estimular mais comunicação entre os colaboradores e como consequência mais inovação.

Depois disso, as Startups e seus Coworkings surfando a mesma onda e modelo. Começou a nascer uma dúvida em relação a produtividade destes ambientes pois pareciam felizes e descontraídos demais aos olhos de muitos, “nem parecia empresa”. Claro que tem também o problema geracional.

Muitas vezes, do alto dos meus quase 50, faço o exercício de me imaginar com 20 e poucos anos novamente. Qual seria o modelo ideal? A questão social e a necessidade de aprender com os mais experientes me faria preferir o escritório? Ou o benefício de não me deslocar e conciliar a minha vida pessoal com a profissional me fariam ser defensora do Home Office. E o Híbrido?

Mesmo antes da pandemia algumas empresas já aplicavam o modelo híbrido, outras estavam se preparando para isso. O tempo de adequação de cada empresa ao modelo imposto pela pandemia revelou o quanto cada uma já vinha se preparando, em mentalidade e questões operacionais.

A pandemia acabou, mas deixou marcas muito profundas neste tema que precisam ser encaradas de frente para qualquer decisão de modelo de trabalho. Não ter mais o problema do deslocamento com trânsito nas grandes cidades, trocar esse tempo para fazer um exercício físico, estar no ambiente que você se sente mais confortável, com a sua família, sua comida, seu mundo…. e ainda conseguir disponibilizar seu conhecimento e talento para uma empresa em troca de remuneração. Parece interessante.

As pessoas nem sabiam que isso seria possível, alguns não tinham nem coragem de sonhar. Mas aconteceu e para muitas pessoas fez muito sentido, as deixou mais felizes e com a sensação de estar conseguindo equilibrar melhor os vários aspectos da vida. Para outras aumentou a sensação de solidão e evidenciou necessidades de melhoria daquele “time familiar”.

Do lado das empresas, a sensação de perda foi latente e angustiante:

  • A empresa existia somente naquele local físico ou ela é a união da colaboração e contribuição daquelas pessoas independentemente de onde elas estejam?
  • Onde as pessoas estão?
  • Precisam ficar em casa (na mesma casa) o dia todo?
  • E o horário de trabalho sem o crachá na catraca?
  • Como alcançar a mesma produtividade, comunicação e senso de time se encontrando em videoconferências?
  • E aqueles artefatos que diferenciam os colaboradores por tamanho de mesa, salas, andares mais altos?
  • Se aquilo realmente fazia sentido no modelo presencial para o correto funcionamento da empresa, como replicar no modelo home office?
  • Onde é a cabeceira da mesa em uma videoconferência?
  • As pessoas são obrigadas a conseguirem ter um escritório em casa ou tudo bem se for um canto no quarto?
  • As crianças podem aparecer nas chamadas de vídeos? E os processos de liderança? Como liderar um time virtual?
  • Abrir a câmera é opcional?

É super natural que estas perguntas existam e que as respostas não sejam rápidas e nem unânimes e óbvias. Natural também querermos nos apegar ao modelo que mais conhecemos. Não tem resposta certa nem errada, existem consequências em todos os modelos.

Vou compartilhar com vocês o que vivemos na DialMyApp, sem nenhuma intenção de influenciar ou dizer que o nosso modelo é o único a ser seguido, até por que nós temos características bem especiais que facilitam a nossa forma de ser.

Mas preciso assumir que temos um enorme orgulho da cultura que construímos e caso ela sirva para reflexão já valeu a pena.

Quando abrimos a DialMyApp Brasil em 2018 decidimos não ter escritório, nosso modelo nasceu full home office e assim permanecemos até hoje. Mas o nosso home office, que denominamos Anywhere Office, tem algumas características bem marcantes que vou contar abaixo:

  • Trabalhar de qualquer lugar: O time da DialMyApp trabalha de qualquer lugar com boa internet, iluminação e que permita a concentração em nossos objetivos. Pode ser na nossa casa, de amigos, familiares, outras cidades/países, na casa de outros membros do time ou até em locais públicos. O local realmente não importa.
  • Reuniões de câmera aberta: Estamos sempre de câmera aberta nas reuniões, com boa iluminação no rosto, boa postura, enquadramento adequado e vestidos de acordo com a ocasião, tentando utilizar como parâmetro a roupa que usaríamos se estivéssemos na mesma reunião de forma presencial. Independente dos demais estarem ou não da mesma forma. Com isso conseguimos gerar a melhor conexão possível com as pessoas, dentro de um cenário virtual.
  • Home friend office: Se tornou muito frequente nos visitarmos e trabalharmos juntos em nossas casas. Isso acontece pois temos um tipo de relacionamento próximo, pessoal e cultivamos esse sentimento de família no time. Entendemos que, depois da família e amigos, as pessoas mais importantes estão dentro da empresa e a forma de cuidarmos dos clientes é um reflexo da forma que cuidamos um dos outros.
  • Dia de trabalho flexível: O foco está nas entregas e na satisfação dos nossos clientes. As entregas são construídas em diferentes horários, dependendo do que está acontecendo na vida de cada um. As crianças estão de férias? Alguém está doente? Dia dos exames de rotina? Reunião na escola? Reunião presencial com algum cliente? Em deslocamento por uma viagem a trabalho ou pessoal? Tudo isso acontece na vida de todos nós, independente do modelo de trabalho estabelecido, saber lidar com estas necessidades de uma forma madura e humanizada faz toda a diferença.
  • Já ouviu de alguém?: Agora que eu deixei a empresa vou agendar meus exames médicos. Agora que fui demitido vou pensar mais o que eu quero para a minha vida e carreira. Isso significa que antes essas pessoas não faziam exames médicos e não pensavam sobre a própria vida e carreira???
  • Nossas prioridades: A empresa vem depois da saúde e da família. Na DialMyApp é motivo de orgulho compartilhar no grupo de mensagens da empresa os exercícios físicos realizados no dia, as formaturas dos filhos, aniversários, performances na escola e tudo mais relacionado às pessoas mais importantes da vida de cada um.
  • Alta performance: Quando descobrem que temos como clientes mais de 150 empresas, as maiores do Brasil e, que cuidamos de cada uma de forma muito especial e com alta qualidade pensam que somos milhares de colaboradores. Muito longe disso. Conseguimos isso pois somos muito focados no que realmente importa, quase over colaborativos, obcecados por qualidade e resultados e não métodos e processos da moda.

Somos reconhecidos pelos nossos clientes como extremamente ágeis, com comunicação simples, verdadeiros, e por nossas entregas em quantidade e qualidade. Preciso assumir que se tivéssemos o deslocamento diário para o escritório, a parte social destes ambientes, as saídas para o almoço etc. não conseguiríamos os mesmos resultados, seja pela empresa ou em nossa vida pessoal.

Esse é o modelo que funciona para a DialMyApp e claro que tem dias que sentimos falta de um escritório e alugamos um coworking on demand. Sentimos falta de uma sala de reunião para uma ocasião especial e alugamos em algum hotel. Mas nunca deixamos a falta de conexão entre o time se tornar um problema, estamos sempre juntos de alguma forma, em algum lugar.

Uma empresa é o resultado de suas pessoas, de como elas se relacionam, do orgulho que sentem de construir algo importante juntos. O office é um detalhe, uma ferramenta que precisa se adequar a cada momento, sempre evoluindo para suportar a estratégia. Não é o ator principal.

Nem Office nem Home, People

Por Flávia Pollo Nassif, CEO da DialMyApp Brasil.

 

 

Ouça o episódio 154, “Quais os sentimentos de quem voltou ao trabalho presencial?“. Quais os sentimentos de quem voltou ao trabalho presencial? Para buscar algumas respostas, o RH Pra Você e o Infojobs ouviram mais de mil profissionais que nos ajudaram a traçar um panorama dessa retomada. Para se ter uma ideia, a maior parte deles (58,3%) diz que se sente menos produtiva ao final de um dia de trabalho presencial. Além disso, 64,4% dos entrevistados dizem sentir que a qualidade de vida piorou ao voltar para o modelo presencial. Neste episódio, conversamos com Ana Paula Prado, CEO do Infojobs, sobre as principais descobertas da pesquisa, a preparação da liderança, papel do RH e muito mais. Acompanhe!

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