O processo de atração de talentos começa pela divulgação das vagas de trabalho. Antes do candidato buscar mais informações sobre a empresa contratante, sua primeira impressão tende a ser o anúncio da oportunidade e a oferta nele presente. Salário, endereço de trabalho, benefícios, horário e requisitos exigidos são, seguramente, fatores de peso na hora de realizar ou não a candidatura.
Porém, em meio às vagas que são detalhistas, há aquelas que pouco informam suas especificidades aos candidatos, as chamadas vagas sigilosas ou confidenciais. Ao procurar por emprego, quem já bateu o olho em alguma delas seguramente já se perguntou: por que esconder informações?
Sigilo incomoda, mas tem explicação
Quem escreve este texto fará uma confissão a vocês. Nos tempos de procura por recolocação no mercado de trabalho, as vagas confidenciais “davam nos nervos”. Não parecia fazer sentido. Ao mesmo tempo que algumas oportunidades eram tentadoras ao divulgar o que ofereciam, elas eram igualmente frustrantes por não revelar quem estava contratando ou sequer o bairro de trabalho. Foram muitas as vezes em que o site divulgador levou a culpa. Quem nunca soltou um “não acredito que preciso pagar para saber onde é a vaga”, não é mesmo? E se decepcionou caso tenha feito.
Pois bem, sem mais delongas, para você que, assim como eu já passou por isso, vamos à explicação sobre por que as oportunidades sigilosas são tão presentes.
De acordo com Renata Müller, Diretora de Pessoas e Cultura da BWG, empresa de soluções tecnológicas para RH, o motivo do sigilo é estratégico. “Normalmente, as empresas anunciam vagas confidenciais por serem vagas que serão abertas futuramente e preenchidas de acordo com o seu planejamento estratégico”, explica.
Embora, para o candidato, o padrão de abertura de vagas que revela o máximo possível de informações seja o ideal, a confidencialidade pode ser motivada por diversas razões. Entre algumas delas estão:
– Procura em “silêncio”, ou seja, a busca pela substituição de um líder ou colaborador que ainda não foi desligado da empresa;
– Não permitir que a concorrência saiba o tipo de profissional que está sendo buscado;
– Adiamento de informações por motivos de fusão, aquisição ou mudanças ainda não consolidadas;
– Limitar as candidaturas (muitas vezes por não haver desejo ou recursos para administrar o envio de currículos em quantidades mais altas);
“Todas as opções são válidas. O que pode variar é o momento da empresa, do negócio, onde a empresa pretende investir. Por conta disso, talvez, não seja o melhor divulgar todas informações em um primeiro momento, mas futuramente isso ocorrerá”, destaca a diretora.
Ainda assim, Renata recomenda que as empresas que optam pelo sigilo tentem ao menos passar algumas informações que deem um pouco de esclarecimento ao candidato. Embora existam vagas que não exponham muito além do cargo, para ela é importante revelar pontos específicos que reforçam a credibilidade da oportunidade em questão.
“Cargo, atividades [que serão realizadas], pré-requisitos, duas a três características da empresa – sem precisar mencionar o nome -, como qual é o tipo de negócio, a região de atuação, quantidade de colaboradores (em média), faturamento, principais clientes ou número de estabelecimentos instalados até o momento. Tudo isso pode ser passado sem revelar a empresa”, destaca.
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Confidencialidade não combina com exageros
Renata elucida que, normalmente, na segunda ou terceira etapa do processo seletivo – normalmente quando há a entrevista com o RH ou o gestor responsável pela vaga -, o candidato tende a receber as informações que até então estavam ocultas. A depender do cargo, remuneração e benefícios podem ser informados na etapa final da seleção.
Para o consultor e especialista em R&S e Departamento Pessoal, Agnaldo Silva, embora a confidencialidade seja justificável, as empresas não podem deixar de ser empáticas com o colaborador e não podem confundir detalhes que exigem sigilo com uma total falta de transparência.
“Há pessoas que estão há muito tempo procurando por recolocação e, portanto, não podem se dar ao luxo de ter um filtro tão grande na hora de se candidatar. É natural que, mesmo sem ter todas as informações, se candidatem às vagas com informações ocultas tendo por base os poucos elementos compartilhados. Contudo, as empresas precisam ser muito assertivas no anúncio. Imagine que eu abro uma vaga de analista. Vamos imaginar que, em média, o salário do cargo esteja na faixa dos R$ 3 mil e, consequentemente, essa é a expectativa do candidato. Então, entro em contato com ele, o chamo para fazer uma entrevista do outro lado da cidade, depois o convido para a segunda e a terceira etapas para, só então, depois de tanto esforço da parte dele eu revelar que o salário é R$ 1,5 mil a R$ 2 mil. Seu sentimento é o de ser enganado”, pontua o consultor.
Cuidado com os golpes
De acordo com um levantamento feito pelo laboratório de cibersegurança da PSafe, a pedido do portal de notícias Extra, estima-se que só de janeiro a maio foram identificadas mais de 340 mil tentativas de golpes “camuflados” em vagas de trabalho. Com o desemprego batendo a casa das 14,8 milhões de trabalhadores, segundo o IBGE, e com a crise causada pela pandemia da Covid-19, golpistas insuflaram as falsas vagas em meio ao desespero de muitos profissionais que tentam voltar ao mercado. Os anúncios, que normalmente carregam informações sigilosas, rapidamente são compartilhados em grupos de aplicativos de mensagens, redes sociais e até mesmo em alguns sites de vagas.
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A Diretora de Pessoas e Cultura da BWG deixa claro que, tanto para vagas que são confidenciais quanto as que não são, é sempre importante o candidato tentar identificar a confiabilidade da oportunidade em aberto. “Tente buscar o máximo de informações no primeiro bate-papo com a consultoria ou empresa recrutadora. Em seguida, com as informações que possui, faça pesquisas na web ou junto ao seu networking. Evite dar informações pessoais e confidenciais a sites desconhecidos e que não tragam nenhuma informação ou referência”, diz.
Silva acrescenta que um hábito muito comum das fraudes é o pagamento pela candidatura. “Embora seja normal você pagar para ter acesso a todas as funcionalidades de sites famosos de vagas, a lógica não vale para vagas individuais. Todavia, em meio ao cenário desesperador que muitos brasileiros vivem, a preocupação inexiste quando há a promessa de que ao menos a entrevista está garantida”. Uma pesquisa da OLX, compartilhada pelo portal Extra, revela que 23% dos entrevistados pagariam por uma candidatura.
Outro ponto importante trazido pelo especialista diz respeito a determinadas condutas prestadas pelos golpistas que devem ser motivo de atenção dos trabalhadores.
“Se candidatou a uma vaga e recebeu uma ligação cinco minutos depois? Desconfie. Poucas empresas seriam tão rápidas assim para entrar em contato. Essas vagas também costumam ter erros, incoerências, são pouco detalhadas e o sigilo é mantido para informações extremamente básicas. Além disso, opte por procurar emprego em locais cuja credibilidade é reconhecida. Há sites de vagas que mais parecem um grande vírus do que uma página digital. Por fim, nunca compartilhe qualquer dado pessoal”, completa.
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Por Bruno Piai