Comunicação não violenta pode diminuir conflitos, criar debates construtivos e favorecer inclusão nas empresas.

Elaborada nos anos 1960, a comunicação não violenta ganhou espaço nas empresas para mediar conflitos no fim do século passado, tendo recentemente um novo impulso com o avanço do debate sobre diversidade corporativa.

A técnica, que em si não evita conflitos, mas permite lidar com eles de forma construtiva, é cada vez mais usada para permitir que profissionais de grupos minorizados, recrutados em ações afirmativas ou outros processos, encontrem um ambiente de trabalho que os espere e tenham suas perspectivas consideradas nos debates e decisões da organização.

Comunicação não violenta pode favorecer inclusão nas empresas

Assim, a comunicação não violenta pode ser usada como uma ferramenta de inclusão, ao pressupor o reconhecimento das diferentes identidades do ambiente de trabalho.


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Sua prática, no entanto, pode ser desafiadora. Além de exigir disponibilidade para ouvir o outro, pressupõe autoconhecimento para conhecer, verbalizar e lidar com os próprios sentimentos e necessidades.

Também exige uma dose de sangue frio para responder com serenidade e objetividade a situações que tirariam do sério a maioria das pessoas.

Conflitos são expressões de necessidades não atendidas

O psicólogo norte-americano Marshall Rosenberg, um dos principais teóricos da CNV, como também é chamada a comunicação não violenta, definia a violência como a “expressão trágica ou dramática de uma necessidade não atendida”.

Suas observações têm por pano de fundo os conflitos raciais da Detroit dos anos 1960, que via como resultado de necessidades não atendidas.

Para Rosenberg, brancos e negros da Detroit dos anos 1960 tinham necessidades comuns, como liberdade, autonomia e reconhecimento. A questão era que essas necessidades eram expressas pela agressão mútua e sem diálogo.

Rosenberg via, portanto, a violência como um pedido de socorro, uma forma de deixar claro que uma necessidade precisava ser atendida e, muitas vezes, quem a pratica sequer consegue dizer do que precisa.

Comunicação não violenta requer método

Nesse contexto, a CNV tem entre seus objetivos verbalizar necessidades. Sua prática também ocorre sob um método definido em quatro fases. Diante de uma fala hostil, quem escolhe se comunicar sem violência precisa, primeiro, adotar uma postura de escuta, demonstrada ao interlocutor com um relato observacional do conflito restrito aos fatos, sem interpretações e opiniões.

O passo seguinte é expressar o sentimento causado pelo conflito, com o cuidado de não culpar o interlocutor. Existe uma diferença entre dizer que se sente magoado e desrespeitado.

No primeiro caso, você descreve um sentimento seu, o que exige autoconhecimento. No segundo, acaba afirmando que alguém é responsável por você se sentir daquela forma, e isso não ajuda.

A terceira etapa é expressar claramente sua necessidade para evitar o conflito no futuro. Aqui entra o autoconhecimento de novo. Consegue dizer claramente do que precisa, quem conhece a si e sabe como se relacionar com o outro.

Só agora chega o momento do último passo, que é pedir ao interlocutor ajuda para que sua necessidade seja atendida.

Nesse roteiro, uma pessoa incomodada com um chefe que cobra posicionamento frequente sobre o trabalho pode dizer o seguinte: “Quando você me pede um feedback a cada hora [observação objetiva], eu me sinto sufocado [sentimento que não culpa o outro]. Eu preciso me concentrar [necessidade]. Então gostaria que você diminuísse as cobranças para eu me focar [pedido]”.

Comunicar sem violência é uma escolha

Mesmo com esse cuidado, é preciso ter em mente que seu interlocutor pode escolher não atender o seu pedido, e isso não é problema. A CNV não requer que todas as partes a pratiquem.

Quando as necessidades são expressas, ainda que seja só por um dos interlocutores, geralmente os atritos diminuem. Além disso, quem escolhe se manter hostil, cedo ou tarde, entende que sua posição não pode ser sustentada e terá de ser revista.

Além disso, a CNV é uma prática de empatia, que requer uma postura de escuta ativa, visando estabelecer uma conexão, não apenas ouvir e responder.

No fim, é um exercício de comunicação com autenticidade.

Inclusão requer eliminar a violência da fala

Por Letícia Rodrigues, colaboradora regular da Comunidade do RHPraVocê, mãe do Carlinhos e do João Pedro, consultora em diversidade, equidade e inclusão.

 

 

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