Dois ouvidos, uma boca: a proporção física que também serve de medida para a comunicação

“Ouvir mais e falar menos”: eis um conselho que já não é mais amparado apenas na sabedoria popular. Estudos mostram que valorizar a escuta ajuda nas vendas e também melhora o desempenho do RH das empresas.

Um relatório da Gong (aplicativo de inteligência artificial que analisa interações entre vendedores e clientes do mundo inteiro) aponta que os melhores vendedores falam 46% do tempo e ouvem 54%. Os piores, entretanto, falam 72% do tempo e só ouvem 28%. Os dados são de 2017.

No âmbito corporativo, números de uma pesquisa da Salesforce, de 2019, indicam que colaboradores que se sentem ouvidos têm 4,6 vezes mais chances de se mostrarem capacitados a realizar melhor um trabalho.

Esses dados reforçam a importância do exercício da ‘escuta consciente’, uma técnica amplamente desenvolvida pela psicologia, que visa melhorar a comunicação interpessoal e consequentemente, as relações sociais.

A partir de um diálogo eficiente, em que o ouvinte é capaz de realmente interpretar e assimilar todo o conteúdo que é expresso pelo interlocutor, a escuta consciente gera confiança, desenvolve a empatia e aumenta o sentimento de segurança.

Para tanto, é preciso foco e concentração para absorver ao máximo o conteúdo da conversa; dar o tempo necessário para que sejam apresentadas as informações e concluídos todos os raciocínios e, sobretudo, deixar o diálogo fluir, ouvindo mais e falando menos.

Difícil missão, mas nunca tão necessária

Durante o distanciamento social, a escuta consciente ganhou ainda mais relevância. A partir do momento que todas as interações passaram a ser virtuais, fomos naturalmente estimulados ajustar nossos sentidos para garantir uma comunicação mais assertiva. Aprimorar a audição nunca foi tão necessário, só que ao mesmo tempo desafiador.

Afinal, além de ter que compensar a ausência do tato, do olfato e do paladar (elementos muito marcantes nas relações presenciais), é preciso saber lidar com o excesso de informações presentes no ambiente virtual: um fator de desatenção, que inibe demais o nosso poder de absorção por meio da escuta.

Portanto, evitar o uso de celular, redes sociais, e-mails, conversas paralelas e telefonemas é algo fundamental. O interesse expresso otimiza o relacionamento e reforça a conexão, especialmente quando à distância.

A visão, nesse caso, também pode ser um aliado importantíssimo. O olhar ao interlocutor ajuda a demonstrar interesse pelo que é dito – ainda mais quando acompanhado de uma postura corporal distendida e relaxada.

Outro fator que merece atenção é a seletividade da escuta. Isto é, prestar atenção apenas no assunto que lhe interessa e ignorar (ou demonstrar menos atenção) a outros temas que são abordados. Além de inibir a compreensão, trata-se de um comportamento muito perceptível ao interlocutor e que denota falta de empatia. Sendo assim, deve ser evitado.

O mesmo vale para nossas opiniões particulares. É fundamental saber lidar com perspectivas diferentes das nossas. Uma comunicação assertiva requer habilidade para permitir que visões pessoais diferentes construam um ambiente produtivo em termos de comunicação.

A fala, por sua vez, deve ser usada como ferramenta para evitar ruídos de comunicação. Ou seja, para ter a certeza de que a mensagem realmente foi entregue e assimilada corretamente.

Harmonizada à visão e à escuta, é a peça que complementa os elementos necessários para garantir uma comunicação de fato eficiente.Cabe a nós, portanto, apenas saber guardar as devidas proporções.

Dois ouvidos e uma boca a medida para a comunicação

Por Juliana Algodoal, especialista em Comunicação Corporativa e PhD em Análise do Discurso em Situação de Trabalho. É PhD em Análise do Discurso em Situação de Trabalho – Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem e fundadora da Linguagem Direta. Acumula mais de 30 anos de experiência no desenvolvimento de projetos que buscam aprimorar a interlocução no ambiente empresarial – tendo como clientes grandes companhias, como Novartis, Pfizer, Aché, Itaú, Citibank, Unimed, SKY, Samsung, Souza Cruz, dentre outras.

Ouça também o RHPraVocê Cast, episódio 126, “Até o ‘bom dia’ vira reunião: é mesmo tão difícil se adaptar à comunicação assíncrona?”. Será que todos os líderes estão, de fato, preparados para se adaptar a um diferente estilo de comunicação? Há solução para as reuniões em excesso deixarem de ser parte do dia a dia?

Para responder a isso e auxiliar no melhor entendimento sobre a importância da comunicação assíncrona, o RH Pra Você Cast traz a neurocientista Ana Carolina Souza, sócia da Nêmesis, empresa de educação corporativa. Clique no app abaixo:

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