Os números do agronegócio no Brasil não param de surpreender. Responsável por 27,4% do PIB nacional em 2021, atualmente emprega 20% da mão de obra no país, uma legião de 18,7 milhões de pessoas, segundo projeções do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP.
Mas o setor ainda carece de especialização, em especial em tecnologia, para ampliar a competitividade brasileira no cenário internacional.
De fato, não é de hoje que o perfil profissional no setor de agronegócios mudou. Antes visto como um nicho para quem somente tinha afinidade com o campo, o setor vem demandando de forma crescente talentos em várias frentes da tecnologia, com bagagem ampliada e diversificada.
Experiência com administração, robótica, inteligência artificial e outros recursos tecnológicos, mas também visão ampliada sobre novas tendências econômicas, mercado nacional e internacional, crédito, investimentos e mesmo sobre o jogo diplomático mundial são algumas das atribuições exigidas para o profissional que quer atuar no agro.
A agricultura de precisão é usada de modo crescente, exigindo conhecimentos múltiplos, desde a operação de drones até a mensuração e análise de dados, por meio de aplicativos e programas específicos.
Nos últimos anos, a expansão das agtechs, startups com foco no agronegócio, trouxe um elemento adicional à necessidade de profissionais de tecnologia para dar vazão à disrupção no setor.
Um ponto que não pode deixar de ser considerado quando pensamos em como resolver os gaps profissionais no agro é a contribuição da mulher e dos jovens. Pesquisas recentes analisaram esses dois universos e trazem conclusões importantes sobre os desafios que ainda precisam ser equacionados para uma maior contribuição desses públicos para o segmento.
Vejamos o caso das mulheres. Elas têm afinidade com o agro e as perspectivas são promissoras, inclusive em posições de liderança, pois elas reconhecem a importância do segmento para a sociedade, como apontou o estudo Mulheres no Agro, da consultoria Deloitte. Prova disso é o crescimento de 8,3%, entre 2004 e 2015, da presença da mulher no campo, segundo o Cepea.
Porém, para que essa trajetória de crescimento seja sustentável, é essencial uma transformação cultural que equacione questões de gênero e que considere a conciliação de carreira profissional com interesses pessoais.
O estudo aponta ainda que é urgente combater desigualdades salariais: dados do Ministério do Trabalho revelam que as mulheres recebem remuneração 17% inferior à dos homens no agronegócio, o que, obviamente, restringe a atratividade do setor para o público feminino.
Para os jovens, o agro também se mostra promissor. A agropecuária e serviços relacionados registraram leve alta no número de jovens no mercado de trabalho formal em 2020, interrompendo a tendência de queda que permanecia desde 2015, como aponta o estudo Jovens no Agronegócio, também da Deloitte.
Uma das principais barreiras para a maior participação de jovens no agro é a dificuldade que esse público encontra em ser ouvido. Para 36% dos participantes da pesquisa, suas ideias em busca de inovação ou melhoria de eficiência não são avaliadas e, para 27%, suas ideias são interpretadas como potencial risco à organização.
Neste cenário que demanda talentos plurais e diferenciados, uma alternativa para superar essas barreiras são os programas de estágio. Potencializados pelo trabalho remoto e a expansão de empresas globais, os estágios em startups se firmam como alternativa para jovens talentos que buscam inovação e oportunidade de carreira internacional.
Soma-se a isso a possibilidade de, nas startups, os estudantes interagirem no dia a dia com profissionais seniores e até mesmo receber mentoria da alta liderança dessas empresas.
O conhecimento gerado com essas experiências é, sem sombra de dúvidas, uma oportunidade única para acelerar a carreira.
No caso do agronegócio, em especial, que registra demanda crescente por mão-de-obra qualificada, a entrada no mercado de trabalho por meio de um programa de estágio pode ser o diferencial para uma carreira de sucesso.
Por Jacqueline Brizida Gonçalves, Diretora de Pessoas e Cultura da Traive Finance, onde atua desde 2021, à frente da estratégia de recrutamento e desenvolvimento organizacional da empresa no Brasil e nos EUA. Bacharel e Mestre em Letras pela USP e com MBA em Big Data e Marketing pela ESPM, a executiva tem sua sólida experiência em gestão de negócios no setor de varejo educacional, bem como em RH, tendo se especializado na estruturação de times de tecnologia e dados para entregas ágeis.
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