Quando se fala sobre as habilidades que os líderes precisam ter para alcançar o sucesso nos dias atuais, muito se fala a respeito das soft e das hard skills. Certamente, você já ouviu falar sobre ambos os conjuntos, mas recapitulando rapidamente, enquanto as soft skills remetem às habilidades sociocomportamentais – como empatia, flexibilidade e criatividade -, as hard skills são as aptidões técnicas para a realização de tarefas. Contudo, você sabia que o grupo das competências sociais e profissionais conta com mais um integrante? São as inner skills.

De acordo com Pollyana Guimarães (capa), idealizadora da Evoluzi, empresa de curadoria de treinamentos corporativos, as inner skills podem ser interpretadas como aquelas que “se referem ao conhecimento intrínseco do emocional de cada indivíduo”. Em outras palavras, segundo a executiva, são habilidades voltadas ao desenvolvimento de um maior controle emocional, especialmente para que diferentes situações sejam geridas com o máximo de equilíbrio possível.

Entre algumas das inner skills, podemos citar autoconsciência, desapego, concentração, gratidão, intuição e entusiasmo. A psicóloga Denise Rezende explica que as “habilidades internas” têm uma dinâmica diferente das hard e das soft skills. Enquanto a dupla mais conhecida se complementa em meio às suas particularidades, as inner skills tem a missão de torná-las mais poderosas.

Inner Skills são habilidades fundamentais profissional e socialmente

“Parte da plenitude do desenvolvimento de competências técnicas e emocionais é determinada pela capacidade do indivíduo em desenvolver habilidades interiores. Se você é uma pessoa entusiasmada, tende a aproveitar melhor uma dinâmica de aprendizagem. Se é uma pessoa desapegada, tende a abrir a mente para absorver novos conhecimentos e não se fechar em crenças ou ideias passadas. Se você tem disciplina, isso pode te ajudar a ser um indivíduo mais organizado, com mais controle sobre algumas situações. As inner skills fortalecem outras habilidades”, destaca.

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O RH pode ajudar a desenvolvê-las?

Segundo Denise, tão complexo quanto dizer sim, é dizer não. Ou seja, a psicóloga esclarece que RHs e lideranças podem, de algum modo, contribuir para que melhorar as inner skills de seu time de trabalho, mas que alguns cuidados devem ser tomados, uma vez que o processo não necessariamente se assemelha ao das hard skills, por exemplo.

“Quando você vai desenvolver uma habilidade técnica, que não tem o fator emocional tão explicitamente envolvido, as particularidades do indivíduo devem ser respeitadas. As pessoas têm ritmos diferentes para aprender, o modelo de colocar todos em uma mesma sala e ensinar, embora seja o padrão, muitas vezes é falho. Mesmo a técnica para ser aprendida envolve competências sociais e comportamentais. Agora, imagine quando levamos isso às inner skills, que basicamente estão atreladas à personalidade do indivíduo. É muito mais complexo”, pontua.

Denise orienta que as empresas não busquem promover tal “treinamento” somente por conta própria e estimula que profissionais externos façam parte do processo. Para ela, incentivar terapias, promover sessões de meditação e ter a sensibilidade que nem tudo pode ser resumido a atividades em grupo podem auxiliar.

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“Não existe você colocar todo o seu time de trabalho numa sala, aplicar uma palestra cheia de discursos motivacionais, mostrar alguns vídeos emocionantes e achar que todos sairão de lá mais corajosos, resilientes, desapegados e com a capacidade de concentração renovada. É um processo que leva tempo, que envolve muito trabalho e que, acima de tudo, é muito particular. Dinâmicas em grupo podem ser aplicadas, mas a compreensão sobre os resultados deve prezar pelo individual e, principalmente, não podem ter um viés discriminatório. Quem a pessoa é, sua história, sua trajetória são fatores que estarão diretamente envolvidos em todo o trabalho de desenvolvimento das habilidades.”

Burnout se torna doença ocupacional

Pollyana, por sua vez, acrescenta que a importância de se buscar desenvolver as inner skills, independentemente do RH e das lideranças estarem ou não envolvidos, está também na potencialização da saúde mental, ainda mais no Brasil, um dos país mais ansiosos e depressivos do mundo, além de ser o segundo, de acordo com a ISMA-BR, com maior incidência de Burnout.

“Ao contrário do que muitos acreditam, o Burnout não é ocasionado meramente pela sobrecarga de trabalho. Mas, sim, pelo baixo autoconhecimento e capacidade de identificar seus limites, perpetuando rotinas exaustivas que visam apenas a satisfação dos líderes. A falta de atenção a essas questões traz danos severos para todos os envolvidos, evidenciando a importância de aprimorar o entendimento próprio como habilidade essencial para um desenvolvimento individual e corporativo”, finaliza.

Por Bruno Piai