Educar e recapacitar a força de trabalho para o novo mundo do trabalho: Utopia ou prenúncio de uma tragédia anunciada?

Diariamente, tomamos contato com diversos conteúdos tratando da Revolução 4.0, o uso da inteligência artificial, da robótica, a emergência do digital e seus impactos na força de trabalho. De tudo o que tenho estudado a respeito, há uma certa polaridade entre aqueles que são mais pessimistas, que consideram que a inteligência artificial e a robótica irão substituir a força humana de trabalho e, aqueles mais otimistas, posição na qual eu me incluo, que consideram que haverá uma readequação de funções, com a emergência de novas posições, tais como gerente de mídias sociais e desenvolvedor de aplicativos para celulares, que não existiam há 10 anos.

Tenho defendido, há muito tempo, a necessidade de a função de gestão de pessoas, desenvolver estratégias de inteligência em Capital Intelectual, minimizando a ênfase nos processos operacionais e, na baixa contribuição para a relevância competitiva, inovação e produtividade das empresas brasileiras. Se tem algo estratégico no discurso em gestão de pessoas, é o desenvolvimento de Capital Intelectual; o restante, apesar de seu valor operacional, são atividades de baixo valor agregado, portanto, passíveis de cortes e de pouca atenção gerencial.

Pesquisa recente da consultoria Accenture – América Latina: Competências para o trabalho na era das máquinas inteligentes, nos releva dados preocupantes sobre os impactos da tecnologia na força de trabalho do Brasil e nos países da América Latina. Tal estudo destaca que a força de trabalho na região caracteriza-se, majoritariamente, por pessoas cujas atividades são de natureza rotineira, portanto, bastante suscetíveis para que robôs ou computadores, assumam o trabalho, com maior produtividade, inclusive.

Sem lugar a dúvidas, assistiremos a uma verdadeira transformação no mundo do trabalho. Será, cada vez mais comum, pondero, que a força de trabalho de modernas organizações, seja composta por profissionais humanos e humanoides, uma poderosa combinação que reforça o melhor que a inteligência pode proporcionar em produtos e serviços aos cidadãos.

Será inexorável que as empresas tenham de investir, cada vez mais, em tecnologias para proteger e aumentar seu posicionamento competitivo nos mercados, com efeitos importantes no crescimento econômico e no aumento da produtividade, tão imprescindíveis para as economias da América Latina, castigada, há décadas, com modelos econômicos de apelo populista, sem a contrapartida em crescimento robusto do produto interno bruto e da geração de capital intelectual, traduzido em inovações e patentes. Daí, essa lógica perversa de baixa geração de empregos de qualidade, da avalanche dos concursos públicos, da falta de empreendedorismo e, informalidade elevada, aspectos que nos caracterizam de forma tão peculiar.

Sem o desenvolvimento de novas competências para o novo mundo do trabalho, os trabalhadores cujas atividades possuem foco em tarefas de rotina, podem ser ainda mais empurrados para a economia informal, com impactos bem conhecidos, como a redução da renda e o aumento das taxas de pobreza em toda a região da América Latina. Temos notado esse fenômeno crescente nas capitais brasileiras.

“’Há um círculo vicioso de informalidade, baixa qualificação e baixa produtividade’, afirma David Rosas Shady, especialista em mercados de trabalho do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). ‘À medida que as economias e os mercados de trabalho sentirem o impacto da atual onda de disrupção tecnológica, esse círculo vai se fortalecer, aprisionando um número maior de trabalhadores’”.

A hora para agir é agora. Um chamado urgente, para que as lideranças em gestão de pessoas e em educação corporativa, criem programas e políticas para desenvolver competências, que possam garantir o emprego dos trabalhadores em um futuro, já se materializando, dominado por máquinas inteligentes.

O modelo de probabilidades, desenvolvido pela Accenture, indica que “um em cada quatro trabalhadores na economia formal da América Latina, ou cerca de 38 milhões de pessoas, está em cargos com alto potencial de automação.”

Segundo os dados destacados pela Accenture, “apenas cerca de 20% dos trabalhadores com empregos formais na região da América Latina, ocupam cargos que exigem alta qualificação. Para efeitos de comparação, na União Europeia e nos Estados Unidos, esse nível supera os 40%.”

Diante do contexto exposto, definir as competências que serão necessárias para os empregos que existirão daqui a uma década, é um desafio cada vez mais complexo e, imprescindível para quem lidera gestão de pessoas e programas de educação corporativa.

Especialistas indicam a necessidade de se trabalhar no desenvolvimento de competências que são duradouras e, pelo menos até o momento, exclusivamente humanas, ao invés de apostar em habilidades técnicas pois que a maioria destas é constantemente modificada. Destaque-se, neste sentido, para a capacidade de se fazer boas perguntas e de se relacionar bem com as pessoas. Essas citadas competências, permitem que os trabalhadores compartilhem ideias, colaborem e solucionem problemas.

Habilidades tais como a empatia e a capacidade de interagir, funcionam como atributos capazes de fazer grandes organizações trabalharem de forma mais fluida.

’Habilidades sociais estão no cerne das diferentes famílias de competências fundacionais. De acordo com pesquisa do professor de Harvard David J. Deming, ‘cargos que requerem altos níveis de interação social cresceram quase 12 pontos percentuais em termos de participação na força de trabalho dos EUA de 1980 a 2012.’”

Neste assim chamado, novo mundo do trabalho, será fundamental que tenhamos a capacidade de desaprender, com a humildade de reconhecer que nossas experiências do passado, talvez necessitem ser aprimoradas e/ou modificadas, abrindo-se ao novo, com ênfase no aprendizado experiencial.

Dados os avanços tecnológicos e a intensa transformação por que passa o mundo do trabalho, a capacidade de aprender será, cada vez mais, uma competência essencial para os indivíduos e para as organizações.

Educar e recapacitar a força de trabalho para o novo mundo do trabalho

Por Américo Figueiredo, Conselheiro Consultivo, Professor Educação Executiva em Gestão de Pessoas, Governança e Organizações, Mentor de Carreira. É um dos colunistas do RH Pra Você. O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista.

 

 

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