As famosas “resoluções de Ano Novo” estão chegando e é sempre uma época de alegrias e momentos felizes, nos quais deveríamos parar com tudo (teoricamente…), e fazermos uma introspecção sobre as nossas carreiras e planejarmos o novo ano que se inicia.

Não raro, temos a ilusão de um “break” do trabalho, mas na realidade não temos um “break” de trabalho. Chegam as preparações para as festas, as celebrações no escritório e na família, listas de presentes, preparação para viagens e férias, passa-se o Natal, o Ano Novo e começamos tudo outra vez. Às vezes mais cansados do que quando paramos.

Não esqueço de uma cena que me marcou bastante, saindo de um dos parques da Disney, com os nossos quatro filhos ainda pequenos, dias após o Ano Novo.

Naquela aglomeração de saída, à nossa frente iam dois amigos, cada um segurando duas crianças pelas mãos, quando um disse para o outro: “Rapaz, não vejo a hora de voltar para o escritório para…descansar!”. Pensei que não entendi direito, mas com o “eu também” do amigo, e os seus comentários adicionais, confirmei que realmente ouvi o que ouvi.

Dentro de meus pensamentos, achando a situação curiosa, divertida e até leviana, dei conta de que no fim, estava rindo de mim mesmo. Não há dúvidas de que foi uma viagem maravilhosa, com experiências inesquecíveis com a minha família, e não trocaria isso por nada.

O fato, porém, é que naquele ano, eu não havia tomado tempo para mim mesmo. Pensar, analisar os caminhos de minha vida pessoal e profissional e de buscar inspiração para oportunidades de mudanças.

Estaria voltando para o escritório, com a mente renovada, o corpo ligeiramente cansado, mas retornando para as mesmas circunstâncias, e as mesmas perspectivas. Às vezes, nos tornamos “prisioneiros” das circunstâncias e achamos que são elas que moldam o que somos.

Antes de pensar em cursos a serem feitos no novo ano, planos e passos de carreira, em como contornar um relacionamento difícil com seu gestor etc., minha sugestão é de fazermos uma ponderação mais profunda. Até que ponto somos passivos ou reativos em relação às circunstâncias externas? Sentimo-nos “prisioneiros” ou donos de nosso próprio destino profissional?

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Aprendi muito a esse respeito com o escritor e filósofo britânico James Allen. Viveu entre 1864 e 1912 e a sua principal obra foi um livro com o nome original em inglês “As a Man Thinket“. Há várias traduções para o título, pela simples razão de que se tornou uma publicação de domínio público, com inúmeras cópias em PDF disponíveis na Internet. Das traduções que li, a que melhor define esse título é “O Homem é o Resultado do que Pensa“. Cada parágrafo desse livro é um “insight”, e dentre os muitos que gostei, chamo atenção de um em particular:

“O homem é golpeado pelas circunstâncias enquanto acredita ser ele próprio o produto de condições externas, mas quando compreende que representa uma força criativa e que pode dominar o solo oculto e as sementes de seu ser dos quais brotam as circunstâncias, torna-se o legítimo senhor de si próprio.”

Milhões de jovens hoje no Brasil, não têm a visão do que podem se tornar, a não ser lamentar suas condições econômicas e sociais, por não atingirem um lugar ao sol. Sinto muito quando ouço quantos não têm a visão de seu próprio potencial ao mesmo tempo que faltam pessoas para ampliar seus horizontes. Acabarão por passar a vida inteira nessa “revolta” contra as circunstâncias, aparentemente fora de seu controle.

Anos atrás tive o “privilégio” de ser assaltado em São Paulo, junto com a minha família. Depois da “limpeza”, o indivíduo disse que daríamos a ele uma carona, e, assim, dirigi pela cidade por intermináveis quarenta minutos.

Em certo momento, confortavelmente instalado no banco de trás, e ainda com a arma em punho ele disse: “Pois é… sou uma vítima da sociedade… não tenho, então pego de quem tem…”. Só para finalizar o episódio, minha família continua viva e bem.

Esses exemplos são bastante visíveis e extremos, porém em nossas carreiras há momentos que nos sentimos sem saída. Em outros nos acomodamos, em razão da pressão e dos obstáculos aparentemente intransponíveis das circunstâncias, e aceitamos passivamente o confortável papel de vítimas. Também já passei por isso…

Há uma grande diferença entre resiliência e uma permanente resignação. Com a primeira, ganhamos força para agir, enquanto na segunda, alimentamos a inércia, achando que “estamos resistindo”.

Aprendi a duras penas, que perdi um tempo razoável de minha carreira (embora com grande aprendizado), nos momentos em que eu tinha a certeza de que nada havia a fazer, e que eu era incapaz de mudar a imensidão dos fatores externos que estavam contra mim. Em cada uma dessas experiências aprendi que era um estado da minha mente, ao invés da realidade.

Meu convite, é em primeiro lugar, ponderarmos se realmente sentimos que dominamos o futuro de nossas carreiras. Os objetivos, decisões, listas de metas para o ano que se inicia, tudo será mera consequência. Mesmo em meio a grandes desafios, o Ano Novo pode trazer uma nova carreira. O começo de tudo está em como nos vemos em nossos próprios pensamentos.

Aliás, como inspiração adicional, leiam o livro de James Allen. O recente longa lançado na Netflix, “Brian Banks – O Sonho Interrompido”, retrata o episódio verídico de um jovem atleta negro, extremamente revoltado por sua injusta prisão.

No cárcere, o personagem estrelado por Morgan Freeman, dá ao jovem um exemplar do mesmo livro, o qual muda totalmente a perspectiva de sua situação sem liberdade.

Desfrutem de ambos nessas festas, mas não esqueçam de reservar um tempo para alguém muito importante: VOCÊ!

Carreira, Ano Novo...Planos Velhos?

Por Danilo Talanskas, autor do livro “Lições de Guerra – Vencendo as Batalhas de Sua Carreira“, foi o CEO de três multinacionais: GE Healthcare, Rockwell Automation e Elevadores Otis. Em paralelo à sua carreira como executivo, atuou como palestrante e professor em cursos de pós-graduação nas áreas de Estratégia, Ética e Negócios Internacionais. É formado em Administração de Empresas pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, com MBA pela Universidade de Brigham Young (EUA) e é mestre em Administração pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

Ouça também o RHPraVocê Cast, episódio 126, “Até o ‘bom dia’ vira reunião: é mesmo tão difícil se adaptar à comunicação assíncrona?”. Será que todos os líderes estão, de fato, preparados para se adaptar a um diferente estilo de comunicação? Há solução para as reuniões em excesso deixarem de ser parte do dia a dia?

Para responder a isso e auxiliar no melhor entendimento sobre a importância da comunicação assíncrona, o RH Pra Você Cast traz a neurocientista Ana Carolina Souza, sócia da Nêmesis, empresa de educação corporativa. Clique no app abaixo:

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