Cansaço, sobrecarga, desânimo, vontade de mudar de emprego são sentimentos comuns a muitos trabalhadores, inclusive em profissionais que exercem o cargo de liderança. Uma nova pesquisa da Reconnect Happiness at Work em parceria com a Feedz aponta que os profissionais andam desengajados e sobrecarregados com seu trabalho.
Dos profissionais ouvidos no levantamento, 55,6% exercem papéis de liderança (gestores, diretores ou CEOs) e 44,4% são pessoas colaboradoras. Metade deles alega sobrecarga. No caso dos líderes, não ter um escopo de trabalho bem definido pesa no sentimento. “Esses profissionais, mesmo sendo líderes, estão ainda no papel de execução. Estar no operacional e pensar o estratégico é exaustivo e sobrecarrega qualquer profissional. Quando os papéis são respeitados, o resultado é exponencial”, diz Patricia Agopian, especialista em carreira e CEO da Bússola Executiva.
A pesquisa também questionou os motivos que levariam os profissionais a se desligar de seu atual emprego. Para 41% a principal razão é a questão financeira, enquanto 22% destacam a falta de conexão com o propósito da empresa (22%). Segundo Patrícia, liderar é entregar resultado através das pessoas.
“Existem líderes que são executores e líderes que agem de forma executiva e entregam resultados superiores. Pois têm estratégia e despertam o melhor de cada liderado. Os líderes que estão sobrecarregados, são aqueles que não exercem o papel de liderança, que descem para o operacional. Seja por ter um time enxuto, um time júnior ou até pela pressão para entrega de bons resultados. Esses líderes acabam cedendo e colocando a mão na massa. Só que o papel do líder é desenvolver pessoas, abrir caminhos, criar conexões, que irão facilitar as entregas”, diz a especialista.
Mudar o mindset quando se assume um cargo de gestão é importante para que o profissional não continue exercendo as mesmas tarefas. Segundo a executiva, alguns líderes fixam na cabeça que chegaram até a sua atual ocupação pelo que entregaram e por isso devem continuar entregando os mesmos resultados. E na verdade, agora, o papel é outro: desafiar o time para que a equipe ganhe visibilidade.
“O líder precisa preparar as pessoas que trabalham com ele para que alcancem voos mais altos. Mas é de extrema importância, que para mudar esse papel, esse líder precisa comunicar a sua equipe e dar uma razão que justifique a mudança. Se o time está acostumado a ter o líder como braço operacional, uma mudança repentina pode parecer que está abandonando a equipe. E essa deve ser sempre a última opção”, destaca.
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Sobrecarga passa pelo multitasking
Uma vez que o líder é responsável por gerir e por fazer, ele entra em um sistema de multitasking, ou seja, de realização de várias tarefas ao mesmo tempo. Por mais que alguns profissionais, de certo modo, até se orgulhem de sua capacidade de lidar com diversas situações simultaneamente, de acordo com Thaís Gameiro, neurocientista e sócia da Nêmesis, o multitasking não passa de um mito na neurociência.
“A maioria de nós está constantemente sobrecarregado de atividades. O avanço da tecnologia (e não é de hoje) fez maravilhas, sem dúvida. Mas trouxe também um volume de informação e um imediatismo que exige de nós um esforço grande para lidar com todas as demandas que surgem. A consequência é que, ainda que a gente não perceba conscientemente, estamos colocando nosso cérebro para funcionar de um modo pouco produtivo. Um trabalho da Universidade de Stanford mostrou que apenas 2% das pessoas são realmente eficientes em fazer mais de uma tarefa em paralelo”, salienta.
Thaís esclarece que o excesso de atividades, seja em âmbito pessoal ou profissional, não só aumenta o número de erros cometidos, como também é um gatilho para aumentar o estresse. No trabalho, isso pode levar à Síndrome de Burnout. Além disso, embora haja a crença que as tarefas simultâneas poupam tempo, na verdade o que ocorre é o contrário.
“Ao tentar se concentrar ‘ao mesmo tempo’ em mais de uma atividade, normalmente acreditando que conseguirá entregar mais em menos tempo, você na verdade desperdiça tempo. Por que isso ocorre? Nosso processamento atencional só consegue dar conta de uma atividade por vez. Apesar de parecer que estamos realizando diferentes tarefas em paralelo, o que ocorre na verdade é um fenômeno conhecido como switch atencional. Trocamos o foco da nossa atenção de uma atividade para a outra, de forma bastante rápida, e por isso temos a falsa sensação de que estamos fazendo duas coisas ou mais, simultaneamente. Mas essa troca de foco tem um custo para o nosso cérebro”, finaliza.
Por Bruno Piai