Oferecer um bom pacote de benefícios é, sem dúvida, um dos principais fatores de atração não só para as organizações trazerem os melhores talentos, como também para promover um trabalho assertivo de retenção. Com a pandemia da Covid-19, o mercado de benefícios foi obrigado a se reinventar. Sob a batuta da “flexibilização” como palavra-chave para guiar processos, adaptações e inovações, as empresas precisam cada vez mais redesenhar suas ofertas para que mantenham seus benefícios como um diferencial competitivo e, não somente isso, mas também um ponto importante na promoção de incentivo, engajamento e bem-estar ao seu colaborador.

De acordo com a pesquisa “HR Trends – Benefícios Corporativos no Brasil”, realizada pela Propay, que há 20 anos oferece soluções para o RH, apenas 48% das 614 empresas nacionais e multinacionais que compõem o estudo têm conhecimento sobre o que é beneflex – ou benefícios flexíveis. A estratégia faz parte da realidade de 8% dos negócios, enquanto 41% planejam adotá-la nos próximos dois anos.

Além disso, a redução de custos também é um ponto levado em consideração antes das organizações planejarem sua oferta de benefícios. Embora haja a ciência de que o modelo híbrido de trabalho tende a promover rupturas e a necessidade por benefícios até então não tão difundidos no mercado como um todo, é preciso considerar que o período de crise que muitos negócios enfrentam por conta dos impactos do novo coronavírus exige maior cuidado com a missão de flexibilizar e melhorar a oferta. Assertividade é, mais do que nunca, fundamental.

Seu negócio está pronto para flexibilizar?

Diante da atual realidade, os desafios de atração, retenção e motivação se tornaram mais complexos. Não é incomum cada vez mais cenários – especialmente de organizações que, desde o início da pandemia fazem do home office parte de sua rotina – de equipes que sequer se conhecem. A adoção de um modelo híbrido ou integralmente voltado ao trabalho remoto exige um cuidado maior para que a distância não afaste o colaborador do propósito e dos valores da organização.

Quanto aos benefícios, as companhias precisam identificar o que funciona e o que não durante (e se futuramente mantido) o período de teletrabalho. Para falar mais sobre, o RH Pra Você convidou Fernando Verderano, Diretor de Benefícios da Propay. Confira o bate-papo:

RH Pra Você: Fernando, como a Propay, uma empresa que trabalha com soluções para RH, enxerga e lida com esse processo de “transformação” da demanda de benefícios? De que modo vocês conduzem ações baseadas nesse “novo normal” e na flexibilização?

Fernando: A pandemia fez com que fossem antecipados alguns processos que já estavam sendo trabalhados. O mercado de benefícios, há algum tempo, já vive a necessidade de se reinventar. 

Antes de tudo é necessário levantar que o brasileiro trabalhar em casa foi a primeira grande quebra de paradigma. Muitas empresas, até pela nossa cultura, não acreditavam que o profissional brasileiro se adaptaria facilmente ao trabalho remoto. O fato dos negócios não pararem durante a pandemia trouxe à tona o quanto somos comprometidos. Na Propay, por exemplo, mantivemos toda a nossa estrutura de trabalho mesmo com o home office.

Outro ponto importante é o quanto, hoje, você consegue expandir a busca por talentos. Você, no trabalho remoto, consegue contratar pessoas de qualquer lugar.  Com essa abertura de mercado, você começa a pensar sobre o que pode fazer de diferente em prol do colaborador. A adoção exclusiva de benefícios de uma determinada região, por exemplo, não vai funcionar para todos se você expandir a logística de atuação de sua equipe.

Todo o cenário trouxe a questão do benefício flexível efetivamente à tona. Desde que entrei no mercado ouço falar sobre, mas na prática não caminhava por vários motivos, como dúvidas referentes à legislação, dificuldade para implementar, entre outros. Hoje, as empresas começam a pensar em soluções. Há negócios, por exemplo, que criaram uma espécie de cartão de crédito/débito para o colaborador usar seus benefícios.

RPV: Qual o tamanho do impacto dessa flexibilização?

Fernando: É um tema que se confunde um pouco. Quando a gente pensa em benefícios flexíveis na prática, você flexibiliza todo o pacote de benefícios de um colaborador. Ele consegue, por meio de pontos, a geração de créditos para selecionar os benefícios que ele deseja, fazer movimentações em planos de saúde, odontológico, seguros, vales, etc. 

Mas como isso tem um grande impacto, o que até então fez com que o conceito não fosse tanto para frente, muitas empresas oferecem o básico, o que está acordado com o sindicato. E como tais benefícios são obrigatórios, quando se faz o estudo de viabilidade para as empresas, que é o grande primeiro passo para fazer um movimento de reestruturação de benefícios, é preciso identificar se o pacote oferecido pode mesmo ser flexibilizado. Com isso, organizações foram visionárias e trouxeram simplicidade à flexibilização de benefícios como vale refeição, alimentação, entre outros.

RPV: É inegável que hoje, seja pela pandemia ou não, muitas empresas estão mais preocupadas com a sua sobrevivência. Como você leva esse conceito de flexibilização de benefícios para empresas que têm outras urgências para suprir?

Fernando: Havia muito uma visão destes benefícios flexíveis serem um cheque em branco, mas isso se quebrou. É uma questão de necessidade, porque ela mudou. É aquela velha história: se você tem o cartão para o restaurante, não consegue usar no mercado. Se tem o cartão de alimentação, não consegue usar em um restaurante. Era uma forma de garantir o uso para necessidades específicas, mas elas mudam conforme o mercado muda. 

Todo e qualquer benefício oferecido, principalmente os chamados “não-seguráveis”, que são os vales com exceção do transporte, podem ser opcionais caso o sindicato ou a organização queira oferecer. Quando um benefício integra uma convenção coletiva, então você obrigatoriamente precisa oferecer esse benefício. É destacado o valor x para o benefício x e assim é necessário seguir. Independente da situação da empresa, ela precisa continuar oferecendo benefícios. A questão é pensar como facilitar o processo e como lidar da melhor maneira com os custos.

RPV: E como a Propay ajuda nesse sentido?

Fernando: Na Propay nós montamos um hub de soluções para Recursos Humanos. Buscamos ser não só um corretor de seguros, mas um verdadeiro parceiro. E essa parceria envolve analisar e trazer soluções que estão efetivamente funcionando no mercado. Não é simplesmente fazer por fazer, é ajudar a construir idoneidade. Nas empresas em que trabalhamos incentivamos a emissão de notas fiscais com a descriminação de todo benefício, de cada valor envolvido. 

Em algum momento o colaborador pode alegar que não conseguiu, por exemplo, usar o cartão em uma situação porque usou em outra, mas a empresa estará assegurada por ter o controle dos valores. O maior cuidado, especialmente quando se pensa no transporte, é esse. A empresa precisa se precaver, mas também precisa orientar, explicar o uso, falar sobre como gerenciar de forma que funcione bem. É fundamental ter todo um controle sobre o que envolve legislação.

Por Bruno Piai