A jornada máxima de trabalho prevista na CLT é de 8 horas diárias e 44 horas semanais, conforme o artigo o 58 da CLT, o que implica em trabalhar 8 horas de segunda e sexta-feira, e 4 horas aos sábados, todavia permite acordos que possibilita outras variáveis, desde que não exceda o total de 10 horas diárias, conforme (art. 7º, XIII, da Constituição Federal e art. 59, § 1º, da CLT).

As experiências conhecidas, principalmente na Inglaterra, trata de 4 dias de trabalho de 8 horas, ou seja, 32 horas por semana, 27% a menos das 44 horas previstas pela CLT, o que  pode ser compensado por maior disposição dos empregados em melhor aproveitamento do uso do tempo, não ocorrendo redução de produtividade. Acredito que uma redução tão drástica não seja viável no Brasil.

Todavia, um acordo entre empregado e empregador de 10 horas diárias de trabalho por 4 dias da semana nos leva a 40 horas, com inúmeras vantagens para ambos os lados, tais como;

– Para o empregado:

  • Tempo livre total em 3 dias da semana. Se o dia livre ocorrer num dia de expediente normal das atividades comerciais, bancárias, repartições públicas, etc., permitirá tratar de problemas pessoais com maior liberdade.
  • Algumas horas a menos de estresse com o transporte casa/trabalho/casa. Nas maiores cidades, o tempo de transporte pode chegar a mais de uma hora em cada sentido.
  • Melhor aproveitamento das folgas semanais para laser e convivência social, facilitando viagens curtas com menos correrias.
  • Redução de estresse por pressões de trabalho, melhora da saúde em geral.

– Para o empregador:

  • Possibilidade de aumentar a produtividade com a redução do set up, e set out (início e final do dia de trabalho).
  • Menor abstenção. Redução de ausências ou faltas para tratar de assuntos pessoais.
  • Melhor disposição física e mental de seus empregados.
  • Melhor clima organizacional.

Em termos gerais, essa opção pode ajudar a reduzir o desemprego, possibilitando novas turmas de trabalho nas mesmas instalações, redundando num aumento de produção sem maiores investimentos em infraestrutura.

Convém transcrever outras observações resultantes das experiências em andamento em diversos países:

A pesquisadora responsável pelo teste, Juliete Schor, professora do Boston College, comemora a pouca variação dos dados entre as empresas. “Os resultados são em geral consistentes em locais de trabalho de vários tamanhos, demonstrando que essa é uma inovação que funciona para muitos tipos de organização”, afirma.

“Mas há também algumas diferenças interessantes. Percebemos que trabalhadores de organizações sem fins lucrativos e prestadores de serviços especializados tiveram um aumento maior no tempo gasto com exercícios físicos, enquanto aqueles que trabalham no setor de construção ou indústria tiveram as maiores reduções em casos de burnout (esgotamento) e problemas para dormir.”

 Tempo com a família

Entre os benefícios para os trabalhadores, a pesquisa registra a diminuição dos relatos de estresse no ambiente de trabalho: 39% das pessoas ouvidas disseram sentir que seu nível de estresse diminuiu, contra 13% que disseram que o estresse aumentou e 48% que não notaram mudanças. Além disso, 48% das pessoas disseram estar mais satisfeitas com seus empregos do que antes do teste.

Um dos ganhos mais relatados foi no equilíbrio entre o trabalho remunerado e as demandas de trabalho doméstico e de cuidados: 60% das pessoas relataram sentir que estava mais fácil balancear as duas pontas.

“Você não tem ideia do que isso significa pra minha família – a quantidade de dinheiro que vamos conseguir poupar no cuidado com as crianças”, disse um trabalhador de uma organização sem fins lucrativos citado pela pesquisa de forma anônima.

No mesmo sentido, conflitos entre trabalho e o tempo com a família diminuíram: 54% dos trabalhadores relataram ser menos provável que se sentissem cansados demais para realizar trabalhos domésticos – antes do teste, apenas 10% relataram essa situação.

A pesquisa também buscou saber se a mudança traria benefícios para a divisão do trabalho doméstico entre os gêneros. De fato, homens relataram ter aumentado mais seu tempo dedicado às tarefas de casa do que as mulheres: 27% contra 13%. No entanto, 68% das pessoas não relataram mudanças na divisão da carga desse trabalho entre homem e mulher em seus lares.

O novo CEO da 4 Day Week Global, Dale Whelehan, cita outras diferenças de resultado entre os gêneros detectadas no estudo.

“Homens e mulheres se beneficiaram da semana de quatro dias, mas a experiência das mulheres em geral é melhor. É o caso para burnout, satisfação com vida e trabalho, saúde mental e redução do tempo no transporte. De forma encorajadora, o fardo dos deveres não relacionados ao trabalho fora de casa parece se equilibrar mais, com mais homens assumindo uma parcela maior do trabalho doméstico e do cuidado com as crianças.”

Com o resultado do Reino Unido, a Four Week Global chegou a 91 empresas e aproximadamente 3.500 trabalhadores que participaram de programas piloto ao redor do globo, incluindo países como Irlanda, Canadá, Estados Unidos e Nova Zelândia.

Nas próximas semanas, a organização deve divulgar os resultados do teste que está sendo realizado na Austrália. Também há experimentos em desenvolvimento na África do Sul, Brasil e outros países da Europa, com resultados previstos para os próximos meses.

Vicente Graceffi, consultor em desenvolvimento pessoal e organizacional. É um dos colunistas do RH Pra Você. O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação.