A evolução dos cargos do RH

No ano passado, a Cognizant, corporação que atua com tecnologia da informação, divulgou, a partir de um estudo, uma lista com as 21 novas profissões da área de Recursos Humanos. O levantamento destacou que a nova era do setor precisará ter uma atenção especial a temáticas como bem-estar, trabalho com dados e parceria entre pessoas e máquinas.

As mudanças referentes a cargos e segmentos não acompanham somente as tendências do mercado de trabalho. A atenção social dada a determinados assuntos contribui ativamente para as empresas tomarem a decisão sobre seus próximos passos. Gestor de Diversidade & Inclusão é, por exemplo, uma função que começa a ganhar espaço dentro das organizações, assim como o Chief Happiness Officer (Diretor da Felicidade), que já estampa páginas de contratos ao redor do globo.

De acordo com Vicente Picarelli, sócio-diretor da Picarelli Human Consulting, o processo de desenvolvimento de novos cargos não só faz parte de uma tendência natural de evolução do mercado, como também é acelerado por conta do chamado “novo normal”.

“O novo normal no mundo do trabalho está mais complexo e isto muda a forma de envolver as pessoas. Elas estão trabalhando mais tempo e continuamente conectadas aos seus empregos por tecnologias móveis. Além disso, suas motivações também mudaram e continuarão mudando. Elas buscam propósito e harmonia para suas vidas pessoais e trabalho. Flexibilidade, capacitação, desenvolvimento e mobilidade agora desempenham importante papel na definição da cultura de uma empresa”, pontua.

O consultor esclarece que o desenvolvimento de funções do RH tem o potencial, inclusive, de atender necessidades que a própria máquina pública, hoje, não consegue. “Já é realidade o fato de as empresas estarem substituindo, gradativamente, os papéis do Estado no que diz respeito aos assuntos que envolvem a sociedade do ponto de vista humano. Fundadas em gigantescas estruturas baseadas na acomodação de interesses e privilégios, o Estado, há muito, não consegue entregar com qualidade, eficiência e velocidade os seus serviços essenciais aos cidadãos”, salienta.

Necessidade de inovação

A necessidade em inovar quanto aos cargos não se resume aos fatores sociais ou de bem-estar. Picarelli explica que fatores como a deficiência na formação de profissionais preparados para as novas necessidades de mercado, treinamentos defasados e dificuldades de organizações para atrair e reter talentos contribuem para que seja preciso mudar alguns formatos de condução de processos empresariais.

“Do ponto de vista da nova realidade emergente, as transformações profundas não são aquelas desencadeadas pela adoção de novas tecnologias ou novos processos de trabalho, mas sim aquelas que estão relacionadas com uma nova forma de ver e sentir as coisas. Um novo comportamento que desafia os valores sem sentido ético e revela as incoerências da vida, sejam elas pessoais, sociais ou corporativas”, ressalta o consultor. Consequentemente, além de todas as habilidades técnicas e criativas, os líderes e profissionais em geral terão que desenvolver sua maturidade psíquica. 

Além de tudo isso, não podemos nos esquecer que as mudanças no RH também são conduzidas pelo “novo status” da área dentro das companhias. Seu viés cada vez mais estratégico e ativo no processo de tomada de decisões exige que haja maior assertividade na organização do setor.

Picarelli acrescenta, ainda, que “não esgotando o assunto dos novos papéis do RH, é imprescindível considerar um dos seus mais sensíveis temas: a equação Performance, Reconhecimento e Recompensa que tem sido o calcanhar de Aquiles na elaboração de uma boa estratégia de gestão de pessoas. O seu desequilíbrio é o maior causador de ruídos e conflitos dentro da organização”.

E quais são os novos cargos?

Diante do contexto apresentado, que se soma ao desafio das empresas também no que diz respeito à comunicação e à construção de uma linguagem que explique o novo mundo organizacional, Picarelli acredita que as profissões com maior potencial de ganhar vida e destaque nas organizações são (a lista e as descrições são de autoria do consultor):

Promotor da Diversidade & Inclusão

Profissional com grande experiência na matéria, com profundo conhecimento em sócio-psicologia e capacidade para administrar o assunto dentro da organização tanto em relação aos fatores que envolvem inclusão quanto no relacionamento com outras empresas e entidades do terceiro setor nos temas que tocam à diversidade.

Cientista de Dados

Profundo conhecedor em tecnologia com amplo conhecimento em big data, inteligência artificial, métodos ágeis, estatística, matemática, algoritmos, interpretando dados que envolvem os profissionais da empresa e transformando os seus resultados em inteligência de negócio e valor para a organização.

Condutor da Cultura e Propósito

Responsável por preservar os valores éticos humanos e organizacionais e garantir através de estratégias e ações que a organização esteja permanentemente direcionada para a execução dos seus propósitos, introduzindo sempre que necessário mudanças em sua cultura, suficientes para continuarem a dar vida e ânimo aos seus colaboradores.

Arquiteto Organizacional, Redes e Ambientes

As novas formas de trabalho demandam desenhos organizacionais que apresentem, em seus modelos, estruturas flexíveis que permitam o trabalho multidisciplinar, multicultural, multilocal e ao mesmo tempo propicie as infraestruturas necessárias para apoiar a sua comunicação, interação, acesso a dados, independente de onde o trabalho está sendo realizado ou o cliente atendido.

O profissional responsável por esta função deverá também desenhar as progressões de carreira através de um diálogo constante com os demais executivos da empresa com o intuito de manter sintonia entre as estratégias empresariais e o desenvolvimento de redes de apoio e de inovação conectando as partes para a realização do todo organizacional.

Gestor de Equipes – Humanos e Máquinas

Desenvolve e introduz sistemas de interação entre humanos e máquinas preparando os profissionais para a construção de um novo Mindset que aceite e sustente essa nova forma de trabalho em equipes híbridas, estabelecendo também novos padrões de resultados.

Líder e Mentor da Performance, Reconhecimento e Recompensa

Integra e estabelece coerência entre os sistemas de performance, reconhecimento e recompensa com as estratégias, papéis, responsabilidades e indicadores de desempenho organizacionais, mantendo constante equilíbrio entre as diversas variáveis da dinâmica empresarial, usando adequadamente os recursos financeiros da organização através da adoção de uma boa política compensatória que, ao mesmo tempo, considera a importância dos seus colaboradores, não somente do ponto de vista dos desafios da função, mas também do seu valor no mercado, do seu potencial, suas competências, seu crescimento profissional, sua maturidade, seus resultados e principalmente de sua expectativa psicológica satisfeita!

Executivo Líder da Força de Trabalho

Responsável pela inteligência e estratégias que garantam a disponibilidade da força de trabalho no destino e momentos exatos, com a qualificação requerida, vínculo contratual específico e ações de onboarding estabelecidas.

A partir das estratégias da organização e da projeção de novos perfis profissionais, realizar estudos de mão de obra crítica, de locais e fontes de mão de obra qualificada e desenvolver ações que tornem a organização um “imã de talentos”.

Mentor Líder de Educação e Desenvolvimento

Responsável nas organizações pela criação de estratégias de desenvolvimento que harmonizarem seus modelos cognitivos, os quais deverão, ao mesmo tempo, preparar seus profissionais para atenderem tanto as demandas de um mundo prático e de negócios como adquirirem uma capacidade inovadora e criativa para a construção de um mundo com novas possibilidades. Desenvolver líderes que conduzirão a sociedade à nova era.

Criar redes de relacionamento com universidades, instituições, escolas, editoras, professores, mestres, coaches e demais educadores para elaboração, adaptação ou definição de cursos e treinamentos necessários à organização.

Executivo Líder de Comunicação

Responsável pela construção de uma linguagem cognitiva e imagética em um ambiente de negócios onde a dinâmica das relações são mais intensas e sofisticadas exigindo velocidade, clareza e conteúdo inteligente das comunicações conectando, através de uma diversificada tecnologia midiática, os interlocutores que terão papel fundamental na disseminação das mensagens preferenciais.

Do ponto de vista estratégico, a área de comunicação de uma organização, se ressignificada, poderá desempenhar um papel essencial na consolidação da cultura que se pretende instalar ou modificar. Com os devidos instrumentos corporativos presentes, ela pode unificar a linguagem empresarial aproximando as áreas operacionais, comerciais e administrativas tendo em vista a evolução, inovação e expansão do negócio. 

Por Bruno Piai