Por conta da alta concorrência no mercado de trabalho e em decorrência do índice de desemprego cada vez maior – 11,2%, segundo dados do IBGE, com estimativa de chegar a 13,7% até o final de 2022, de acordo com levantamento da Austin Rating, agência de classificação de risco -, quando um profissional consegue aquela tão desejada vaga, muitas vezes se sente pressionado, pois deseja entregar resultados “a qualquer custo” para a empresa. 

Diante de tal contexto, muitos profissionais acabam se perdendo e tornam-se “workaholics” – termo que se refere às pessoas que desenvolvem vício em trabalhar. Porém, trabalhar além do que é necessário pode trazer consequências negativas para a saúde e a qualidade de vida do profissional.

Uma pesquisa da representante brasileira da International Stress Management Association (Isma-BR) identificou que 47% dos profissionais apresentam algum índice de depressão no mercado de trabalho. Esse número, que corresponde a praticamente metade dos profissionais, revela, entre outras coisas, a dificuldade de equilíbrio entre a vida profissional e a pessoal. O excesso de tarefas ajuda no desenvolvimento de doenças, que podem se manifestar de diversas formas. Mas como identificar se eu trabalho mais do que deveria?

“Trabalhar mais do que o necessário, na visão do profissional, aparentemente, pode trazer mais retorno na carreira. Contudo, pode também afetar a saúde emocional e a saúde mental, o que prejudica a performance”, explica a especialista em desenvolvimento humano Susanne Andrade, autora do best-seller “O Poder da Simplicidade no Mundo Ágil”.

Ou seja, se você é o tipo de pessoa que dorme pensando nos afazeres do dia seguinte, que perde o sono porque tem uma agenda cheia ou que não sai do celular preocupado com os assuntos de trabalho nos finais de semana, você pode estar nessa parcela da população, que vira refém e escravo do trabalho.

Para Susanne, é muito importante, sim, ter responsabilidades e buscar crescer profissionalmente, mas existem limites. “Um “workaholic” não necessariamente se sente feliz por trabalhar tantas horas. Inclusive, o termo conhecido internacionalmente está relacionado ao baixo prazer profissional. Ou seja, assim como qualquer vício químico ou sentimental, um viciado em trabalho colherá consequências que podem prejudicar o seu bem-estar, e também impactar negativamente as empresas a longo prazo”, avalia ela.

Empresas buscam profissionais equilibrados na carga horária

Pensando pelo lado das corporações, a situação de ter um colaborador “workaholic” não é algo tão vantajoso. “Mesmo que no início ele seja visto como um profissional dedicado, que entrega os resultados e atende os clientes de maneira ágil, com o passar do tempo, o profissional ficará cansado, com queda de desempenho”, analisa a especialista.

Além disso, certamente essa pessoa também terá dificuldades na vida pessoal, já que não terá tempo hábil para conciliar tudo de uma forma saudável. “Claro que, em algumas circunstâncias, será necessário ficar mais tempo no trabalho. O que não pode acontecer é deixar que a exceção se torne uma rotina. Tudo é uma questão de equilíbrio”, ensina ela.

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Hora extra x metas a cumprir

Na visão de Susanne, se o profissional está precisando fazer hora extra sempre para atingir as metas, provavelmente impostas pela empresa, com certeza algo está errado, pois os resultados devem ser sempre possíveis de serem alcançados durante a jornada de trabalho. 

“As metas da empresa precisam ser revistas, com a participação do profissional como protagonista, pois ele pode estar executando uma função fora do seu perfil ou desconectada de seu propósito. Portanto, o trabalho saudável é aquele que não “amarra” o profissional na empresa, e que estabelece metas possíveis”, diz a especialista.

Vale ressaltar que o descanso é não só merecido como necessário para o crescimento e o bom rendimento dos membros de uma equipe, que devem estar felizes com o seu propósito profissional. “Quando tudo encontra-se alinhado, os resultados surgem de forma natural,  com o gasto de tempo de maneira adequada e equilibrada”, afirma Susanne.

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Orientações para não cair na armadilha do excesso

Segundo David Braga, CEO, board advisor e headhunter da Prime Talent, a gestão da rotina profissional, com equilíbrio e coerência, é de responsabilidade individual. Segundo ele, se o profissional não estabelece rotinas para si, as empresas acabam criando novas demandas e tarefas e o workaholic se vê atolado, pois quer “abraçar o mundo”.

“Quando [o colaborador] vai absorvendo novas atividades, sem respeitar o próprio limite, o corpo grita. Não à toa, o Brasil desponta nos índices de burnout, a famosa Doença do Século, que tem levado muitos profissionais à estafa mental”, acrescenta. Assim, perdem as corporações e os colaboradores”, salienta.

Para o executivo, o excesso de trabalho e o vício – consciente ou não – na rotina profissional pode ser evitado seguindo algumas recomendações:

  • Priorizar o que é urgente em detrimento do importante;
  • Segmentar o que você precisa entregar;
  • Reavaliar se o que tem feito, hoje, produzirá resultados para o futuro;
  • Não criar ou manter a cultura do “tudo para ontem” – esse tipo de ambiente gera estresse, fica tóxico, adoece as pessoas e cria o sentimento de incompetência ou de incapacidade;
  • Fazer uma autorreflexão: se você está em uma empresa da qual não compactua com os valores, o que ainda faz aí? Sua opinião não é escutada ou você não é valorizado no emprego, o que tem feito para alterar esse contexto? Trabalha de forma excessiva? Reveja seu dia a dia.

Burnout se torna doença ocupacional

“Antes de ter uma crise de burnout, promova mudanças na sua rotina para obter mais qualidade, assertividade e até mesmo produtividade. A vida pede atitude, mas também leveza. Viver com equilíbrio mostra sabedoria, especialmente porque já percebemos que a vida é curta. E, lembre-se: profissionais de sucesso assumem o controle de suas vidas – criam caminhos para mudar aquilo com o que não concordam ou que os deixa insatisfeitos. Já os demais – ou os medianos – o que fazem? Preferem deixar a vida passar por meses ou anos”, acrescenta Braga.

Segundo ele, na atualidade, e cada vez mais, as pessoas têm buscado o equilíbrio, a fim de conseguir dar conta de todas as esferas da vida – profissional, pessoal e espiritual. “Saiba que você está exatamente onde batalhou para estar. E se não estiver contente com a situação, crie novas formas e maneiras para mudar este cenário. Como sabiamente disse o físico Albert Einstein: ‘A vida é como andar de bicicleta. Para manter o equilíbrio é preciso se manter em movimento'” conclui.

Por Bruno Piai