É cada vez menos novidade o fato de que as redes sociais podem ser decisivas para um recrutador decidir se aprovará ou não um candidato. Implícita ou explicitamente, é natural que os responsáveis pela seleção busquem o máximo de informações sobre um profissional antes de integrá-lo ou não a sua empresa, e além das entrevistas, as redes pessoais representam outro caminho para se conhecer um pouco mais a respeito do indivíduo avaliado. No entanto, na atual dinâmica do mercado, algumas mídias sociais podem destoar em relação a alguns pontos, como é o caso do TikTok.

Há pouco tempo, uma dança realizada na plataforma motivou a anulação de uma sentença favorável a uma mulher que processou a joalheria onde trabalhava por dano moral e omissão de registro. A comemoração ao lado das testemunhas não pegou bem e, inclusive, culminou em multa para a ex-funcionária. Mas o lado corporativo do TikTok não se resume somente a males. Diversas empresas já utilizam a plataforma, por exemplo, para prospectar talentos.

Em um processo seletivo realizado cujas inscrições finalizaram em junho deste ano, a Galena, empresa de educação voltada à empregabilidade de jovens, utilizou a rede como uma das etapas de seu processo seletivo para a contratação de novos estagiários. Uma das missões dos candidatos era a de produzir e postar um vídeo de até 60 segundos no TikTok falando sobre empregabilidade jovem.

Diante do atual cenário da rede social em meio ao ambiente corporativo, é natural que algumas preocupações se manifestem. Influenciadores digitais, inclusive, já se utilizam do humor para levantar um ponto importante: saber utilizar o TikTok será um fator determinante para o currículo?

O fator TikTok

Segundo Carol Junqueira, Gerente de Marketing & Cultura da Simplex, ser um assíduo conhecedor do TikTok não é, ainda, uma obrigação, mas já pode ser tratado como um importante diferencial. Para se conectar às novas gerações, o mercado precisa não apenas compreender sua linguagem, como também entender seu modus operandi.

É uma tendência que parece estar chegando com uma força expressiva. Isso não passou despercebido por um dos gênios do SEO e que é um dos nomes mais respeitados do mundo em marketing digital: Neil Patel. Bem no estilo TikTok, Patel gravou um vídeo de 30 segundos no qual ele sugere que essa mídia, adorada pela geração Z, tem potencial para assumir, em breve, a liderança em buscas, justamente pelo comportamento de seus usuários”, diz.

TikTok já faz parte de processos seletivos

Engana-se quem acredita que não ter a geração Z como público alvo é uma justificativa para não se atentar aos novos recursos e ferramentas digitais. Em alguns segmentos, o TikTok se tornou um verdadeiro motor e catalisador de ações. Na indústria musical, por exemplo, uma pesquisa recente identificou que 80% dos usuários afirmaram ter descoberto novas músicas e artistas por meio da plataforma, o que supera o “potencial de apresentação” de grandes streamings. Não à toa, há gravadoras e artistas que constroem o seu material de forma a torná-lo de fácil viralização na plataforma.

“É verdade que o rádio e a televisão também impactaram os processos de comunicação e a forma de atuar dos comunicadores. Todos foram obrigados a se adaptar à linguagem dessas novas mídias. Assim também ocorreu com o surgimento da internet no final dos anos 1980. As novas mídias digitais apresentaram caráter disruptivo e trouxeram grandes desafios para a comunicação e para os comunicadores. A situação agora parece ser um pouco mais desafiadora”, salienta Carol.

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Novos dançarinos no pedaço?

Para a especialista em Recrutamento & Seleção e em Departamento Pessoal, Fernanda Lopes, os “exageros” por trás das brincadeiras que dizem que dançar vale tanto quanto um currículo tem um pingo de verdade. A recrutadora conta que já trabalhou vagas nas quais os clientes fizeram demandas um pouco fora do tradicional, mas que começam a dar início a uma nova tendência.

“Obviamente o currículo sempre vai ter o seu peso, mas é sempre importante lembrar que estamos em uma nova era do mercado. É uma era na qual as soft skills vêm assumindo uma importância muito grande. Se antes o recrutador encontrava quase tudo o que procurava em um pedaço de papel, hoje o que ele busca vai muito além. O fator TikTok, assim como fator Instagram, o fator Twitter, entre outros, está ligado a, primeiro, reconhecer o impacto de cada rede social no negócio e, segundo, saber como explorá-la da melhor maneira”, pontua.

Fernanda esclarece que as dinâmicas envolvendo TikTok não são excludentes, mas sim parte de um alinhamento estratégico dos negócios para encontrar novos talentos que sejam capazes de falar com diferentes públicos por meios diversos. A especialista salienta que embora “dançar” não seja necessariamente a skill procurada, a criatividade é uma habilidade que não pode faltar.

“O uso do TikTok está atrelado ao potencial criativo. Não é simplesmente chegar e dançar, é ser capaz de se apresentar de uma forma dinâmica, lúdica e interessante. É ser capaz de, uma vez dentro da empresa, explorar a jovialidade da marca, falar com novos públicos, acompanhar tendências e novidades. Você não precisa ser um heavy user de TikTok e tampouco precisa gostar da rede. Mas não pode fechar os olhos para o fato de que é por ele que a marca impacta milhões de pessoas, assim como por outras mídias, a depender de seu foco, de onde está seu público”, comenta.

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O poder dos influenciadores

Não é por acaso que as empresas têm a preocupação não apenas de tornar suas redes, como o TikTok, canais de divulgação, mas também mecanismos que as coloquem no papel de influencers. Uma pesquisa recente da plataforma CupomVálido identificou que o Brasil é o país no qual os influenciadores são mais relevantes para a decisão de uma compra.

Mais de 43% da população brasileira já realizou uma compra influenciado por uma celebridade ou influencer, uma taxa significativamente maior que outros países, como 17% no caso dos Estados Unidos. A China está em segundo lugar, com 34%. Foi nela, inclusive, que o TikTok foi criado. Os chineses são os pioneiros no chamado social commerce e live commerce, onde os influenciadores realizam divulgações e lives nas plataformas das redes sociais para divulgação de lojas e produtos.

Brasileiros são influenciados pelas redes sociais antes de fazer compras

Vale destacar, inclusive, que o Brasil é o 3º país que mais utiliza redes sociais no mundo. Na média, os brasileiros gastam 3 horas e 42 minutos por dia nas redes e elas contam com mais de 150 milhões de usuários no país.

“As redes sociais são muito poderosas para o comércio no Brasil e agora os gestores descobriram que elas são igualmente fortes para o encontro de talentos que não seriam encontrados por outros meios. Portanto, seja no TikTok ou em outra mídia social, reforço que você pode até não ser o maior adepto, mas o mercado de trabalho cada vez mais é. Saber usá-las a seu favor pode ser um diferencial de carreira”, finaliza Fernanda.

Por Bruno Piai