O mercado de trabalho se transformou por completo desde o início da pandemia. Mais do que isto, as pessoas passaram a rever conceitos, a repensar o que efetivamente é importante para elas e, consequentemente, a cogitar novos rumos. Muitos profissionais tiveram a oportunidade de vivenciar o trabalho remoto ao longo dos últimos anos e boa parte deles não quer abrir mão da flexibilidade conquistada.
Segundo pesquisa da Robert Half, que entrevistou 1.161 profissionais ao redor de todo o País, 39% dos colaboradores buscariam um novo emprego se a empresa onde trabalham atualmente decidisse não oferecer ao menos uma opção parcialmente remota.
“Não é mais novidade a necessidade de diálogo entre empresas e funcionários para definir qual será a melhor experiência de trabalho daqui em diante. Cada profissional, empresa ou área se relaciona com o trabalho remoto de maneira muito particular. Teve quem mudou de cidade, quem resolveu buscar uma vida mais tranquila, quem passou a conviver mais com os filhos e não quer abrir mão disso. Assim como há quem sinta a necessidade de ir ao escritório para produzir e evitar distrações. Sem dúvidas, a melhor forma de lidar com essas peculiaridades é por meio do diálogo aberto, transparente e da inclusão do colaborador nessa decisão de retorno”, argumenta Fernando Mantovani, diretor-geral da Robert Half para a América do Sul.
Home office como modalidade de trabalho e não mais como benefício
Até o começo de 2020, o trabalho remoto não fazia parte da realidade da maioria dos trabalhadores brasileiros. De acordo com os entrevistados, apenas 21% tinham a possibilidade de trabalhar de casa antes da pandemia. Entre os recrutadores, 26% disseram que já ofereciam home office como parte do pacote de benefícios corporativos.
No entanto, a sociedade passou por disrupções que promoveram mudanças no cerne do mercado. Ficou claro ser possível contribuir para a prosperidade dos negócios, independentemente da localização geográfica em relação à organização.
Se antes o trabalho remoto era visto como um benefício, hoje o colaborador tem a consciência de que está diante de um modelo de trabalho preparado para o futuro. Essa percepção é compartilhada por todas as categorias entrevistadas pela Robert Half. Entre os empregados, 77% enxergam o home office como um modelo de trabalho. Já entre os recrutadores, 72% emitem a mesma opinião. Ao ouvir os desempregados, a porcentagem atinge 80%.
Veja mais: Pesquisa: 75% das pessoas dizem estar “extremamente felizes” em home office
Preferência pelo híbrido
A possibilidade de manter a vida pessoal em equilíbrio com a profissional sem perder por completo o poder do encontro físico fez com que o modelo híbrido, aquele que mescla dias no escritório e dias em casa, se destacasse entre empresas e profissionais. Na visão de 77% dos empregados, esse é o melhor modelo de trabalho. Em seguida, 17% indicam o trabalho remoto e apenas 6% o modelo integralmente presencial.
O estudo ainda demonstra que as empresas estão atentas ao desejo dos colaboradores, embora algumas não tenham um plano de retorno totalmente definido. A depender de 57% dos recrutadores entrevistados, as companhias para as quais trabalham devem adotar o modelo híbrido de trabalho daqui para a frente. Além deles, 33% indicaram que planejam retornar ao modelo 100% presencial e 10% disseram que permanecerão integralmente em home office.
Estratégia de atração e retenção de talentos demanda escuta ativa
Diante desse cenário, o levantamento comprova que a tendência já é percebida na rotina das organizações: 42% dos recrutadores revelaram que têm visto colaboradores buscarem um novo trabalho depois que a empresa optou pelo retorno 100% presencial. Na percepção de 22% deles, por mais que ainda não sintam o impacto no dia a dia, essa evasão ainda pode vir a acontecer no futuro. Entre os desempregados, 20% disseram que não aceitariam uma proposta de trabalho de uma empresa que não oferecesse trabalho remoto de maneira parcial ou integral.
“Os níveis de desemprego da população em geral tem caído, mas ao analisar especialmente o mercado de profissionais qualificados, eles se mostram expressivamente menores. Para se ter uma ideia, no segundo trimestre de 2022, a taxa de desemprego para esse grupo ficou em 5,3%. Por isso, mais do que nunca é tão importante escutar sua força de trabalho”, analisa Mantovani.
“A evolução dos modelos de trabalho representou uma das maiores quebras de paradigma dos últimos anos e fugir disso seria caminhar em direção ao passado. Caiu por terra o pensamento que vinculava produtividade ao trabalho integralmente presencial. Portanto, as empresas que, sem justificativa, optarem pelo retorno completo ao escritório terão dificuldade para atrair talentos, que já não estão à solta no mercado, além de correr o risco de perder profissionais-chave para companhias mais flexíveis”, conclui o diretor-geral da Robert Half.
Veja mais: EX é aposta do mercado para fortalecer atração de clientes e colaboradores
Para saber mais
O desejo dos colaboradores em permanecer trabalhando remotamente nem sempre é acompanhado pelos seus líderes e gestores. Não à toa, satisfazer ambos os lados se torna um desafio complicado para as organizações, especialmente quando o retorno presencial já é realidade. Mas é possível chegar em um equilíbrio quando a opinião sobre qual modelo de trabalho adotar é polarizada?
É sobre isso que fala o professor Paul Ferreira, vice-diretor do Núcleo de Estudos em Organizações e Pessoas (NEOP) na Fundação Getúlio Vargas (FGV EAESP). O “cabo de guerra” está formado na sua organização? Então confira o que o especialista tem a dizer no RH Pra Você Cast:
Por Redação