Em maio de 2024, o Gympass deu um passo ousado em meio a um movimento de consolidação da sua missão de levar bem-estar às pessoas. Com mais de 500 milhões de check-ins realizados (até julho deste ano), cerca de 19 mil clientes e uma rede com mais de 60 mil academias e estúdios – sem contas as parcerias para mindfulness, terapia, nutrição, sono e outros serviços –, a marca oficializou o seu rebranding, passando a se chamar Wellhub.
Para aumentar sua força como um player com um portfólio cada vez maior de soluções, a companhia se posiciona em um momento no qual tópicos como bem-estar, equilíbrio entre vida pessoal e profissional e saúde mental ganham força dentro das organizações.
Todavia, por mais que seja nítido, especialmente nas redes sociais e nos eventos corporativos, o quanto tais assuntos se tornaram muito mais debatidos nos últimos anos, ainda chama atenção a vasta gama de levantamentos que revela que, se tem uma coisa que o Brasil não está encontrando no trabalho, é saúde.
Um estudo recente da Gallup, por exemplo, feito com 128 mil pessoas de 160 países, elencou o Brasil como o quarto país com mais profissionais tristes ou estressados diariamente. Embora nem todos os gatilhos estejam necessariamente relacionados ao trabalho, é inegável que fatores como carga de trabalho excessiva, dificuldades de adaptação ao trabalho remoto – ou ao retorno presencial – e lideranças despreparadas contribuem para o cenário.
De acordo com Priscila Siqueira, líder do Wellhub no Brasil, o ambiente corporativo olhará com maior atenção para o fator qualidade de vida se identificar não só uma melhora no bem-estar do colaborador, mas também o quanto isso impacta em sua produtividade e no negócio como um todo. Por conta disso, mais do que simplesmente “fazer algo”, as organizações devem ser assertivas na escolha do que será feito.
“Nós estamos sempre conversando com nossos clientes sobre [a temática da qualidade de vida evoluir], principalmente sobre o retorno de investimento deles em relação à nossa plataforma de bem-estar e como a nossa solução gera retorno tanto para o colaborador quanto para a empresa. A demanda por soluções holísticas de bem-estar tem crescido, e as empresas estão cada vez mais reconhecendo a importância de investir na saúde integral de seus colaboradores”, destaca.
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A importância dos dados
Para “fazer a lição de casa” no sentido de entender a efetividade de suas ações para melhorar a vida dos profissionais, o Wellhub conta com duas pesquisas que apoiam a tomada de decisões. Uma é voltada a líderes e outra fala com liderados. Na primeira pesquisa, feita com 2 mil líderes de RH, em nove países, alguns dados compartilhados por Priscila chamam atenção especialmente sobre o Retorno sobre o Investimento (ROI) de empresas que acertam em cheio nos cuidados com as pessoas. Entre alguns deles, estão:
- 99% dos líderes de RH veem aumento na produtividade dos colaboradores graças ao programa de bem-estar;
- 93% das empresas informam economia nos custos de saúde por conta do programa;
- 64% têm um retorno superior a 100% do investimento realizado.
“Então, esses são números que nos ajudam a medir nosso impacto na vida das empresas e dos colaboradores”, salienta a líder, que também levanta dados da Pesquisa do Bem-Estar Corporativo, feita com 5 mil colaboradores, também em nove países. O maior destaque fica por conta da relevância do bem-estar, que, para 93% dos profissionais, hoje, tem pelo menos o mesmo peso da remuneração salarial. O estudo ainda revela que:
- 87% dos trabalhadores deixariam uma empresa que não prioriza o bem-estar;
- 96% levarão em conta apenas empresas que claramente priorizam o bem-estar ao procurar seu próximo emprego.
“Nós temos dois exemplos muito interessantes [da nossa atuação]. Desde março de 2021, temos uma parceria com o Sebrae-MG e tivemos um engajamento da ordem de 70% entre os colaboradores e 50% entre familiares. Esses números os ajudaram a reduzir significativamente a utilização do plano de saúde, o que possibilitou renegociar descontos na renovação que basicamente cobrem o preço da nossa solução para a empresa. Outro exemplo é a Riachuelo. Eles têm 30 mil colaboradores, dos quais 5 mil são usuários ativos da nossa plataforma. O número é tão expressivo que representa mais de quatro vezes o engajamento que eles obtiveram com a solução anterior”, conta Priscila.
Cultura fraca interfere nas ações
Antes de ter, de fato, ações que sejam eficientes, é fundamental que as organizações estejam estruturadas para tal. Com a qualidade de vida não é diferente. Segundo uma pesquisa do Pandapé em parceria com a Impulso, cultura organizacional e liderança foram os principais gargalos das empresas em 2024.
De acordo com o estudo, 14% das empresas lutam para consolidar uma cultura organizacional forte e engajar os colaboradores. Em um mercado de trabalho cada vez mais competitivo, falhar em criar um ambiente de pertencimento e propósito pode custar os melhores talentos para os concorrentes.
"Cultura organizacional vai além de valores escritos no mural ou em discursos. Ela é o que sustenta a inovação, retém os melhores talentos e transforma resultados. Se a cultura é fraca, a empresa perde consistência e engajamento." afirma Hosana Azevedo, Head de Recursos Humanos do Infojobs e porta-voz do Pandapé.
No recorte da liderança, o desafio é constante para 13% das empresas respondentes. Em tempos de transformações rápidas, líderes eficazes são essenciais para manter equipes alinhadas e motivadas. A ausência de programas estruturados de capacitação de líderes pode comprometer a capacidade da organização de enfrentar mudanças e conduzir times de forma eficiente.
Além dos desafios culturais e de liderança, 11% das empresas também enfrentam dificuldades em promover um ambiente que priorize a saúde mental e o bem-estar dos colaboradores. Empresas que não oferecem suporte adequado nessa área enfrentam maior turnover e queda na motivação das equipes. Segundo Hosana, "um ambiente de trabalho saudável é um ativo estratégico para qualquer organização. Ignorar isso pode resultar em perdas significativas de produtividade e comprometimento dos colaboradores".
Por Bruno Piai