Segundo o Guia Salarial 2023, da Robert Half, a maioria dos recrutadores (68%) não tem dúvidas sobre quais serão os maiores desafios do próximo ano: buscar e reter talentos. Não é por acaso que o tema é motivo de verdadeira preocupação para 76% dos entrevistados. O panorama deixa claro que as organizações precisam aproveitar o próximo ano para estabilizar suas estratégias de atração no pós-pandemia.
Coordenadora de Recrutamento & Seleção na RH Nossa, Eliane Catalano destaca que o mercado de trabalho vive um momento de consolidação de novos paradigmas à medida que muitas tendências começam a ser adotadas por opção dos gestores e não por necessidade motivada pela pandemia da Covid-19.
“O mercado de trabalho de 2023 começará com tendências na flexibilidade, na mobilidade interna e na contratação por competências que serão ainda mais notórias. No bastidor disso, o desafio agora é conquistar novos talentos e criar ambientes interessantes tanto para quem contrata quanto para quem colabora”, diz.
Flexibilidade é elemento importante
Talvez um dos maiores fatores de impacto do período pandêmico para o universo corporativo, o modelo remoto de trabalho se tornou uma das prioridades para atrair novos talentos. Um estudo produzido pela Formstack revela que 77% se sentem mais produtivos enquanto atuam de suas casas.
Outro levantamento, desta vez da Alelo, registra que 75% dos profissionais se consideram extremamente felizes em home office, enquanto 59% dizem que não apenas se adequaram muito bem à forma de trabalho, como também se sentem melhores do que quando precisam comparecer ao escritório.
Ainda assim, a rotina completamente remota não é necessariamente a opção mais desejada. Segundo uma pesquisa do LinkedIn, metade dos respondentes considera que a mescla entre remoto e presencial é o formato ideal de trabalho. “Este movimento começou há dois anos, quando gigantes como a Avast incorporaram em seu sites termos como ‘Trabalhe em Qualquer Lugar’, já demonstrando um modelo alternativo que permite aos seus colaboradores escolher onde irão realizar suas atividades, seja a partir de casa, de uma cafeteria ou até mesmo em outro país”, salienta Eliane.
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Competição em todos os setores
Especialistas da Randstad, empresa especializada em soluções de trabalho flexível e Recursos Humanos, elucidam que, até o início de 2023, o número de vagas de emprego deve ser superior ao de candidatos. Nesse cenário, os candidatos cada vez mais recusam ofertas de vagas para aguardar a proposta ideal. Embora o equilíbrio entre vida profissional e pessoal, o potencial de desenvolvimento e o significado geral sejam fatores importantes, o salário ainda é fundamental para o recrutamento.
Apesar da pandemia da Covid-19, salários de profissionais subiram mais rapidamente ao fim de 2021 do que em quase 20 anos, o que faz com que isso siga como tendência durante o momento de escassez de trabalhadores. Do mesmo modo que a remuneração é cada vez mais impactante para atrair, reforçar a marca empregadora, a experiência do colaborador, oferecer capacitação e contar com benefícios competitivos são diferenciais para as organizações não perderem o seu poder de retenção.
“Diante de uma recuperação econômica que começou gradativamente, as empresas já perceberam que precisarão investir rapidamente em esforços de requalificação para evitar uma debandada de talentos no longo prazo. As condições de trabalho já estão adaptadas às novas realidades e a tecnologia já faz parte de vários setores”, aponta Eliane.
Vale destacar também que as empresas costumavam competir por talentos dentro de seus próprios segmentos industriais, mas os atuais candidatos buscam vagas fora de seus próprios segmentos ao mudarem de emprego. Seja simplesmente por ter mais tempo para identificar suas reais prioridades ou por passar a enxergar os efeitos positivos dos novos modelos de trabalho, as pessoas resolveram adotar um recomeço nesse considerado “novo normal”.
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Capital humano
Em meio aos desafios estabelecidos pelo atual contexto mercadológico, que não pode mais abrir mão do humano e do social, há quem já esteja apostando em novas táticas para conquistar e reter talentos, como a SWA Sistemas, empresa de tecnologia focada em produtos que profissionalizam a gestão acadêmica das instituições de ensino.
Embora as soluções tecnológicas sejam as condutoras do negócio, no ambiente de trabalho o foco está no capital humano, aspecto que faz toda a diferença quando o assunto é crescimento e evolução. Conforme explica o CEO do Grupo SWA, Leandro Scalabrin, ao apostar no “maior e principal ativo ao lado dos clientes”, a empresa vem crescendo ano a ano tanto em termos de faturamento quanto de colaboradores.
O segredo dos bons frutos da SWA, natural de Medianeira, no Paraná, começou com um trabalho de onboarding bem definido. Na prática, o RH da empresa se aproveita do engajamento e da motivação naturais dos candidatos, oferecendo a eles a possibilidade de se capacitar na função e checar se é aquilo que realmente almejam para suas vidas. Ademais, durante o período de experiência, independentemente da vaga a qual pessoa concorre, é concedida uma bolsa de estudos de um projeto de capacitação pessoal e profissional, cuja duração é de três meses, em média.
“É como se fosse um estágio, mas a diferença é que aquelas pessoas já estão com a carteira assinada, e independentemente de serem ou não contratadas para fazer parte do time SWA, elas sairão com novos aprendizados”, comenta Scalabrin.
Antes dessa socialização organizacional, a empresa tinha em seu quadro 45 colaboradores. Após a adoção do onboarding, o crescimento foi de 15% em termos do número de clientes, o que demandou mais admissões. Hoje, são mais de 100 pessoas na equipe.
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O poder de um onboarding que faz a diferença
De acordo com uma pesquisa realizada pela Glassdoor, um processo de recepção e integração de novos colaboradores, quando bem-feito, pode aumentar em até 82% sua sintonia e permanência na empresa, elevando em até 70% as taxas de produtividade.
Em contrapartida, um levantamento feito pela Gallup, mostrou que quase 90% das empresas não consideram que seu onboarding esteja de acordo com as melhores práticas, o que demonstra a necessidade de aprimorar esse processo, a fim de reduzir os índices de turnover e garantir que as equipes contem com profissionais alinhados aos propósitos do negócio, cientes de suas funções e com senso de pertencimento – o que impacta direta e positivamente no employee experience.
Segundo Alline Antóquio, diretora executiva e especialista em Google da Gentrop, empresa especialista em transformação digital, a humanização desse processo é a grande chave para o sucesso de sua efetivação.
“Vivemos grandes mudanças, nos últimos anos, em relação aos modelos de trabalho e adesão às novas tecnologias. Boa parte das companhias embarcaram de vez na transformação digital, aderiram a ecossistemas de inovação repletos de soluções que permitem uma rotina à distância ou mesmo híbrida. Entretanto, não basta apenas investir na parte tecnológica, é preciso ter consciência que todo esse processo, do qual o onboarding também faz parte, deve ser feito de maneira humanizada para que o colaborador se sinta de fato inserido, integrado, e esteja apto a entregar todas as tarefas e desafios inerentes de sua nova função”, finaliza.
Por Bruno Piai