Empresas de diversos setores enfrentam um gargalo cada vez mais crítico: preencher posições estratégicas em tecnologia. A dificuldade não está apenas na escassez de candidatos, mas na falta de perfis que combinem liderança, visão de negócio e profundidade técnica. Para especialistas da Rooby, consultoria especializada em recrutamento tech, o modelo tradicional de hunting não dá mais conta dessa equação, então é preciso buscar alternativas mais conectadas com a lógica do próprio setor.
Para Diego Barbosa, sócio-fundador da companhia, a resposta está nas comunidades técnicas, onde esses profissionais já se organizam de forma espontânea para trocar conhecimento e construir redes de confiança. “As comunidades sempre existiram como uma rede de trocas, mas o mercado demorou a entender seu valor estratégico no recrutamento. Em vez de abordar um profissional apenas quando há uma vaga, é mais eficaz construir relações contínuas e gerar valor antes mesmo da oportunidade surgir”, afirma.
A complexidade de contratar para algumas posições, como a de CTO, reflete mudanças no próprio papel desses executivos. Além do domínio técnico, o mercado exige o que especialistas chamam de "ambidestria digital", que nada mais é do que a capacidade de otimizar processos atuais enquanto implementa tecnologias disruptivas. Soma-se a isso habilidades de liderança multigeracional e capacidade de influenciar estratégias de negócio.
"O calcanhar de aquiles de muitos processos de recrutamento está na dificuldade dos líderes de RH em traduzir e avaliar o contexto técnico específico que cada empresa demanda, por isso cercar-se de profissionais que possuem domínio desse mercado traz um diferencial na estratégia para esse tipo de processo", observa Diego.
Essa lacuna de compreensão técnica cria um gargalo que vai além da simples identificação de candidatos. Muitos processos seletivos falham gerando frustrações tanto para empresas quanto para executivos.
Empresas tradicionais em desvantagem
O fenômeno da escassez atinge de forma desigual diferentes segmentos. Empresas tradicionais, especialmente do setor industrial, enfrentam desvantagem competitiva na disputa por talentos tech. Sem marca empregadora consolidada no ecossistema de tecnologia, competem pelo mesmo pool restrito de profissionais que startups e big techs, que historicamente exercem maior atratividade.
"Organizações industriais precisam competir diretamente pelo mesmo talento que empresas que têm tecnologia como core business", pontua Barbosa.
Essa assimetria força empresas tradicionais a repensarem não apenas salários e benefícios, mas toda a estratégia de aproximação com esses profissionais. O investimento em relacionamento de longo prazo surge como alternativa para compensar deficiências de marca.
A estratégia emergente privilegia a construção de relacionamentos antes mesmo da existência de oportunidades concretas. Em vez de abordar executivos apenas quando surgem vagas, empresas investem em presença consistente em comunidades tech, contribuindo com conteúdo relevante e participando de eventos setoriais.
Essa abordagem, segundo o especialista da Rooby, permite acesso a profissionais "passivos", executivos satisfeitos em suas posições atuais, mas que mantêm diálogo ativo dentro de suas redes de interesse. Muitos desses talentos não estariam abertos a abordagens tradicionais, mas podem considerar mudanças quando apresentadas através de canais de confiança. Os ganhos práticos incluem maior velocidade nos processos (relacionamento pré-estabelecido), melhor qualidade de candidatos (acesso a perfis não disponíveis no mercado ativo) e superior alinhamento cultural (conhecimento prévio dos motivadores individuais).
“A tendência é que todas as empresas, em algum momento, vão precisar criar ou se inserir em comunidades se quiserem disputar os melhores talentos. Não é mais sobre preencher uma vaga, mas sobre estar presente nos lugares onde esses profissionais realmente se desenvolvem e trocam”, conclui Barbosa.