Recentemente, em um movimento para ampliar o seu portfólio e fortalecer sua solução de vale-transporte, a empresa francesa Edenred, grupo da Ticket, anunciou a aquisição da RB Serviços, uma das principais plataformas brasileiras de VT. Com a compra, a marca passa a integrar a Ticket como uma unidade de negócios de vale-transporte. Em adição à aquisição, o grupo também anunciou a entrada de Andre Martins, executivo com quase 20 anos de experiência no mercado de benefícios, como diretor no comando das operações combinadas do benefício de transporte.

É muito comum que esse tipo de movimento traga consigo não somente empolgação, mas também incertezas, uma vez que é uma cenário que pode ter impacto tanto interno, na cultura organizacional e na rotina dos gestores e colaboradores, quanto externo, na oferta de produtos e serviços e no relacionamento com os stakeholders em geral. Portanto, para entender um pouco mais como está sendo realizada a administração das empresas com esse processo de compra, batemos um papo com Andre (capa). Confira:

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RH Pra Você: Antes de tudo, para contextualizar melhor o panorama, o que conduziu o fechamento desse negócio entre a Edenred e a RB?

Andre: O início dessa relação, que culminou com a conclusão da negociação em Agosto, passa pela estratégia da Edenred chamada Beyond Food (Além da Alimentação, em tradução livre). E o que significa ir além? Desenvolver produtos que criem mais valor e envolvam ainda mais os nossos clientes. No Brasil, um dos produtos elencados para fazer parte dessa jornada foi o vale-transporte.

A RB e a Ticket mantinham uma relação de parceria há muito tempo. Não foi, portanto, algo que “surgiu de repente”. Havia uma estratégia desenhada para fortalecer os serviços de VT. Mesmo já existindo uma experiência de 30 anos [da Ticket] no vale-transporte, esse não era o foco central. A RB já era parceira de longa data e um canal de extrema importância como parceira de distribuição da Ticket. As conversas aconteceram e em agosto tivemos uma conclusão positiva.

Nasce agora uma empresa que tem a tradição de quase 50 anos no PAT (Programa de Alimentação do Trabalhador) com a a especialista em vale-transporte, que é a RB. A forma como nos apresentamos no CONARH para fazer o lançamento, RB Ticket, é para mostrar que a referência da RB será mantida e associada conosco. A tradição aliada à inovação. Para ter o cliente no centro, precisamos prover os melhores serviços e o melhor atendimento.

RPV: O mercado de benefícios vem evoluindo muito nos últimos anos, seja pelo redesenho dos benefícios já existentes quanto pela oferta de novos. Nesse panorama, é muito natural questionar o que pode ser feito de diferente em relação ao vale-transporte. Como inovar nesse benefício?

André: O vale-transporte é um serviço que está muito no back office, na parte “braçal” do RH. Ele está mais atrelado ao Departamento Pessoal, aos procedimentos. Eu ouvia que era uma conta que paga ao governo, muitos gestores sequer sabiam onde os serviços de vale-transporte eram comprados.

O vale-transporte ele pode ser representado como a “obra que a gente não vê”, como as de saneamento localizadas debaixo da terra, para exemplificar. Para inovar nele, o que a RB trará para o mercado e para os clientes da Ticket é o desenho que realizamos dentro dos sistemas, o que facilita o trabalho do RH. Ou seja, a inovação não está necessariamente na utilização, no aplicativo para o usuário, mas no atendimento às necessidades do RH. É você ter um sistema sempre atualizado e que torne menos trabalhosa a rotina do RH, seja das pequenas, médias ou grandes empresas. Temos entendido o que cada perfil de empresa precisa. Os sistemas de back office fazem cada vez mais a diferença.

A nossa tarefa é juntar o front-end da força de inovação da Ticket com o back-end da RB dentro das soluções de vale-transporte.

RPV: Movimentos como aquisições empresariais, integrações e fusões podem gerar preocupações e incertezas por parte dos colaboradores e também dos clientes. Como esse processo é gerenciado interna e externamente? De que modo estão sendo as comunicações em relação à essa aquisição?

Andre: Tudo começa com as pessoas. A nossa preocupação principal, desde o momento em que a estratégia estava sendo desenhada até os avanços na negociação, era com elas. Em segundo lugar, não menos importante, a comunicação foi toda pensada para que passássemos toda a tranquilidade necessária, mas de uma forma que potencializasse os aspectos positivos desse movimento [de aquisição].

Todo o time de alta gestão, tanto do Brasil quanto da França, deixou bem claro que a nossa preocupação maior tem que ser com as pessoas. Isso, inclusive, está dentro da filosofia e dos valores da Edenred. Chamamos de Dream Team Culture, ou seja, trabalhamos para ter o time dos sonhos e nós estamos trabalhando exatamente nisso.

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RPV: E como envolver as pessoas na cultura?

Andre: Trazer uma cultura nova não é um movimento que acontece do dia para a noite, mas neste curto espaço de tempo, já demos bons passos. Envolvemos as pessoas da RB dentro de todas as atividades que temos no Grupo Edenred.

Teve início uma das nossas campanhas que envolve atividades físicas – como corrida, ciclismo e caminhada –, por exemplo, na qual montamos times de dez pessoas ao redor do mundo, com uso de um aplicativo próprio, e a medição das atividades gera pontos que são convertidas para entidades sem fins lucrativos. E os profissionais da RB estão muito envolvidos.

Nós implementamos a nossa cultura e de uma maneira sutil, com as pessoas querendo participar das ações e não sendo obrigadas a isso. Queremos levar a elas o que há de melhor na nossa forma de gerir.

RPV: Pensando não só no VT, apesar de ser o foco da nossa conversa, mas nos benefícios em geral que a Ticket oferece, o quanto as mudanças de mercado movem e impactam o trabalho e a cultura de vocês? Quais os caminhos para se manter como uma empresa inovadora?

Andre: A inovação é um dos valores da nossa cultura, assim como o cliente no centro, simplicidade, espírito empreendedor e paixão pelos clientes. A paixão pelo cliente, a inovação e a simplicidade, principalmente, são elementos que nos conduzem. Não somos uma empresa reativa, mas uma que planeja. A nossa visão tem nos conduzido para levar as inovações que temos ofertado ao mercado e que tem sido muito bem respondidas e recebidas.

O espírito empreendedor faz com que as pessoas sintam aquele “desconforto saudável”. Em outras palavras, o desejo de se movimentar, de mudar em alguns aspectos e não aceitar as coisas simplesmente como elas são. A inovação não é só falar, pensar ou desenhar. É preciso investimento, tecnologia nova e temos nos movimentado com muita força nisso. Só no ano passado foram investidos mais de 480 milhões de euros em inovações tecnológicas.

Por Bruno Piai