A pesquisa do projeto Diversidade Aprendiz: Aprendizados para um Futuro Inclusivo, que busca mapear a situação atual da inclusão de grupos marginalizados nos quadros de colaboradores de empresas brasileiras, acaba de entrar em campo.
A proposta da iniciativa, uma parceria entre a Organização Internacional do Trabalho e a Somos Diversidade, é elaborar um diagnóstico das práticas atuais de recrutamento e retenção de talentos nessas corporações, produzindo um relatório que servirá para nortear o desenvolvimento de projetos de capacitação que aumentem a empregabilidade de populações com acesso desigual ao mercado de trabalho formal, como a população negra, migrantes e refugiados, LGBTQIA+, com deficiência, idade acima de 50 anos, egressos e egressas do sistema penitenciário ou em liberdade assistida, pessoas de baixa renda e moradoras e moradores de periferia.
A fase de coleta da pesquisa tem duração prevista de 10 dias, indo até a próxima sexta-feira, 21. O questionário da pesquisa leva cerca de 10 minutos para ser preenchido. Empresas de todo o território nacional, independente de porte ou área de atuação, estão convidadas a participar. Serão aceitas respostas de funcionários em qualquer nível hierárquico. O armazenamento e tratamento dos dados conta com uma consultoria especializada em proteção de dados, comprometendo-se com a segurança e confidencialidade das informações fornecidas. Mais informações podem ser no site www.somosdiversidade.com.br e nas redes sociais da Somos Diversidade (Instagram e LinkedIn).
Para marcar o início da pesquisa, a OIT e a Somos Diversidade organizaram na noite de terça-feira (11) o webinar “Construindo caminhos para uma inclusão real da DIVERSIDADE – da base até o topo – no DNA da sua empresa/negócio”, que também contou com a participação do Ministério Público do Trabalho e reuniu gestores interessados em ampliar a diversidade e inclusão nas empresas em que trabalham. A pesquisa conta com o apoio do Fórum de Empresas e Direitos LGBTI+, movimento empresarial que reúne grandes empresas em torno de 10 Compromissos com a promoção dos direitos humanos LGBTI+.
“Ao apoiarmos a pesquisa, nosso intuito é unir esforços a fim de promover os direitos LGBTI+ dentro do ambiente corporativo. Com isso, incentivar ações que fortaleçam uma agenda positiva e responsável, contribuindo para o desenvolvimento socioeconômico, político e cultural da sociedade. Isso ajudará as empresas para que atraiam, enxerguem melhor seus talentos e os retenham. A partir do reconhecimento e inclusão de pessoas LGBTI+ conseguiremos criar um ambiente respeitoso, seguro e saudável para todas as pessoas”, afirma Reinaldo Bulgarelli, Secretário Executivo do Fórum de Empresas e Direitos LGBTI+.
O debate tocou em pontos como o “teto de vidro” (as barreiras que dificultam o avanço das mulheres na carreira), as disparidades salariais entre homens e mulheres e brancos e negros, que fazem com que homens brancos ganhem 150% do salário médio de uma mulher negra, e como os critérios requeridos dos candidatos em processos seletivos podem ser excludentes, desconsiderando desigualdades de acesso à educação.
“Às vezes você perde um candidato super competente porque exigiu saber inglês, o que ele poderia aprender”, explicou Ana Maura Tomesani, cientista social responsável pela elaboração do questionário. “Os filtros utilizados nos processos seletivos precisam ser mais permeáveis para acolher essas pessoas. E você precisa ter a disposição de formá-las”, completou.
Maite Schneider, coordenadora da Somos Diversidade e embaixadora da Rede da Mulher Empreendedora, destacou que a contratação é apenas o primeiro passo para a construção de um ambiente mais inclusivo: “a inclusão da diversidade leva tempo e esforço, é um processo que precisa de implementação atenta a todas as etapas e uma liderança comprometida”. A procuradora do Trabalho Ana Lúcia Stumpf Gonzalez, do MPT, concorda: “Não bastam ações afirmativas, precisamos desse ambiente que permita o crescimento e dê oportunidades permanência e avanço na carreira. É preciso uma modificação na cultura”.
Fatores culturais também foram destacados por Thaís Dumet Faria, Oficial Técnica em Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho para América Latina e Caribe (OIT): “A realidade que temos hoje no Brasil é fruto de um histórico de uma construção social de exclusão”, explicou. “Quebrar esses estereótipos e preconceitos traz bem-estar pessoal e permite um crescimento econômico mais sustentável”.
Por Redação