A penúltima semana do mês de julho foi marcada por um evento dedicado a falar sobre a ascensão do D&I (Diversidade & Inclusão) no mundo corporativo. Realizado nos dias 21 e 22, o “Gupy Conecta – O Futuro Começa no RH” contou com um time recheado de renomados profissionais do mercado para debater o assunto.
Logo de cara, após a CEO e Cofundadora da Gupy, Mariana Dias, abrir o evento e anunciar as novidades da empresa de softwares de recrutamento e seleção digital – como um curso gratuito e certificado sobre D&I para profissionais de RH – ela assumiu um bate-papo com Luiza Helena Trajano, Presidente do Conselho do Magazine Luiza e do Grupo Mulheres do Brasil. A executiva falou um pouco sobre sua trajetória no mercado e também a respeito do panorama de pandemia que o país vive.
“A pandemia me paralisou por dois dias, mas eu precisava agir logo. Assim que ela chegou, já foi possível entender que viveríamos uma transformação muito grande. O desafio era promover conexão, usar a tecnologia para estar presente. Foi aí que comecei a conversar com outras pessoas, passei a entrar mais no ambiente virtual e a fazer conexões mais próximas com o meu consumidor, isso é super importante”, destacou Luiza.
Para a proprietária do Magazine Luiza, no atual momento o RH precisa assumir postura ativa para que a adaptação ao digital seja feita de forma clara, assertiva e ágil. “O RH [no Magazine Luiza] precisou atuar ao lado da comunicação interna. Separados, a mensagem de um não era a mesma do outro. Então, foi preciso promover mobilização e também treinamentos”. Além disso, Luiza salienta que salienta que hoje, mais do que nunca, as empresas precisam assumir uma postura mais social e humana. “O consumidor reconhece o que fazemos pelo Brasil, como a integração ao movimento Não Demita (cujo propósito era o de evitar desligar colaboradores durante a pandemia)”.
Luiza elucidou, ainda, que entre as principais dicas de mercado para ter competitividade mesmo em momentos complexos está ter agilidade em fazer acontecer, colocar em prática ideias e se movimentar. “Se você precisar fazer algo, faça agora. Primeiro põe o progresso e depois a ordem. É aprender a fazer mais com menos. Agora é a época do digital, do conhecimento, do fazer acontecer. Startups começaram agora e já valem mais que muitas empresas de 100, 200 anos. Mas não é fácil tirar a crença limitante de dentro de nós, portanto primeiro o RH tem que tirar a sua e depois dos outros para aumentar o nível de consciência da equipe”.
Na sequência do evento, Gabriela Augusto, Diretora Fundadora da Transcendemos, trouxe importantes insights sobre inclusão, além de compartilhar um pouco de sua história.
“Quando me assumi trans eu tive que ter força e coragem, mas também questionei o que seria de mim dentro do mercado de trabalho. A partir disso, comecei a querer fazer algo a respeito”. Para ela, a sociedade já assistiu a mudanças importantes nos últimos anos, mas ainda há um caminho longo a seguir. “Diversidade e inclusão precisam estar no centro da criatividade e da inovação das empresas. Ainda quero ver outras pessoas em grandes cargos, negros, mulheres, trans, etc. O convívio com a diversidade e com as pessoas é transformador.”
Durante a conversa, Gabriela reforçou que o mercado precisa aprender a promover diversidade e inclusão e não somente um ou outro. Na opinião da fundadora da Transcendemos, que é uma consultoria especializada para o público LGBTQIA+, não adianta abrir processos seletivos para públicos específicos se a estrutura do negócio não contar com um ambiente saudável para eles.
“Mais do que abrir vagas para mulheres, negros, trans e outros públicos, é preciso ter uma visão holística de todo o processo, do recrutamento à jornada dentro da empresa. É necessário desenvolver um conjunto de práticas para que a diversidade seja promovida de forma ativa. Tudo precisa ser intencional. São necessárias métricas, ações, saber onde se quer chegar e o que foi conquistado. Não adianta só ter indicadores de diversidade, é preciso ter também de inclusão. Deve-se mapear se as pessoas têm voz, se sentem que são pertencentes ao negócio”, comentou.
Gabriela esclarece que a diversidade e a inclusão só fazem bem para qualquer negócio, uma vez que quando se há colaboradores com perfis diversos, consequentemente se compreendem públicos e consumidores diversos. E também, “o colaborador, se livre para ser quem é, trabalha mais feliz, engajado, e isso se reflete em sua rotina de trabalho e no customer experience”.
Além das palestras, Mariana Dias, CEO da Gupy, anunciou durante a abertura do evento o Manifesto de Diversidade da startup. Entre as metas está o compromisso com a diversidade e inclusão: chegar a 50% de mulheres na liderança em todos os níveis da empresa – sendo 30% delas dos demais grupos socialmente minorizados; e 30% das contratações devem ser de pessoas negras até 2024.
Segundo Dia
O dia dois do Gupy Conecta começou com a palestra do professor Leandro Karnal. Um dos principais palestrantes do país, o também historiador abordou a transformação vivida pelo mundo corporativo ao longo dos anos.
“Quando temos epidemias, guerras, revoluções, ocorre uma aceleração do tempo. Nós escrevemos com penas de ganso por séculos, no fim do século XVIII, surgiu a pena de metal, fim do XIX a caneta tinteiro e quase 50 anos depois a caneta esferográfica. As transformações tinham séculos para acompanhar processo, aceleração. Até março do ano passado, todos tínhamos feito alguma atividade online, isso já existia há 20 anos, mas precisamos virar online obrigatoriamente em todas as instâncias. Fomos obrigados a imergir em home office, transformações se aceleram. Velocidade exige atenção, formação contínua, sair da zona de conforto, abandonar seguranças e ficar atento ao mundo que está exigindo extrema capacitação do colaborador”.
Para Karnal, apesar de todo o contexto negativo da pandemia, ela deve servir como um estímulo à capacidade de aprender, avançar e mudar, uma vez que a busca por capacitação ganha importância cada vez maior com o passar dos anos. O palestrante destaca, ainda, o RH como chave do equilíbrio para que as rápidas mudanças – em especial a transformação digital – sejam encaradas como algo positivo para todos e não como um cenário de tecnologia versus pessoas.
“A tecnologia é ferramenta, não posso confundir martelo com mão humana. O martelo está lá para potencializar a força da minha mão. Eu tenho que entender a tecnologia como ferramenta para os humanos, a tecnologia é neutra, ferramenta para que o caráter individual possa ser exercido mais e mais eficaz”, disse.
Outro ponto levantado por Karnal foi a questão do foco. Na visão do historiador, manter o foco é, hoje, um dos grandes desafios enfrentados pelos profissionais. “Hoje existe uma epidemia de falta de foco. São muitos os atrativos e hoje a concorrência está muito grande. É mais difícil dar aula hoje, trabalhar, manter foco. Reflexão grande sobre uso do celular, sobre a falta de foco e nós mesmo precisamos refazer processos produtivos. Hoje ter foco está nas virtudes mais importantes para serem pedidas a um colaborador. Preciso redefinir a engenharia importante sobre foco. Estão ocorrendo coisas graves nas empresas em função da falta de foco, o que está atrapalhando o foco da direção e dos colaboradores?”, finalizou.
Por Bruno Piai e Gabriela Ferigato