É unanimidade entre gestores empresariais que os benefícios corporativos representam um importante fator para atrair e reter talentos. De acordo com uma pesquisa realizada pela Singu Empresas, vertente B2B da Singu, startup do ramo de beleza, 70% das 1.600 pessoas respondentes afirmaram que talvez ou com certeza trocariam de empresa por benefícios melhores. Além disso, 55% disseram que não estão satisfeitos com os benefícios atuais oferecidos pelas empresas onde atuam.

Diante do potencial engajador dos benefícios, diversas organizações expandiram sua oferta. Além dos tradicionais vales e convênio médico, cada vez mais se vê negócios apostando em soluções para saúde mental, descontos em academias, creches, farmácias, instituições de ensino e afins, além de programas de mentoria e educação financeira. Contudo, em meio aos benefícios tradicionais e aos novos, um deles seguramente chama atenção: o congelamento de óvulos.

O que começou a virar moda nos Estados Unidos com empresas Tesla, Starbucks e Bank of America oferecendo às suas colaboradoras não demorou para chegar no Brasil. A tendência começou a dar seus primeiros passos quando companhias como o LinkedIn e o Magazine Luiza trouxeram a novidade para o mercado local. Mas será que a ideia é realmente boa?

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O que as empresas ganham ofertando o benefício

Estima-se que no Brasil, o processo que inclui estimulação, coleta e congelamento esteja na faixa média dos R$ 12 mil a R$ 15 mil. Além disso, há o custeio da manutenção dos óvulos congelados, o que pode representar um gasto mensal de até R$ 1 mil. Considerando os valores, a oferta como benefício é tentadora, mas há pontos positivos e negativos a serem ponderados, de acordo com a consultora de RH, Fernanda Mendonça.

“Recém cheguei na casa dos 30 e não descarto que, futuramente, possa realizar o congelamento dos óvulos. O recomendável, de acordo com médicos especialistas, é não deixar passar dos 35 anos, embora não haja necessariamente um limite. Para mulheres que tem tal plano ou a dificuldade de engravidar, o que faz com que uma fertilização in vitro possa se fazer necessária, o benefício pode ser muito importante e, inclusive, de fato algo muito atrativo a ser oferecido pelas empresas. A pergunta que fica no ar, contudo, é: o poder de decisão referente à gravidez é exclusivo da mulher ou a empresa pode querer se envolver?”, questiona.

Em artigo no LinkedIn, Erivelton Laureano, CEO da IVF Brazil, consultoria com foco em gestão comercial para mercados de especialidades médicas, pontuou que há, no Brasil, cerca de 11 milhões de mulheres de 20 a 35 anos com perfil para o congelamento de óvulos. Investir no benefício, segundo ele, pode ser fundamental para que as organizações tenham equilíbrio de gênero, ambiente inclusivo e que trate a maternidade como um acréscimo e não uma barreira ou problema, atratividade e potencial para conquistar novos talentos.

Nos exemplos citados de empresas que adotam a prática no Brasil, o LinkedIn reembolsa às mulheres até R$ 22 mil e cobre todo o tratamento, dos remédios à inseminação artificial. Já o Magazine Luiza se responsabiliza por cobrir 70% do valor total do tratamento para funcionárias a partir de 33 anos que façam parte do quadro da companhia por pelo menos doze meses.

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“Vale ressaltar que nem sempre da fertilização in vitro nem sempre funciona. Portanto, algumas mulheres ou casais tentam mais de uma vez. O LinkedIn é uma empresa que, por exemplo, reembolsa todas as tentativas. Mas será que as empresas lidam bem com o ‘prejuízo’ de uma tentativa a mais? Antes de se empolgar com o benefício, é importante que as profissionais compreendam todas as entrelinhas e qual é o efetivo propósito do negócio ao oferecê-lo”, destaca Fernanda.

A consultora acrescenta que a empresa não pode ser a tomadora de decisões em relação à maternidade e tampouco pressionar a profissional para acelerar o tratamento. Gravidez é um tema que deve estar sempre sob o comando das futuras mães e de seu parceiro ou parceira caso haja. A gravidez é vista quase como uma doença na cultura empresarial das organizações brasileiras. O benefício por si só não muda essa visão, é importante compreender como todo processo de maternidade é tratado pela gestão”.

Por Bruno Piai