Há muito tempo marginalizada pelo mercado de trabalho, a periferia, enfim, começa a ter o seu potencial observado e trazido para dentro das organizações. Com as iniciativas de diversidade e inclusão que cada vez mais se perpetuam no mercado, as empresas visam a construção de times plurais, com o propósito não só de montar equipes com perfis diferentes, mas também de compreender melhor cada tipo de público.

Apesar das boas iniciativas estarem em evidência, ainda há, no entanto, um longo caminho a percorrer para que os jovens talentos da periferia tenham igualdade de oportunidades. Segundo o estudo ‘Desafios e oportunidades para a inclusão produtiva dos jovens-potência na cidade de São Paulo‘, realizado pelo programa Global Opportunity Youth Network (Goyn) e comandado pelo Instituto Aspen, em parceria com a Accenture Brasil, a metrópole, que conta com 766 mil jovens – 15 a 29 anos – sem oportunidade de estudo, emprego formal e em situação de vulnerabilidade social, tem uma série de desafios a superar. O portal ‘O Estado de São Paulo’, pioneiro na divulgação do relatório, mostra que, segundo o levantamento, racismo estrutural, exclusão digital, falta de trabalho e evasão escolar são problemas que marcam a realidade desse público.

Se o panorama, antes da pandemia, já exigia das iniciativas pública e privada, do governo e de ONGs ações assertivas para minimizar as dificuldades, com a chegada da Covid-19 o cenário não foi facilitado. A evasão escolar, por exemplo, mostra que 50% dos jovens não foram além do Ensino Fundamental (26%) ou do Ensino Médio (24%). Ensino Superior é uma realidade para somente 16% deles. E se a falta de incentivo já é marcante para que esses jovens frequentem as escolas, a estrutura de ensino a distância – ou a falta dela – não faz com que os índices apresentem números melhores. 39% dos alunos de escola pública, por exemplo, não têm aparelhos como computadores ou notebooks.

Quanto ao racismo estrutural, o jornal evidencia dados preocupantes obtidos no relatório. Apenas 34% dos jovens negros e 44,1% das jovens negras entre 18 e 20 anos terminaram o Ensino Médio no Estado de São Paulo. 53,7% dos adolescentes brancos e 62,6% das mulheres brancas da faixa etária em questão cumpriram seus estudos nas escolas.

Projetos visam mudar a realidade dos jovens de periferia

O recorte feito no Estado de São Paulo e na Capital Paulista não mostram uma realidade distante de outros estados e municípios brasileiros. Não só o jovem de periferia, mas o jovem como um todo sente os efeitos da crise que o novo coronavírus trouxe ao país. Segundo o IBGE, 29,8% da população entre 18 e 24 anos terminou 2020 desempregada. 

Felizmente, diante do contexto apresentado, diversas companhias e entidades abrem suas portas para processos seletivos que acolham esse grupo. O Goyn São Paulo, por exemplo, tem como objetivo concatenar parcerias entre empresas e a sociedade civil para que, até 2030, 100 mil jovens da periferia sejam impactados. O projeto, que começou nos Estados Unidos, chegou ao Brasil em 2020 e já conta com 70 empresas parceiras.

Quem também visa oferecer melhores condições de vida à população da periferia é a PepsiCo. A empresa, uma das maiores do mundo em alimentos e bebidas, traçou a missão de investir R$ 16,5 milhões nas comunidades brasileiras por meio de projetos de impacto social até 2022.

A estratégia, que conta com investimentos diretos e da Fundação PepsiCo, braço filantrópico da companhia, beneficiará mais de dois milhões de pessoas e está ancorada em três frentes de atuação: Prosperidade Econômica, em especial de mulheres, pessoas negras e profissionais de cooperativas de reciclagem; Segurança Alimentar e Acesso à Água. Para isso, a companhia firmou parceria com cerca de 20 organizações não-governamentais e instituições proeminentes, que já lideram estas agendas com grande expertise no país.

“Na PepsiCo, acreditamos no crescimento e na prosperidade compartilhados. Este investimento traduz nosso compromisso com os brasileiros e brasileiras, com os quais temos a honra de fazer parte de suas vidas por meio das nossas marcas, há quase 70 anos, e de iniciativas que levam adiante valores que não abrimos mão, como diversidade, inclusão, acesso igualitário a oportunidades e a recursos básicos como educação, água, saneamento e alimentação”, afirma Alexandre Carreteiro, Presidente da PepsiCo Brasil Alimentos. “Como um dos dez mercados principais da companhia no mundo, no Brasil temos um plano de crescimento de longo prazo que leva em sua essência a aceleração da transformação social em temas fundamentais e latentes de nosso país. Estamos seguros de que avançaremos juntos”, acrescenta Alexandre.

A preocupação da PepsiCo no desenvolvimento social e ambiental do país não é de hoje e não se restringe a contribuir financeiramente com projetos transformadores. Há mais de duas décadas, a companhia vem construindo uma base sólida de ações objetivando tornar a sociedade brasileira mais igualitária, atenta às questões ambientais e ao futuro do planeta.

Ricardo Maldonado, Presidente da PepsiCo Brasil Bebidas, destaca que “juntos, iniciativa privada, terceiro setor e governo, é possível promover uma profunda e positiva transformação social, acelerando o crescimento de nosso país e gerando oportunidades significativas e duradouras para nossas comunidades”. E ressalta: “Temos mais de 12.000 talentos internos, dos negócios de bebidas e alimentos, engajando-se e abraçando cada uma destas causas também para fazer essa agenda acontecer”.

Para promover equidade racial e maior oportunidade a quem vive nas periferias, a PepsiCo firmou parceria com cinco organizações líderes, que são: 

  • Festival Feira Preta: liderada por Adriana Barbosa, é uma iniciativa que valoriza o empreendedorismo negro, reconhecendo que ele é fundamental na construção de um ecossistema mais justo e equilibrado em oportunidades e resultados financeiros para a população negra. A expectativa é colaborar com mais de 1.000 empreendedores e empreendedoras.
  • Articuladora de Negócios de Impacto na Periferia (ANIP): liderada por Marcelo Rocha, DJ Bola, tem como propósito compreender, articular e mobilizar os atores estratégicos para a consolidação do ecossistema de negócio de impacto, apoiando uma nova geração de profissionais em estágios diferentes de desenvolvimento. A iniciativa impactará 850 profissionais.
  • GOYN (Global Opportunity Youth Network): citado ao longo do texto, o projeto coordenado pela organização filantrópica United Way, busca promover a inclusão produtiva das juventudes em situação de vulnerabilidade social da cidade de São Paulo, até 2030, alinhados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da ONU. Serão impactados 1.125 jovens com o programa.
  • Iniciativa LIFT, Língua, Inspiração, Foco, Transformação: realizada em parceria com o Instituto Ser +, é ação afirmativa em prol da equidade racial, que oferece ensino gratuito de inglês e orientações profissionais (mentorias) para pessoas negras, além do desenvolvimento de networking. Iniciado em 2014, o projeto já beneficiou 163 universitários e universitárias e contou com a participação de 347 mentores(as) voluntários(as). Até 2022, cerca de 400 pessoas terão a oportunidade de passar pelo LIFT nas cidades de SP, Salvador, Belo Horizonte e Rio de Janeiro.
  • MOVER (Movimento pela Equidade Racial): A PepsiCo é signatária, ao lado de mais de 40 outras grandes empresas, com o objetivo de combater o racismo estrutural, acelerando mudanças efetivas em toda sociedade. A iniciativa visa gerar 10 mil posições de liderança e oportunidades para três milhões de pessoas negras no Brasil até 2030.Raça e Gênero são destaques entre as ações de diversidade da PepsiCo, que, entre outras iniciativas internas e externas, possui as metas de alcançar pelo menos 50% de mulheres e 30% de pessoas negras em cargos de liderança até 2025.

Outros projetos que também fazem a diferença

A histórica desigualdade racial do mercado de trabalho brasileiro se tornou mais evidente com a crise socioeconômica provocada pela Covid-19. Segundo outros dados oficiais do IBGE, nos primeiros meses da pandemia a taxa de desemprego entre as pessoas negras (pretos e pardos) teve alta de 4,0 pontos percentuais. Já a dos brancos teve aumento de 0,6 pontos percentuais.

Além do desemprego, a desigualdade salarial também segue em alta. Apesar da metade da população brasileira ser negra (56%), apenas 24% estão no índice dos 10% mais ricos do país. Em relação aos 10% mais pobres, a maioria é negra, correspondendo a 78%.

Para o Instituto Ser +, que oferece capacitação profissional aos jovens em situação de vulnerabilidade, além da discriminação racial, a falta de acesso à educação é um dos fatores que acentua a desigualdade racial, econômica e de oportunidades. Dados recentes do IBGE não se distanciam do estudo apresentado no início do texto e apontam que na faixa etária entre 18 e 24 anos, as pessoas brancas têm duas vezes mais chances de estarem na universidade ou de já terem concluído o ensino superior, do que pretos e pardos. Mas, a inclusão de pretos e pardos avança lentamente devido a Lei de cotas criada pelo Congresso Nacional no ano de 2012.

“Nossos projetos são voltados aos jovens em situação de vulnerabilidade socioeconômica. Mas, não por mera coincidência, a maioria dos que chegam até nós, em busca de inserção profissional, são pretos. Essa realidade já diz muito sobre essa desigualdade de acesso. O que precisamos é romper esse ciclo e gerar oportunidades para essa e as próximas gerações”, conta Ednalva Moura, diretora de Educação e Diversidade do Instituto Ser +.

Davi Barbosa, jovem negro de 19 anos, já tinha buscado oportunidades de emprego, mas ressalta que hoje ele percebe que o que precisava era além das funções básicas como Excel e Word. “Através do curso que fiz no Ser +, aprendi coisas que não vi na escola. Hoje sei fazer um currículo mais atrativo e me portar em uma entrevista de emprego ou processo seletivo. Sei qual postura tenho que ter no dia a dia dentro de uma empresa”.

Para buscar reparar a situação, o Instituto Ser + tem oferecido projetos profissionais de ações afirmativas focados na juventude preta em parceria com empresas. Alguns são exclusivos para o público feminino, na tentativa de frear também a desigualdade de gênero

Um dos projetos, cofinanciado pelo Ministério Federal da Cooperação Econômica e Desenvolvimento da Alemanha (BMZ, na sigla alemã) é o MUDE com Elas, que inicia neste mês de julho um curso para 20 mulheres negras de 17 a 22 anos em situação de vulnerabilidade social e moradoras das periferias da cidade de São Paulo. A capacitação é uma parceria com a Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha de São Paulo, Ação Educativa e terre des hommes Alemanha. A duração é de 3 meses, concomitante à contratação das alunas como Jovem Aprendiz e possibilidade de efetivação por empresas associadas à Câmara.

De acordo com especialistas do Ser +, a falta de representação de pessoas negras no mercado de trabalho gera insegurança nos jovens que estão ingressando em um emprego ou buscando oportunidade. Por isso, além da capacitação profissional, os projetos oferecidos pelo Instituto trabalham com ferramentas socioemocionais para que se sintam capazes. “Antes da capacitação eu era uma pessoa que não tinha planos para o futuro, não sabia qual caminho seguir. Aprendi muita coisa que uso no meu trabalho e para o profissional que quero ser. Meu maior sonho é me tornar diretor executivo e quando eu penso no futuro, sei que posso conquistar esse cargo de liderança”, conta Douglas Augusto, jovem negro de 20 anos.

“Além da teoria, o propósito do Ser + é desenvolver o autoconhecimento do jovem. Nossos materiais focam na descoberta de talentos, considerando que a partir do momento em que o indivíduo consegue elevar sua autoestima, ele se apropria da sua própria história e entende o seu valor”, finaliza Ednalva.

Por Bruno Piai

Foto de capa: por Diana Grytsku – Via Freepik