Nesta quarta-feira (14), teve início o MaturiFest 2024, evento promovido pela Maturi, empresa referência na inclusão de profissionais 50+ no mercado de trabalho.
A edição deste ano, a 7ª do maior festival de trabalho e empreendedorismo 50+ da América Latina, contou com a presença do RH Pra Você. Acompanhamos algumas das atrações no primeiro dia do congresso, que vai até sexta-feira (16), e separamos os principais destaques. Confira:
Panorama da Diversidade Etária no mercado de trabalho, a atuação da Maturi e Economia da Longevidade no Brasil
Participantes:
- Mórris Litvak, CEO e Fundador da Maturi;
- Jorge Felix, Professor e especialista em Longevidade;
- Paulo Miklos, Músico e Ator.
Abrindo os trabalhos do evento, o professor Jorge Felix destacou que, atualmente, vivemos uma economia na qual se produz mais, ao mesmo tempo em que se emprega menos, o que ele chama de “financeirização”. Para ele, não dá para falar sobre a empregabilidade do público acima dos 40 anos sem que haja, inicialmente, essa compreensão.
O especialista salientou que há uma “integração desqualificante” das pessoas conforme a idade avança, um processo no qual há ascensão profissional até os 45 anos, seguida de uma instabilidade na carreira, potencializada por aspectos como o de gênero. Neste processo, as empresas abrem mão dos profissionais mais experientes.
“Isso leva as pessoas a serem vítimas do que eu prefiro chamar de ‘idosismo’. Apesar da lei considerar que os idosos são pessoas a partir dos 60 anos, no mercado o preconceito começa aos 40. Só vamos conseguir resolver a questão da empregabilidade com focos no âmbito das políticas públicas. O primeiro deles é a regulamentação, no qual o Brasil segue o caminho contrário. Poderiam ser adotados incentivos fiscais para as empresas manterem a mão de obra acima dos 40 anos”, disse.
Outro ponto trazido por Felix foi o dos custos de saúde. Muitos profissionais atuam em trabalhos que pagam menos, por vezes somente um salário mínimo, mas dos quais não podem abrir mão por haver a oferta de um plano de saúde.
“Só resolveremos isso com uma lei trabalhista que impeça as empresas de descartarem a mão de obra mais velha e também com investimentos na saúde pública. Poucas pessoas percebem que quanto menor o investimento no SUS e maior a dependência de planos de saúde, pior a empregabilidade de quem tem idade mais avançada”, alertou.
A conversa, mediada por Mórris Litvak, também trouxe o músico e ator Paulo Miklos, que compartilhou como a maturidade e longevidade são impulsionadores de seu atual momento de carreira. “Quando, uma vez, fui chamado de ‘roqueiro dinossauro’, fiquei revoltado. Sou de uma geração que deixou um legado, mas que tem o olhar no futuro. Ouvi isso aos 45 anos, talvez [tendo 65 hoje]”, contou.
Miklos compartilhou que nunca é tarde para empreender e se abrir ao novo. O artista, que recentemente se aventurou na carreira como ator, pontuou que é movido por aprender coisas novas.
“Temos que deixar fluir o desejo da novidade. As oportunidades aparecem e temos que estar preparados para elas. Quando apareceu o primeiro convite para um filme, Os Invasores, eu comentei que não sabia fazer, pois eu só fazia videoclipes. Fui incentivado, abracei o desafio e, depois, me apaixonei perdidamente quando assisti ao filme e vi o resultado das filmagens na tela grande. A partir de então, comecei a ler biografias, entrevistas com atores e cineastas, estudar atuação. Sempre em busca de novas oportunidades para aprender mais. E os convites começaram a chegar”, revelou.
Brasileiros 50+ no exterior: Vencendo Fronteiras e Desafios
Participantes:
- Beia Carvalho, Palestrante e Futurista;
- Enio Sarti, Ex-professor no Brasil vivendo há 12 anos na Inglaterra;
- Zaza Fernandes, Artista, produtor e empreendedor;
- Vera Íris Paternostro, Jornalista.
Seguindo com as atrações do dia do evento focado no online, o assunto da vez foi a empregabilidade dos profissionais mais experientes no exterior. Mediadora da conversa, Vera Íris iniciou a conversa questionando cada um dos convidados sobre os desafios enfrentados fora do Brasil, reforçando na pergunta se há similaridades com o que os jovens passam ao sair do país.
Para Beia, que vive em Portugal, os desafios a partir dos 60+ independem da localização geográfica. “Quando a gente pensa no exterior, pensa numa mudança como um todo. Mudar significa enfrentar novos problemas, mas com isso há um rejuvenescimento, pois você nota que não sabe tudo o que acha que sabia. No exterior, sem saber de tantas coisas, você descobre o mundo como um jovem. Vivendo em Lisboa, onde há tantos brasileiros, vejo que boa parte retorna ao Brasil porque não quer resolver os problemas, não quer aprender um jeito novo de viver as coisas, um novo ponto de vista”.
Beia havia planejado passar apenas os 69 anos de idade em Portugal. Porém, se apaixonou pelo país e decidiu que deseja seguir a vida no exterior, embora não garanta a permanência em terras lusitanas. Perguntada se se arrepende de ter feito a mudança somente às vésperas dos 70 anos, ela ressaltou que não.
“Se eu tivesse saído mais cedo, talvez não tivesse vivido tudo que eu queria viver no Brasil com meus filhos, netos, amigos. Eu aproveitei bastante as oportunidades. Também, trabalhei e investi muito em minha carreira. Estou aqui [em Portugal] agora por conta desse investimento. Foi na hora certa”, salientou.
Na Inglaterra, Sarti, por sua vez, revelou que as experiências para pessoas mais jovens e mais velhas dependem de vários aspectos, como o conhecimento da cultura local e o planejamento para se adaptar a um novo país. Elas podem ser mais fáceis ou difíceis a depender do estágio de preparação.
“Você terá um estresse inicial. É importante cuidar do físico, da alimentação, da mente. Eu escolhi fazer o que faço atualmente, entregas de bicicleta, para cuidar desses pontos. A experiência [de ir para fora] é fascinante. Faça uma visita, um intercâmbio, conheça antes o país que você tem em mente para viver”, disse.
No Brasil, Enio foi professor universitário, uma realidade diferente da vivida na Inglaterra, onde já foi, entre outras profissões, faxineiro e barman. Perguntado sobre o impacto da mudança, o ex-professor revelou que poderia ter seguido a carreira daqui em Londres, o que é um caminho aberto desde que haja a capacitação correta. Mas ao mudar de país, também quis mudar seus horizontes, vivendo novas experiências. Hoje, além da profissão, ele possui o perfil Vibe Britânica, com mais de 424 mil seguidores no Instagram.
“Todo trabalho vale a pena. Mas eu sei que isso é pessoal, pois há pessoas que criam barreiras. Eu prefiro ultrapassar as barreiras. Estou disponível para qualquer tipo de oportunidade.”
Já Zaza, que viveu por 32 anos na França, tendo saído do Brasil aos 30, manifestou que as saídas do Brasil foram a convite e não a planejamento, por conta da sua arte como bailarino. Com isso, sua vida foi se tornando uma “caixinha de surpresas”. Embora tenha se adaptado bem à Europa, ele aconselhou, assim como Enio Sarti, que o planejamento não fique de fora.
“Eu senti falta da família, dos amigos. Me perguntava se estava no caminho certo, porque tinha uma carreira no Brasil. O planejar é importante, não importa qual seja a idade. Quando nós temos mais de 50 anos [ para quem pensa em mudar], no meu caso 63, a mudança é mais difícil, porque você tem raízes, costumes. Você quer viver na França, por exemplo, e quer estar lá como se estivesse no Brasil. Quem quer se arriscar no exterior, o que é uma aventura maravilhosa, tem que se planejar. Existem regras que são completamente diferentes das nossas.”
Quando perguntado sobre a carreira como um bailarino negro na França – ressaltando que ele é cidadão francês e se aposentou no país europeu –, Fernandes destacou, inicialmente, que teve uma infância rígida e religiosa. Contudo, ao começar a fazer ginástica para controlar o seu peso, teve um pontapé inicial para conhecer a dança.
“Uma parte da minha família foi contra a minha nova vocação. Saí da casa dos meus pais aos 18 anos e resolvi abraçar a arte. Gosto de desafios, de sair do lugar de conforto. Comecei a dançar, tive projetos na Rede Globo, virei ator, até ter um convite para um trabalho em Mônaco. Para fazer este trabalho, antes falei com pessoas ao meu redor, mais velhas, que me apontaram que seria um bom caminho. Como um negro no Brasil, há oportunidades que são raras. Tive muita sorte na Europa, fui abraçado de uma forma surpreendente, pois caí no berço das artes. Nós brasileiros temos uma arte conhecida no mundo inteiro”, comentou.
Economia Open Talent: O Futuro do Trabalho e suas novas formas
Participantes:
- Andréa Cruz, CEO da Serh1 Consultoria;
- Andrea Janér, CEO da Oxygen;
- Mórris Litvak, CEO e Fundador da Maturi;
- Luiz Serafim, Palestrante de Criatividade, Inovação e Liderança
O conceito de Economia Open Talent remete a um modelo emergente no qual as empresas acessam e utilizam talentos externos em vez de depender exclusivamente de seus próprios funcionários internos. Este conceito está intimamente ligado ao aumento do trabalho remoto, plataformas de freelance, e à gig economy, na qual indivíduos podem ser contratados para projetos ou tarefas específicas, independentemente de sua localização geográfica.
Dando início à conversa mediada por Mórris, Andréa Cruz comentou que o que mais valoriza no open talent é o reconhecimento das habilidades e da eficácia na realização dos trabalhos. À discussão, ela trouxe provocações envolvendo a saúde financeira e o modelo mental, além da disposição para aprender coisas novas, como critérios para um profissional saber se é ou não adaptável ao open talent.
“O open talent no Brasil, na prática, é dizer que qualquer pessoa pode ter acesso ao seu talento. Eu posso oferecer o meu talento às empresas A, B, C e D. Um elemento novo de anos para cá são as empresas da nova economia, como aplicativos de transporte e serviços. São formatos sem relação CLT. É um exemplo que traduz um pouco desse conceito, traduzindo-o para a brasilidade.”
Por conta dos fatores como a escalabilidade e a flexibilidade, tal modelo é uma nova porta de entrada para profissionais sêniores. Andréa destacou, inclusive, o surgimento do as a service, uma ferramenta que conduz organizações a contratarem até mesmo CEOs temporários, o que abre oportunidades e aberturas para uma nova demanda ao público 50+.
Luiz Serafim, por sua vez, contou que se via como um intraempreendedor atuante em modelos tradicionais, o que o motivou a mergulhar na jornada da open talent, um contexto bem diferente de como o mercado de trabalho era há algumas décadas.
“Nós com mais de 50 anos começamos nossa jornada profissional em outro mundo. Era praticamente uma traição você ter uma atividade paralela ao seu emprego”. Segundo ele, a revolução digital e a transformação sociocultural foram fatores determinantes para a evolução mercadológica, o que abre espaço para diferentes dinâmicas profissionais.
“Quando você quer mudar de empresa, a primeira ideia é você ir para uma outra e fazer praticamente a mesma coisa que fazia na anterior. Levei alguns meses de reflexão para pensar no que queria e resolver fazer outra coisa, com mais significado para mim. Eu quero continuar relevante e produtivo, mas tendo tempo para meu filho. Então, alguns modelos não funcionavam mais para mim. Mas é bom ter um planejamento para esses novos papéis”, orientou.
Na visão de Andrea Janér, os pilares mais fundamentais na economia open talent – para que haja sucesso na execução do modelo – são a atualização contínua e a construção de comunidades.
“São dois elementos importantes para a formação de um profissional longevo, principalmente na economia do conhecimento. O open talent é uma visão de futuro no qual as empresas podem acessar os melhores profissionais para determinados projetos. É um cenário em que, para as empresas, é possível contar com pessoas que elas não conseguiriam ter em seus quadros de funcionários com um custo competitivo. Para o profissional, as vantagens vão desde a flexibilidade de tempo até a remuneração”, disse.
Contudo, apesar das virtudes citadas do open talent, há também desafios e habilidades exigidas que são primordiais para fazer a dinâmica de trabalho abordada ser, de fato, funcional, segundo ela.
“Há desafios das empresas ao contratarem os profissionais e os desafios destes. Da parte das organizações, nem todas estão preparadas para receber um freelancer, um profissional open talent, e dar a ele todos os recursos para que haja fluidez. Falo, por exemplo, de oferecer infraestrutura de comunicação e conexão. Haverá alguma ferramenta, um e-mail da empresa? Quais são os recursos? Há também o cuidado para lidar com informações sensíveis.”
Já do ponto de vista do prestador de serviço, há, segundo ela, a preocupação com a definição de escopo, além da constante necessidade de atualização – principalmente com as inteligências artificiais.
“Isso, muitas vezes, gera mal-entendidos. Temos que aprender a fazer o contrato de trabalho de forma bem amarrada, profissional e estruturada para não ter surpresas lá na frente. Além disso, você é o responsável pela sua carreira. É quem cuidará da gestão do tempo, recursos, repertório, plano de saúde. Você também está sujeito ao burnout. Tenha horários bloqueados para clientes e sinalize. O maior desafio de um profissional 50+ é a atualização com um mundo que se movimenta tão rápido. Meu conselho é tirar uma hora por dia para entender melhor a inteligência artificial e desenvolver o letramento. Muitos jovens até têm a facilidade para lidar com essas ferramentas, mas não têm repertório, não sabem julgar a qualidade da resposta”, explicou.
Empreender com propósito, projetos de vida e carreira na maturidade
Participantes:
- Andrea Tenuta, Head de Novos Negócios da Maturi;
- Geraldo Rufino, Empreendedor, Palestrante e Escritor;
- Magna Coeli, Diretora Criativa na Refazenda;
- Andrea Carvalho, Sócia e fundadora da Papel Semente.
Sob o comando da Head de Novos Negócios da Maturi, Andrea Tenuta, um trio de empreendedores abrilhantou o evento falando sobre novos desafios de vida na maturidade.
Magna Coeli fez da confecção de roupas o seu caminho para promover mudanças no mundo. Sua trajetória teve início no Nordeste com o sonho de que as roupas expressariam a cultura de sua região e também sua “rebeldia filosófica”.
“Eu não percebia que esse propósito era tão forte. Eu o chamava de ‘rebeldia’. Até que entendi que essa rebeldia tinha que ser negociada. O que era uma resistência dos meus filhos em aceitar minha forma filosófica de ser era, na verdade, uma forma de admiração. Quando percebi isso, criei mais força para impulsionar a empresa, que fará 35 anos, e que conversa com o mundo através da confecção.”
Ainda assim, Magna salientou que fazer moda no Brasil traz muitos desafios, que vão desde os cuidados com a geração de lixo até a inconformidade com padrões culturalmente estabelecidos. Além dos cuidados ambientais, outro fator que não pode ficar de fora é o sentimento de jovialidade, com os desafios do tempo sendo fatores que geram empolgação e não desgaste.
“Esses desafios se transformaram em um propósito que passou de geração para geração. O desafio da sustentabilidade e de se manter jovem apesar do tempo de atuação como empresária têm sido uma constante”, disse.
Ao ter a palavra, Andrea Carvalho trouxe ao público um pouco da história da Papel Semente. Motivada a montar um negócio, após atuar por anos em uma ONG, aproveitou a mudança para o Rio de Janeiro para focar na criação da sua marca.
“Acordo todos os dias pensando na cadeia que gosto de cuidar para entregar o produto no mercado. É acordar sabendo a diferença que a gente se propõe a fazer. Encontrar o equilíbrio em um negócio familiar intergeracional é um grande desafio, mas o grande exercício é entender que todos estamos ali pelo negócio, que é muito maior que os egos. Essa foi a grande lição que tive e é um treino até hoje. Meu filho traz muitas ideias e eu continuo achando que tenho muita experiência. Mas o negócio está acima dessas individualidades. E também nos momentos de desafio temos que encontrar a felicidade”, contou.
Geraldo Rufino, falando diretamente da Paraíba, também inspirou os participantes do evento ao compartilhar sua jornada empreendedora. Munido de um sorriso largo, o palestrante e escritor veio de uma “história de felicidade”.
“Eu tive uma mãe que eu considerava coach e mentora. Para mim, empreender tinha a ver com o que minha mãe fazia: a vontade ser útil para o próximo. Eu tive uma base familiar e o pilar do alicerce sempre foi a referência feminina, a mãe. Então, na realidade, eu vim fortalecido de lá [da infância] e preservei isso. Eu descobri a ‘melhor idade’ aos 7 anos e a preservei mentalmente. Mudei de endereço, de estrutura, meu sentido de empreender, mas não minha alegria de viver, minha felicidade”, compartilhou.
Para ele, o primeiro passo para empreender é saber como trabalhar bem a mentalidade. “Tudo começa na mente. Não é a condição social, é querer fazer, é querer contribuir com a sociedade, é querer deixar um legado. Minha mãe é imortal. Uma pessoa que onde passava, deixava a sementinha por mudar a vida de alguém. Essa imortalidade nós podemos acessar e eu busco todos os dias acessá-la”, finalizou Rufino.
O evento está só começando
Além das atrações acima, o primeiro dia de evento trouxe outros debates essenciais para a realidade 50+ atual. Nomes como o professor Edney “InterNey” Souza, referência em tecnologia e inovação, os atores Mauro Mendonça e Rosamaria Murtinho, além do cineasta Fernando Schultz, também marcaram presença.
As inscrições presenciais para o MaturiFest 2024 estão esgotadas, mas ainda é possível acompanhar as atrações online do evento – inclusive as gravações das conversas de hoje, benefício incluso em um dos pacotes. Inscreva-se neste link e aproveite o melhor dos três dias do festival.
Por Bruno Piai