Equilibrar as demandas exigidas pelo alto escalão corporativo com as responsabilidades da paternidade é um dos principais desafios enfrentados por CEOs, independente da idade ou do setor em que atuam. Enquanto lideram empresas que impactam mercados globais, executivos buscam encontrar formas de conciliar os compromissos profissionais com os momentos em família.
Para celebrar o mês dos pais, conversamos com os CEOs das empresas PipeImob, Nuvini, Virgo, BCR.CX e Datahub. Com estratégias adotadas no dia a dia, estes líderes revelam como harmonizam as exigências profissionais com o papel fundamental de ser pai, demonstrando que a paternidade e o sucesso empresarial podem caminhar lado a lado. Confira:
CEO, triatleta e pai de cinco filhos
Aos 52 anos, Roberto Nascimento, cofundador e CEO do PipeImob, startup de soluções para o mercado imobiliário, é pai de cinco filhos: Manuela (21), Carolina (19), Valentina (9) e dos gêmeos Rafael e Tomás (6).
Além da agenda lotada de compromissos profissionais e das responsabilidades da paternidade, desde 1990 Roberto pratica triatlo e corre maratonas. A rotina de atleta do executivo torna a tarefa de conciliar trabalho e família ainda mais desafiadora. Segundo Nascimento, um dos segredos para encontrar o tão desejado equilíbrio entre vida profissional e pessoal é adotar a objetividade.
“A paternidade é uma faculdade. Você aprende muito e passa a enxergar a vida com outra perspectiva. Há um Roberto antes do nascimento da minha primeira filha, e outro depois. No dia em que a Manuela nasceu, não quis mais perder tempo com assuntos improdutivos no ambiente de trabalho, só para fazer o estilo ‘workaholic’. Sempre penso no que preciso fazer para atingir meus objetivos, trabalhando menos. A maior riqueza de uma pessoa são os filhos. Por isso, é mais do que necessário aprender a equilibrar a vida profissional com a família”, comenta Nascimento.
Com mais de 20 anos de atuação no mercado imobiliário, antes do PipeImob o executivo cofundou e ocupou cargos de liderança em empresas como Zap Imóveis e Kzas Krédito (Grupo Creditas).
Planejamento e disciplina
Desde muito jovem, Pierre Schurmann aprendeu na prática a importância do planejamento e da disciplina. Filho primogênito da família Schurmann, conhecida pelas longas viagens de veleiro ao redor do mundo, viveu dos 15 aos 19 anos embarcado ao lado dos pais, Vilfredo e Heloísa, e dos irmãos, David e Wilhelm.
O estilo de vida a bordo exigiu que o ainda jovem Pierre desenvolvesse habilidades que, no decorrer dos anos, ajudariam a moldar a forma como ele lida com as responsabilidades da paternidade e dos negócios.
Aos 55 anos, Schurmann é pai de Emmanuel (32), Sebastian (29), dos gêmeos Guilherme e Chloe (11), além de fundador e CEO da Nuvini, holding de empresas SaaS. O executivo ressalta que equilibrar paternidade e trabalho demanda não só planejamento e disciplina, como também “saber priorizar o que realmente importa na vida”.
“Quando meus pais decidiram sair para velejar e dar a volta ao mundo com toda a família, quase tudo o que eu tinha como referência de vida mudou. Essa experiência me fez aprender e acreditar que é possível alcançar qualquer objetivo. Para mim, a paternidade é sinônimo de contribuir para o mundo. Afinal, os filhos são o real legado que deixamos aqui”, destaca Pierre.
A escolha mais difícil da vida
CEO da BCR.CX, empresa de tecnologia que oferece soluções para atendimento ao consumidor, Bruno Rodrigues (41), relata um dos momentos mais impactantes na sua jornada de empresário e pai. Na ocasião do nascimento da primeira filha, Beatriz, enfrentou a maior crise da carreira, ao perder seu contrato mais importante.
“Na incerteza da sobrevivência do meu negócio, conversei com minha esposa, Danielle, e entendemos que haviam duas opções: aproveitar ao máximo os momentos em família ou me dedicar arduamente para a empresa dar certo e construir o melhor futuro para nossas filhas”, diz.
Ao escolher a segunda opção, Rodrigues precisava tomar atitudes para que o negócio voltasse a prosperar. “Nos primeiros anos, me lembro que saía de casa às 7h e voltava só às 21h. Foi o momento mais difícil da minha vida. Por um lado, estava radiante por ter uma filha, por outro me sentia angustiado com a situação da empresa”, relata.
Nessa época, o executivo decidiu mudar a área de atuação da BCR, antes especializada em análise antifraude, para um negócio de atendimento ao consumidor. A aposta deu certo. Hoje, a BCR.CX conta com 400 colaboradores e tem em seu portfólio clientes como Bauducco, M. Dias Branco e Volvo.
“A Bia é uma linda menina de nove anos que cresceu junto com a empresa. Já a Sofia, de seis anos, veio em um momento mais tranquilo, no qual pude estar mais presente em todas as etapas, um equilíbrio que é raro para quem empreende no Brasil”, pontua Bruno.
Investimento necessário
Marido da Fernanda, pai do Inácio, de 1 ano e meio, e padrasto do Joaquim, de 6 anos, Daniel Magalhães (37 anos), é CEO da Virgo. O executivo acredita que há similaridades entre exercer a paternidade e liderar uma empresa.
“A parte mais significativa de ser pai é ter cuidado com o outro, atuar diariamente para que essa pessoa se desenvolva, para que ela cresça em todos os aspectos e que encontre um lugar seguro em momentos difíceis. A convivência com meus filhos me transformou em um ser humano melhor e em um líder mais empático para os 120 colaboradores e as 400 pessoas que indiretamente dependem de nós”, pontua.
Como líder de uma fintech de serviços e soluções financeiras para o mercado de capitais, Magalhães considera um privilégio debater o assunto, já que o mercado financeiro, com raras exceções, não costuma cultivar valores ligados à parentalidade.
“Tenho amigos com filhos que não conseguem se ausentar por mais de uma semana por causa da cultura da empresa onde trabalham. Na Virgo, resolvemos que seria diferente. Desde a nossa fundação, num momento em que não tínhamos certeza do que isso significaria em termos de impacto financeiro, adotamos uma política de licença-paternidade e maternidade estendidas, com a possibilidade de o colaborador emendar também o mês de férias”, conta.
O executivo defende que investimentos como esses compensam, principalmente por conta do retorno humano. “É claro que olho para as métricas financeiras, mas as métricas de impacto são muito mais relevantes. Fundei a empresa que gostaria de trabalhar, porque cabe a nós, CEOs, que ocupamos uma posição privilegiada, nos tornarmos defensores e embaixadores desses ideais. Só assim vamos pressionar outras empresas para que façam o mesmo”, reforça o CEO da Virgo.
No Brasil, a licença-paternidade é de cinco dias corridos. De acordo com pesquisa Datafolha divulgada em abril deste ano, 76% dos brasileiros afirmam que esse direito deveria ser ampliado.
Estabelecer limites
À frente da Datahub desde 2004, André Leão tinha 30 anos quando fundou a empresa, época em que já tinha dois filhos: um menino de dois anos e uma menina de cinco. Hoje, aos 51 anos, com Theo e Luana já adultos, André relembra um dos momentos mais marcantes da paternidade. “Em um sábado, precisei trabalhar. Minha esposa me ligou, eufórica, para contar que o Theo, na época com um ano de vida, tinha dado seus primeiros passos. Perder este momento me deixou arrasado. Depois disso, decidi nunca mais permitir que o trabalho me roubasse um acontecimento tão importante”, recorda.
O CEO da Datahub conta que o maior desafio que enfrentou como pai foi também o seu maior acerto. “Estabeleci um limite de horário para chegar em casa após o trabalho. Naquele tempo, o modelo home office não era comum. Fazia parte da cultura dos executivos trabalhar até às 21h ou às 22h. Decidi que chegaria em casa todos os dias antes das 19h, para brincar, dar banho, jantar, contar histórias e colocar meus filhos para dormir. O KPI mais relevante que estabeleci para mim foi ser um bom pai”, diz.
Aquilo que o executivo colocou em prática em sua vida é também o que busca oferecer aos seus colaboradores. “Adotamos a licença-paternidade estendida, promovemos políticas de trabalho flexíveis e encorajamos os pais a participarem ativamente na vida dos filhos, sem medo de represálias ou estigmatização. Afinal de contas, parafraseando a escritora e jornalista Ann Landers, o verdadeiro sucesso na vida é alcançado quando seus filhos, depois de adultos, voltam frequentemente para estarem juntos com você. Ser pai é o maior cargo que eu poderia ter, é o maior legado que posso deixar”, conclui Leão.