A pesquisa inédita “Mapeando um ambiente pró-família nas organizações” avaliou a experiência de mães/pais, liderança e colegas de profissionais com filhos em suas empresas, a fim de investigar o entendimento do conceito de um ambiente acolhedor para colaboradores com filhos.

As mães são mais criteriosas do que pais e líderes quando o assunto é satisfação no ambiente de trabalho. Dados do levantamento indicam que 90% dos homens acreditam que a empresa na qual trabalham é um bom lugar para as mães trabalharem. Quando a mesma pergunta é feita para essas mulheres, o índice cai para 68%. A discrepância também acontece entre líderes (83%) e colegas de profissionais com filhos (80%), ainda sobre o ambiente favorável para essas mães.

As mulheres também demonstram maior critério quando interrogadas se a empresa é um bom lugar para pais trabalharem, se mostrando menos otimistas (77%) em relação aos colaboradores homens (87%), bem como aos líderes (83%).

Quando questionados sobre o benefício essencial na criação de um ambiente pró-família, a maioria das pessoas lideradas apontou a jornada de trabalho flexível em primeiro lugar, superando as licenças maternidade e paternidade estendidas, o auxílio-creche e o plano de saúde estendido aos dependentes.

Os dados do levantamento são da Filhos no Currículo, consultoria focada em criar ambientes corporativos cada vez mais acolhedores para pais e mães, e teve o apoio da Talenses Group e do Movimento Mulher 360.  O estudo também investiga o grau de segurança da gestão para lidar com os desafios de seus liderados. Foram ouvidos 1.568 profissionais de empresas de todas as regiões do país, entre novembro de 2021 e janeiro de 2022. 

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Expectativa x Realidade com a liderança

Entre as iniciativas socioemocionais apontadas como desejáveis num ambiente pró-família, liderança acolhedora e empática foi requisito principal apontado pelos profissionais. Em seguida: recepção no retorno da licença, preparação para a licença-maternidade e mentorias de carreira após a chegada dos filhos, apoio psicológico e, por fim, programas de acompanhamento para gestantes e parceiros.

De primeira, 70% dos colaboradores se declararam acolhidos pelo seu líder direto, mas, ao serem questionados se sentiam alguma insegurança para comunicar suas necessidades com clareza para o gestor, 45% responderam ainda ficar inseguros, e 35% dos colaboradores, em geral, afirmaram ter nenhuma ou pouca clareza acerca das políticas de parentalidade da organização.

Com relação à liderança, 98% afirmam se sentir seguros em gerir uma equipe de profissionais com filhos, mas, ao serem perguntados sobre o grau de segurança para esclarecer dúvidas relacionadas às políticas de parentalidade, esse percentual cai para 73%. 

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Medos Permanecem

Os resultados da pesquisa levantam outro aspecto importante: um em cada quatro entrevistados vivenciam ou vivenciaram uma parentalidade com desafios, caracterizada pelo luto gestacional, a parentalidade solo ou de filhos com necessidades específicas, adoção, gestação de risco ou prematuridade, dentre outros casos.

A maioria deles apresentou uma visão ainda mais crítica com relação às práticas de parentalidade desenvolvidas nas empresas. Eles também expõem mais falta de segurança no retorno após o período de licença.  A diferença de insegurança desse grupo para aqueles que não têm uma parentalidade desafiadora chega a dez pontos percentuais.

Atenção especial no retorno ao trabalho: 25% dos pais e mães em geral revelam insegurança nessa fase. Para os líderes, esse também é o momento de menor percepção de segurança desde a saída para a licença. A importância de um olhar atento nesse momento é tão crítica, que consta entre as top 5 iniciativas almejadas para a criação de um ambiente de trabalho que respeite a parentalidade (58%). 

“Quero que as empresas entendam que não sou divisível nos meus papéis. Sou sempre mãe e naquele momento ESTOU trabalhando. Meu filho existe, mesmo no horário comercial. E eu sou mãe no horário comercial. E minhas escolhas e visão de mundo possuem esse filtro também, de alguém que tem filhos, que enxerga o mundo por essa ótica”, disse uma das entrevistadas pelo relatório.

A pesquisa também apurou as percepções na espera do bebê: quatro em cada dez entrevistados disseram ter apresentado algum grau de insegurança para dar a notícia da gestação e cuidar de suas necessidades físicas e emocionais. Em relação à licença-maternidade e retorno ao trabalho, sustentar a amamentação nesse retorno foi considerado preocupante para metade das mães. 

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Mais isonomia na criação de um ambiente pró-família

Para Michelle Terni, cofundadora da consultoria Filhos no Currículo e idealizadora da pesquisa, o levantamento indica três principais caminhos. O primeiro deles é reforçar o trabalho de base dentro das empresas – que passa pela implementação de benefícios (como jornadas flexíveis, licenças parentais, auxílios financeiros e de saúde), até a mudança no comportamento da liderança.

Outro ponto, segundo ela, é tratar a causa das disparidades encontradas no mercado em relação ao que é este ambiente pró-família. “Não há um olhar unificado sobre o significado. Percebam que a maioria se diz satisfeita com as práticas das empresas, ou seguras para liderar colaboradores com filhos. Ao mesmo tempo, sinalizam desconhecer o que é uma política parental ou não ter preparo para orientar seus colaboradores sobre o assunto”, destaca a consultora responsável pela implementação de trilhas de conteúdo, vivências de sensibilização e estruturação de programas de parentalidade corporativos.

A respeito da visão mais criteriosa das entrevistadas mães, Michelle enfatiza que o terceiro caminho é trazer mais isonomia para a conversa. “Essa diferença nas percepções é reflexo de uma sobrecarga para essas mulheres no que se refere aos cuidados parentais. A realidade começará a mudar quando as empresas ampliarem a pauta, deixando de falar somente para e com a mulher, e passarem a abrir diálogo e propor benefícios e políticas para a família, em seus vários formatos possíveis”, frisa.

Ainda falando de isonomia, a especialista acredita que o mesmo acontece com pais e mães que apresentam situações adversas de parentalidade. “Se um em cada quatro pais enfrentam desafios – como luto, filhos com necessidades específicas, entre outras questões, as empresas precisam se movimentar com políticas, processos, iniciativas e atitudes adequadas para acolher essa diversidade”, completa.

Por Redação