Na medida em que as organizações fortalecem as suas políticas de acolhimento e cuidado com a saúde do colaborador, a conscientização contra vícios é cada vez mais recorrente. O fumo, por exemplo, é um problema coletivo que entrou de vez na pauta dos negócios. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o tabaco mata mais de 8 milhões de pessoas por ano, sendo que mais de 7 milhões dessas mortes resultam do uso direto do cigarro, enquanto cerca de 1,2 milhão é o resultado de não fumantes expostos ao fumo passivo. A entidade aponta, ainda, que o tabagismo é a principal causa de morte evitável no mundo.

Dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca) mostram que 10% dos fumantes chegam a reduzir sua expectativa de vida em 20 anos, além de estar associado ao aumento no risco de múltiplos problemas de saúde, como doenças cardiovasculares, respiratórios e diversos tipos de cânceres.

Como as empresas estão promovendo conscientização?

A MSD (Merck Sharp & Dohme) recebeu o selo ‘CEO Cancer Gold Standard’ (padrão ouro em iniciativas de prevenção ao câncer). Para obter a certificação, os empregadores devem tomar uma série de medidas para reduzir o risco e o ônus do câncer.

O reconhecimento é feito pela organização sem fins lucrativos CEO Roundtable on Cancer (mesa-redonda de CEOs sobre Câncer), fundada pelo ex-presidente americano George H.W. Bush e que reconhece as empresas que têm um compromisso extraordinário com a saúde e bem-estar dos funcionários.

Com o objetivo de ser uma empresa globalmente livre do tabaco, a MSD tomou algumas providências com relação ao consumo da substância nas dependências da companhia. Qualquer propriedade própria ou alugada pela empresa, como edifícios, zonas de descanso, garagens, estacionamentos e carros corporativos da empresa são zonas livres de tabaco, além de não possuir mais áreas designadas para fumar em nenhuma de suas unidades ou escritórios.

“É muito importante deixar claro que nosso funcionário que fuma não é obrigado a deixar de fumar e continuará sendo tratado com todo o respeito que sempre mereceu e sempre merecerá da MSD. A ideia é apoiar aqueles que desejarem obter apoio para abandonar o cigarro,” comenta Andres Massoni, diretor de RH da MSD para as divisões de Saúde Humana e Animal no Brasil.

A companhia oferece todo suporte necessário por meio de um programa de apoio que fornecerá subsídio de 100% no custo de medicamentos antitabagismo para o funcionário que desejar parar de fumar, além do apoio psicológico pelo plano de saúde e Resources for Living, programa de assistência ao funcionário disponível 24 horas por dia, 7 dias por semana, totalmente gratuito e confidencial, que conta também com treinamento com dicas sobre como parar de fumar.

“A MSD Brasil está na vanguarda da pesquisa sobre câncer, com invenções que estão ajudando a prevenir e tratar a doença. No entanto, nosso compromisso em combater o câncer se estende além de nossas pesquisas científicas. Na MSD Brasil, nossos colaboradores são nosso recurso mais crítico, e é por isso que ficamos honrados por sermos reconhecidos com o The Gold Standard. Quando nossos funcionários se sentem melhor, eles podem fazer o melhor possível, o que é crucial para nos ajudar a cumprir a missão de melhorar e salvar vidas”, afirma Ken Frazier, presidente do conselho global da MSD.

Outra companhia que entrou de cabeça nas campanhas e iniciativas antitabagismo foi a thyssenkrupp. Para marcar o Dia Nacional contra o Tabaco (29 de Agosto), a empresa divulgou que está ampliando suas ações com um programa de apoio aos colaboradores na unidade Springs & Stabilizers de Ibirité (MG). 

Com isso, já são três as fábricas do grupo no Brasil que contam com iniciativas do gênero. As outras duas plantas, em Campo Limpo Paulista (SP) e Santa Luzia (MG), que somam 2,5 mil colaboradores, tornaram-se ambientes livres de tabaco em janeiro de 2020, após a implementação do programa PARE nessas localidades.

O primeiro passo foi a retirada dos fumódromos, em 27 de agosto. Na sequência, a promoção de palestras de conscientização com profissionais de saúde, além de viabilizar o acompanhamento médico, psicológico e nutricional. Fornecer medicamentos aos colaboradores que tiverem interesse em buscar ajuda para parar de fumar também está no pacote de boas práticas.

“As mesmas iniciativas foram implementadas na fábrica de São Paulo oito anos atrás, então sabemos que é um caminho efetivo. As ações funcionaram tanto que garantem um baixo indicador de fumantes até os dias de hoje, mas vamos aproveitar essa aplicação em Ibirité para estender aos 700 colaboradores e prestadores de serviço paulistanos, como um processo de reciclagem”, conta Sandra Quagliato, Gerente de Recursos Humanos da thyssenkrupp Springs & Stabilizers.

O programa PARE, criado em 2018 pela thyssenkrupp Metalúrgica Campo Limpo, já atendeu mais de 150 colaboradores e terceirizados, além de seus respectivos familiares. Entre as iniciativas, a empresa oferece apoio psicológico e médico, como também custeamento de 60% do valor dos medicamentos e de adesivos de nicotina para auxiliar no tratamento do vício para os participantes. Estruturalmente, os fumódromos, que antes eram localizados no interior da fábrica, foram transferidos para uma área externa da unidade.

Como resultado, 70 pessoas que já passaram pelo projeto conseguiram parar de fumar. Na fábrica de Ibirité, mais de 10% do público é fumante, entre colaboradores e terceirizados.

thyssenkrup contra o Tabagismo

No dia mundial sem tabaco (31 de maio), a thyssenkrupp se fez presente na web e nos espaços de trabalho em prol da conscientização – foto: thyssenkrupp

“Trabalho há 21 anos na thyssenkrupp e depois de um tempo fumando, percebi que era algo muito ruim não apenas para a saúde, mas para o meu trabalho. Felizmente, convenci minha esposa a participar do programa aqui na empresa – o que foi maravilhoso, pois ela também parou de fumar. Agradeço o apoio que recebemos. Agora, a minha filha até me abraça mais, tenho muito orgulho por ter conseguido parar”, conta Robson Marinho, operador de produção na fábrica de Campo Limpo. Ele ainda aconselha aos que estão tentando parar: “Não é fácil, mas o esforço é recompensador”, acrescenta.

O fumo no Brasil

No país, 162 mil pessoas morrem todos os anos devido ao tabagismo, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer do Ministério da Saúde. Além disso, o órgão estima que R$ 125 bilhões são gastos anualmente com doenças e incapacitações relacionadas ao uso do tabaco.

Com a pandemia, o vício no tabaco se tornou pauta ainda mais preocupante. Segundo pesquisa realizada pela Fiocruz, 34% dos fumantes brasileiros declararam ter aumentado o número de cigarros fumados. O quadro está associado ao aumento das doenças mentais durante o cenário pandêmico, como a depressão, a ansiedade e também a insônia.

Outro fator de preocupação é a entrada de produtos ilegais no Brasil. Embora, segundo a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), o país tenha tido uma queda de 30% no número de fumantes após ser sancionada, em 2000, a lei que proíbe propagandas de cigarro, um levantamento do Ibope revela que 57% do mercado de tabaco nacional responde por contrabando e/ou cigarro ilegal.

Por Bruno Piai