Com a realidade estabelecida após um ano da chegada da pandemia de Covid-19, alguns fatores ganharam força ou se tornaram mais importantes para as novas gerações. A edição de 2021 do estudo global Millennials e Geração Z, da Deloitte, maior organização de serviços profissionais do mundo, apresenta como essas gerações estão se transformando, o quanto se sentem responsáveis por questões da sociedade e o que esperam das empresas e instituições para impulsionar mudanças ao redor do mundo.

Em sua 10ª edição, a pesquisa retrata que os millennials e a geração Z acreditam que o mundo está em um ponto de inflexão sobre questões ambientais, desigualdade e racismo. Eles estão responsabilizando a si próprios e às instituições para prover uma realidade mais sustentável e equitativa. No Brasil, destacam-se o alto nível de estresse e ansiedade dos jovens, a preocupação com o desemprego, o combate ao racismo sistêmico, os efeitos da pandemia na sociedade e no futuro, o que esperam das empresas e a visão sobre economia, política e mudanças climáticas.

“Vemos essas gerações com mais envolvimento nas questões públicas, alinhamento de gastos, nas escolhas de carreira que reflitam seus valores e com o objetivo de trazer mudanças em questões sociais que consideram mais importantes. Elas trazem uma maneira de pensar e agir diferentes, mas os valores permanecem firmes, sustentando seus idealismos e o papel de que as empresas têm o dever de fazer mais para ajudar a sociedade. O momento é ideal para as organizações e instituições se adaptarem e se transformarem para atender a essas necessidades.”, aponta Marcos Olliver, sócio líder de Talent da Deloitte .

Altos níveis de estresse e ansiedade impulsionados por preocupações com finanças, bem-estar e trabalho

Mais da metade dos respondentes de ambas as gerações disseram que se sentem estressados na maior parte do tempo. O futuro financeiro de longo prazo, o bem-estar familiar e as perspectivas de emprego são as três causas mais comuns de estresse das gerações. Para a geração Z, os principais fatores de estresse são sobre empregos/perspectivas de carreira e o futuro financeiro de longo prazo; para os millennials, suas situações financeiras pessoais.

O estresse e a ansiedade são prevalentes no local de trabalho, e os esforços dos empregadores pela saúde mental são vistos como inadequados. Mesmo com 52% dos millennials no Brasil não se sentindo à vontade para conversar com seus empregadores sobre o estresse causado pela pandemia, em comparação com a média global, a geração parece um pouco mais aberta com seus empregadores sobre o assunto. Entretanto, a maioria sente que seus empregadores ainda podem fazer mais em relação ao apoio do bem-estar mental dos funcionários durante a pandemia. Os millennials, mais do que a geração Z no Brasil, se sentem ainda menos apoiados por seus empregadores.

A “flexibilidade/adaptabilidade” foi apontada por todos como fator mais importante para o sucesso das empresas. “Promover conexões de trabalho mais abertas e inclusivas em que as pessoas se sintam confortáveis falando sobre estresse, ansiedade ou outros desafios de saúde mental que estão enfrentando, é fundamental. Atualmente se tornou mais importante a criação de um local de trabalho que apoie o bem-estar dos funcionários.”, afirma Marcos Olliver .

Desemprego continua sendo uma das principais preocupações das gerações brasileiras

No Brasil, o desemprego permanece liderando a lista dos millennials, seguido por cuidados com a saúde/prevenção de doenças e segurança; para a geração Z, estão o desemprego, a segurança e a saúde em terceiro lugar. Para mais quase metade dos respondentes de ambas as gerações, no Brasil, mais pessoas se comprometerão a tomar medidas sobre questões ambientais após a pandemia e mais de dois terços concordam que as mudanças ambientais identificadas durante a pandemia os tornaram mais otimistas em relação à reversão das mudanças climáticas no futuro.

Muitos ainda acreditam que a ganância e a proteção dos interesses próprios das empresas/pessoas em melhor situação são os principais fatores para a desigualdade social (para 39% dos millennials e 41% da geração Z); mais de três quartos dos millennials (85%) e da geração Z (83%), no Brasil, acham que a riqueza e a renda estão desigualmente distribuídas.

Racismo sistêmico mais disseminado na sociedade em geral

Os millennials e a geração Z acreditam que a discriminação é generalizada, provavelmente possibilitada pelo racismo sistêmico em toda a sociedade e nas grandes instituições. Pelo menos um em cada cinco entrevistados se sente pessoalmente discriminado “o tempo todo” ou “frequentemente”, devido às aparências que revelam suas origens. No Brasil, as gerações são ligeiramente mais propensas do que a média global a se sentirem pessoalmente discriminadas pelo governo, empresas e mídias sociais e responderam se sentirem menos discriminados durante as atividades cotidianas e em seus locais de trabalho; 85% da geração Z e 72% dos millennials creem que o racismo sistêmico é difundido na sociedade em geral.

Os jovens, em sua maioria, acreditam que estamos em um ponto de inflexão quando se trata de discriminação e a mudança é possível a partir deste ponto e que a intervenção do governo ajudaria a lidar com a desigualdade no mundo e que os indivíduos e ativistas estão fazendo o máximo para reduzir o racismo sistêmico, enquanto o governo e demais políticos, assim como o sistema jurídico e as empresas, fazem pouco em relação aos seus potenciais para promover mudanças. Em termos de ação, comparados com a média global, os millennials e a geração Z no Brasil são mais propensos em doar recursos educacionais para instituições de caridade que trabalham para melhorar as oportunidades para grupos de baixa renda.

Efeitos da pandemia de Covid-19 refletem nas gerações, na sociedade e no futuro

Em comparação com a média global, os millennials e a geração Z no Brasil são mais propensos a afirmar que a pandemia os inspirou a tomar ações positivas para melhorar suas vidas (86% dos millennials e 82% da geração Z no Brasil, contra 71% e 70% dos respondentes globais, respectivamente). A pandemia teria trazido novas questões a eles e os tornado mais atentos às necessidades de outras pessoas em suas comunidades (81% dos millennials e 78% da geração Z no Brasil, contra 69% e 68% dos respondentes globais, respectivamente). Eles ainda se mostraram menos propensos do que os respondentes globais a concordar que agora há um forte sentimento de que todos ao redor do mundo estão “juntos nisso” (59% dos millennials e 55% das pessoas da geração Z brasileiras, contra 63% e 60% das gerações, respectivamente, globais). 

Em geral, ambas a gerações no Brasil são mais propensas do que os respondentes globais a acreditar que as pessoas darão mais importância à saúde no pós-pandemia, que a sociedade está pronta para lidar com futuras pandemias e que as pessoas estarão comprometidas em tomar medidas pessoais para questões ambientais e climáticas.

A maioria dos millennials e da geração Z, no Brasil, aderiu às diretrizes internacionais de saúde pública durante a pandemia (82% dos millennials e 78% da geração Z). Eles são ainda mais propensos do que os participantes globais (74% dos millennials e 69% da geração Z) a usar máscara em público ou evitar lojas, transportes públicos ou outros lugares lotados.

Visão sobre impacto social dos negócios continua a declinar

Continuando a queda dos últimos anos, 64% dos millennials e 51% da geração Z acreditam que os negócios têm impacto positivo na sociedade. No índice global, esta é a primeira vez que esses níveis caíram abaixo de 50% desde o início da pesquisa, em 2012 (47% e 48%, respectivamente, para as gerações globais em 2021).

A maioria dos respondentes millennials e da geração Z no Brasil concorda que as empresas “se concentram apenas em suas próprias agendas” (76% e 81%, respectivamente) e “não têm ambições além de querer ganhar dinheiro” (65% e 66%). E, em comparação com 2020, algumas percepções declinaram para as gerações em 2021: o foco na própria agenda passou de 78% para os millennials para 76% em 2021; e nenhuma ambição além de lucrar passou de 69% para 65%, respectivamente, para ambas gerações.

“Ao longo dos anos, o estudo global tem mostrado consistentemente que os millennials e a geração Z são direcionados por valores e ações e, agora, eles estão responsabilizando a si próprios e às empresas. Mesmo durante um ano difícil de pandemia (e talvez motivados por ela), eles continuam a pressionar por mudanças sociais positivas. As empresas que compartilham sua visão e os apoiam em seus esforços para criar um futuro melhor, ganharão destaque”, declara Marcos Olliver.

Gerações acreditam menos em melhora econômica e política, mas se tornaram mais otimistas quanto às mudanças climáticas

Millennials e geração Z do Brasil estão menos otimistas quanto à melhora da situação econômica geral do que nos últimos dois anos. No entanto, elas são significativamente mais positivas do que os respondentes globais: metade dos millennials e 39% da geração Z acham que a situação econômica vai melhorar em comparação com 27% dos millennials e da geração Z globalmente.

No Brasil, os respondentes também acreditam menos na melhora da situação sociopolítica geral do que nos últimos dois anos. Mas, novamente, eles são mais otimistas do que os jovens do resto do mundo.

A maioria dos millennials e de pessoas da geração Z no Brasil concorda que as mudanças ambientais vistas durante a pandemia os tornam mais otimistas de que as mudanças climáticas podem ser revertidas; eles também estão mais convencidos disso do que os respondentes globais. Mais de 4 em cada dez millennials e pessoas da geração Z, no Brasil, acreditam que o compromisso das pessoas em lidar com a mudança climática melhorará no pós-pandemia.

Metodologia

A pesquisa “Millennials e Geração Z” é anual e chega a sua 10ª edição e foi realizada, por meio de entrevista online, , com 14,6 mil millennials (nascidos entre janeiro de 1983 e dezembro de 1994) e 8,2 mil pessoas da geração Z (nascidos entre janeiro de 1995 e dezembro 2003), totalizando 22.928 entrevistados, de 45 países.

O estudo foi produzido entre 8 de janeiro e 18 de fevereiro de 2021.No Brasil, foram 800 respondentes, sendo 500 millennials e 300 da geração Z. O relatório deste ano marca a primeira vez que a Deloitte Global pesquisou millennials e a geração Z no mesmo número de países. Em 2020, a geração Z foi pesquisada em apenas 20 países, incluindo o Brasil.

Por Redação