Teve início nesta segunda-feira (18) a 48ª edição do Congresso Nacional de Gestão de Pessoas, o CONARH. Promovido pela ABRH Brasil, o evento, que é um dos mais da área de Recursos Humanos no país, traz neste ano como temática principal “Pessoas, Gestão e Negócios – É hora de acolher e ampliar horizontes”. Depois de dois anos sem a presença de público por conta da pandemia da Covid-19, o reencontro teve casa cheia no São Paulo Expo.

Abrindo os trabalhos do CONARH 2022, a primeira palestra magna, “Pense como um futurista: como transformar tendências em resultados tangíveis”, ministrada por Leonardo Coelho, Vice-Presidente de Head of Health & Human Capital Head of Wealth Solutions da AON, trouxe a norte-americana Elatia Abate (capa), criadora do Future of Now e líder da Forbes. Ela é considerada uma das mais importantes líderes futuristas.

Munida do bom português de quem viveu por 20 anos no Brasil, a executiva abriu as provocações destacando o quanto o futuro do trabalho será fortemente impactado por tecnologias que, desde já, começam a mostrar a sua força. No entanto, para ela, não basta pensar no que vem pela frente somente pelos olhos da digitalização. Elatia destaca a importância do mercado se atentar às mudanças que passaram a fazer parte de um “novo normal perigoso”, como o aumento global da uberização e a falta de estratégias para lidar com o envelhecimento da população, tanto em âmbito profissional como social.

Outro ponto a ser avaliado em relação à tecnologia é a sua relação com o Burnout. A palestrante trouxe à tona como a incerteza vivida pelas pessoas – especialmente o medo de perder o seu trabalho – se tornou um catalisador para profissionais desenvolverem a síndrome. Elatia relata que, segundo pesquisas, 47% da força de trabalho nos Estados Unidos deve ser substituída por computadores ou recursos informatizados até 2030, além de pontuar que 85% das profissões que guiarão o futuro do trabalho ainda não foram criadas.

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Apesar dessas disrupções causarem medo, elas também promovem oportunidades únicas, segundo a executiva da Forbes. Elatia classifica quatro grandes paradigmas como condutores de ação nos dias atuais: a saída de um mundo de “ou” para um mundo de “e”; local x global; abundância x escassez; e linear x exponencial. “As linhas estão se dissolvendo, fazendo com que pensemos em todas as coisas juntas. Nós estamos saindo de um mundo no qual o negócio é o negócio, que é moldado pelos economistas de Chicago, para um mundo onde um negócio deve gerar e criar valor no sentido mais amplo”. Na transição do mundo linear para o exponencial, a criadora do Future of Now elucida que os “6 Ds da mudança exponencial” dão à tônica das mudanças. Eles são:

  • Digitalização;
  • Desilusão;
  • Disrupção;
  • Desmonetização;
  • Desmaterialização;
  • Democratização.

CONARH

Em outro ponto da palestra, Elatia salientou a importância dos líderes realizarem uma “autodestruição criativa”. Ou seja, estarem envolvidos diretamente em discussões referentes a onde a empresa quer chegar e quais profissionais farão parte de tal processo. Para ela, vivemos a 4ª revolução, que é a da Convergência, e o líder do futuro não pode deixar de ser resiliente e de praticar a curiosidade empática. A palestrante cita também mudanças de estratégia com a conexão: “o biológico e tecnológico estão se juntando, assim como o físico e virtual, tornando tudo conectado.

Por fim, a norte-americana conta sobre um convite que fez para mais de 4000 mil pessoas no LinkedIn, pedindo que elas respondessem a cinco perguntas “Isso se tornou uma das experiências mais transformadoras da minha vida”. As respostas de 161 geraram um debate profundo de mais de 80 horas sobre resiliência regenerativa e saúde mental. A Resiliência Regenerativa, que chega para um mundo exponencial e quântico, traz a ideia de capacitar líderes fazendo com que eles se livrem das restrições de formas, modelos e estratégias de liderança antiquadas e incorporem as práticas que irão ajudar suas organizações a prosperarem em era de crescente disrupção.

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Saúde mental dita o ritmo

Na primeira leva de palestras simultâneas, acompanhamos o papo “Como potencializar a experiência do colaborador? Do preboarding ao offboarding”, que foi ministrada por Pedro Ramos, CEO da Keeptalent Portugal e Vice-Presidente da APG, e contou com Danila Ferreira, Diretora de RH e de Public Affairs Communications na CAVIBEL (EQUATORIAL COCA-COLA BOTTLING COMPANY)  Cabo Verde, e Genesson Honorato, Gerente de Employer Branding e diversidade na OLX Brasil. A dupla compartilhou suas experiências e vivência na promoção de iniciativas para melhorar o ambiente de trabalho para as pessoas, especialmente em tempos de pandemia. 

A palavra-chave da discussão foi saúde mental, que novamente aparece no topo das prioridades corporativas. Os palestrantes destacaram a importância do olhar para as pessoas por completo, para a experiência de vida de cada indivíduo, e não apenas um fragmento. Segundo a executiva, é fundamental que os profissionais se sintam acolhidos no espaço onde desenvolvem o seu trabalho. “É um desafio para as empresas, mas é importante fazer com que cada pessoa se sinta única e especial”.

Genesson e Daniela no CONARH

A palestra também deu atenção especial à diversidade. Honorato e Danila levantaram que trabalhar o D&I vai além da promoção de um ambiente virtual ou presencial que abrange diversas culturas, religiões, opiniões e a pluralidade como um todo. Para o gerente de EB, a inclusão deve fazer parte dos valores do negócio, pois não basta ter um ambiente que seja diverso, mas que não se mostre inclusivo. “O mindset das pessoas precisa mudar, assim como as estruturas das organizações. É nisso que está a complexidade. A organização foi montada por e para pessoas muito parecidas. Se queremos mexer na experiência, temos que mexer na estrutura”.

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Nova cara da liderança

A próxima palestra magna teve como tema “ESG: liderança com propósito para transformar o mundo”. Ela teve participação da Chief Operating Officer do segmento Corporate do Banco Santander Brasil, Maitê Leite, do Diretor Executivo Corporativo da Ultrapar S/A, Marcelo Araújo, e do CEO Base Metals & Strategy na Anglo American, Ruben Fernandes.

Para Ruben, o principal destaque da sigla – que, em português, significa ambiental, social e governança – está na reflexão sobre o propósito, porque é dele que se parte o trabalho para construir, de forma engajadora, dinâmicas corporativas que favoreçam a sociedade. “O ESG não pode ser parte de uma iniciativa isolada, e sim parte do negócio e do que seja o melhor para a sociedade. Com os pilares bem estabelecidos, consegue-se gerar mais empregos e uma engrenagem positiva a todos os envolvidos é movida”.

ESG três letras para o futuro

Maitê, que trabalhou no Banco ABN e no Banco Real, explicou que nos anos 90 as instituições foram pioneiras no debate sobre diversidade e inclusão. Após 22 anos, ela conta que o Santander não só tem um trabalho voltado a desenvolver as políticas de D&I, que integram o “pacote” do ESG, como também reforça que a diversidade e a inclusão são fundamentais para desenvolver o negócio. Além disso, para a executiva, o verdadeiro trabalho de D&I deve ser conduzido pelo conhecimento da realidade vivida pelos mais diferentes públicos. “Você tem que se expor e viver a realidade social que quer impactar. Conseguimos trabalhar pelo que vemos nos livros, em textos, mas não promovemos um impacto relevante se não nos aproximamos de tal realidade”.

A COO revelou que a motivação original do Santander para começar a pensar no ESG partiu de uma visão estratégica da liderança, que conseguiu, principalmente através do RH, fazer com que isso fosse assimilado e compreendido como um diferencial.

Já Araújo “bateu na tecla” do trabalho em conjunto protagonizado pelos negócios como um todo. Embora empresas de maior parte tenham mais estrutura para realizar ações mais concretas de ESG, as pequenas e médias empresas também precisam refletir sobre seu impacto na sociedade e no meio-ambiente e “não apenas na sua função de gerar empregos, gerar riquezas e recolher impostos”.

ESG é tema de palestra magna no CONARH 2022

Em termos gerais, o trio foi enfático ao ressaltar que, hoje, organizações que apostam no ESG já estão saindo na frente como empresas mais competitivas e que chamam a atenção de investidores e consumidores. A tendência, para um futuro do trabalho próximo, é que organizações que não invistam em ações que contornam a sigla percam espaço. Fernandes e Araújo ressaltam que as lideranças devem ter papel ativo na agenda e fomentem a cultura de inovação, enquanto Maitê reforça a importância de um trabalho voltado à comunicação e participativo entre os times de trabalho.

O primeiro dia de CONARH também destacou nas palestras principais temas como flexibilização aos novos cenários de trabalho, segurança psicológica, LGPD, People Analytics, humanização nas empresas e muito mais.

Fotos por: Alvaro Motta/Argosfoto

Por Felipe Guerra Conte