Enquanto o conceito do metaverso ainda é, para muitas empresas, embrionário, na Companhia de Estágios o “mundo virtual” já chegou. Em parceria com a Scania e outras organizações, a recrutadora deu início a um projeto piloto tecnológico e realizou seu primeiro processo seletivo de estágio no universo dos avatares.

A seleção no metaverso contou com a presença de 30 universitários de diversas áreas. Antes da entrevista, os candidatos receberam um manual com dicas de informações prévias sobre o processo, antes de irem até a sede da Companhia de Estágios para a realizar a dinâmica com o uso de óculos de realidade virtual.

Para dar início ao processo seletivo, os participantes criaram avatares personalizados que evidenciaram suas características físicas, estilo profissional e temperamento. De customização do corpo a escolha de variadas roupas e acessórios (piercing, brincos e outros), “o candidato consegue criar um personagem parecido com ele próprio para interagir com o recrutador – que também é um avatar”, explica Tiago Mavichian, CEO e fundador da Companhia de Estágios.

Segundo o executivo, o metaverso ajudará a criar experiências mais interessantes para quem disputa uma vaga. “Quando a pandemia acabar, os processos seletivos seguirão online. E, para manter os candidatos engajados, será preciso evoluir para além das entrevistas no Zoom”, complementa Mavichian. “Outro motivo que nos levou a apostar no metaverso é a ascensão da geração Z. Eles já são 25% da força de trabalho global e estarão em peso nesse ambiente virtual”.

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Experiência de sucesso

No que depender dos participantes do piloto do metaverso, a experiência tem tudo para ganhar ainda mais força dentro da Companhia de Estágios. Um dos participantes, o estudante de administração Gabriel Seabra, de 21 anos, comentou que apesar de já ter feito dinâmicas e entrevistas presenciais e remotas, nunca viveu prática semelhante. “A experiência no metaverso foi única. Depois que coloquei os óculos e me ambientei com a ajuda do time envolvido, ficou até difícil saber o que era realidade ou não”.

O sentimento positivo foi compartilhado pela aluna de psicologia Aluna Camargo, de 28 anos. Também uma das pessoas entrevistadas, disse que estava com saudade de sentir o frio na barriga dos processos seletivos presenciais, sensação que ela pôde experimentar no metaverso. “Eu me senti mais próxima da recrutadora e consegui falar mais de mim do que em outros processos seletivos que fiz via vídeo, por exemplo. Eu pude perceber reações da recrutadora, como gestos e riscos, como se ela realmente estivesse na minha frente. Achei fantástico”.

Se depender dos recrutadores da empresa, é seguro dizer que a tecnologia do ambiente virtual chegou para ficar. Envolvida na experiência, Jéssica Gondim, Gerente de Projetos da Companhia de Estágios, falou sobre o que sentiu ao entrevistar as pessoas.

“A experiência de entrevistar no Metaverso é diferente de tudo que já tive contato. É algo totalmente novo. Usar os óculos é bem fácil, no segundo dia eu já estava super adaptada ao equipamento. E o mais incrível é conseguir sentir o candidato, mesmo que seja através de um avatar é possível perceber quando ele está mais nervoso pelo tom de voz e a forma como se movimenta na cadeira. Além disso, o ambiente no metaverso ajuda a quebrar aquele clima de pressão que temos no ambiente corporativo, pois a sensação é de estar literalmente em outro lugar. Confesso que no começo fiquei preocupada em não conseguir captar bem o perfil, ou ter perdas no momento da avaliação, mas isso não aconteceu. Foi uma experiência positiva e que superou as expectativas”, pontuou.

A Companhia de Estágios é responsável por conduzir os processos seletivos de vagas de estágio para a Scania e convidou a empresa a participar deste projeto piloto para direcionar jovens talentos para vagas que estiverem abertas.

“Enxergamos que esta seria uma excelente experiência para os nossos candidatos, além de uma ótima oportunidade para entendermos e vivenciarmos um pouco mais as possibilidades que o metaverso poderá nos trazer. Fazer a seleção nesse ‘novo ambiente’ e, principalmente, em um momento no qual ainda é novidade para muitos, além de proporcionar uma experiência marcante e única, nos permite avaliar algumas soft skills importantes para a empresa, como capacidade de adaptação, flexibilidade e atitude inovadora”, afirma Danilo Rocha, vice-presidente de Pessoas e Cultura da Scania Latin America.

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Planos para o metaverso

Segundo Mavichian (foto abaixo), a pandemia acelerou a implementação de novas tecnologias nas empresas. O executivo explica que, à medida que o isolamento levou muitos processos empresariais para o online, nunca foi tão importante encontrar maneiras colaborativas para oferecer melhores experiências, interações e resultados. “O metaverso oferece essa possibilidade de interagir em tempo real, de forma ultrarrealista. É possível construir um projeto juntos, com pessoas de diferentes locais do mundo, projetando uma apresentação, escrevendo no flip chart e vendo as reações dos colegas. Esse novo cenário passa a ser uma ferramenta importante para todo o mundo corporativo”, salienta.

Tiago Mavichian - companhia de estágios aposta no metaverso

De acordo com o Diretor de Tecnologia da Companhia de Estágios, Hugo Rebelo, a empresa aprovou investimentos de meio milhão de reais para a fase inicial do projeto, que envolveu a avaliação e testes com as plataformas Meta, Decentraland e outras. 

“O metaverso não é uma coisa única, é um conceito amplo que engloba vários mundos virtuais, com diferentes características. No ‘Decentraland’, por exemplo, há uma grande liberdade criativa e já existe uma forte especulação imobiliária virtual. Por sua vez, no workrooms do Meta, embora o ambiente seja mais limitado, há um foco maior nas relações profissionais. De forma geral, notamos que com o surgimento de novas tecnologias, como o blockchain, além de uma maior capacidade computacional e aprimoramento das redes, têm se viabilizado a construção de experiências cada vez mais naturais e imersivas. Cabe lembrar que anos atrás era comum ouvir as pessoas falarem ‘vou entrar na internet’. Agora, nós vivemos na internet, ela faz parte das nossas vidas. É bem provável que daqui alguns anos viveremos o mesmo com o metaverso, aceitando-o como algo do nosso cotidiano”, esclarece.

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Por fim, Mavichian elucida que o metaverso seguirá fazendo parte dos processos seletivos da Companhia de Estágios. O fundador comenta que novas vagas e empresas estão sendo analisadas para que o ambiente virtual seja novamente o cenário de uma dinâmica, 

“A ideia é testar a aceitação das pessoas, evoluir o processo e garantir que os resultados sejam alcançados para entregar as melhores oportunidades aos candidatos em processos rápidos e eficientes, garantindo que as empresas contratem os perfis que atendam suas demandas. Nós ainda dependemos de vários avanços para que o metaverso se torne uma tecnologia popular, como o aumento do 5G. Mas, quando isso acontecer, não tenho dúvida de que essa será uma tecnologia que tem potencial de somar no recrutamento e seleção no mercado de trabalho”, conclui o CEO.

Foto do Tiago: por Germano Lüders