Há pouco tempo, conseguir um cargo de liderança era algo extremamente complicado para mulheres, mas felizmente a situação vem mudando devido à sensibilização no âmbito da diversidade, da inclusão e da equidade de gênero. Entretanto, há algumas questões que precisam ser debatidas, tais como a pouca representatividade em cargos de liderança e de gestão, os salários menores do que os dos homens, a sobrecarga por conta da associação com a vida familiar, entre outros.
Segundo Sandra Cristina Domingos, coordenadora do atendimento corporativo do Senac São Paulo, historicamente as mulheres começaram a assumir postos de trabalho no Brasil somente após terem tido direito a voto e iniciarem sua jornada de trabalho, passando a ser mais protagonistas das próprias vidas, sustentando suas famílias e provocando uma mudança estrutural nas empresas: “Esse déficit cultural e de reconhecimento do potencial feminino fez com que as mulheres se dedicassem e estudassem mais do que os homens para provar sua capacidade a fim de conquistar cargos de liderança”.
E a pandemia acabou aumentando as diferenças.
Levantamento do Fórum Econômico Mundial realizado em março de 2021 aponta que, embora a proporção de mulheres mais qualificadas no mercado de trabalho esteja crescendo, as diferenças de renda e a pouca representatividade em cargos gerenciais ainda são problemáticas que se fazem presentes nesse cenário.
“Acredita-se que a pandemia trouxe um retrocesso para a evolução das mulheres no mercado de trabalho. O desemprego foi maior para as mulheres porque elas estão mais presentes nos setores afetados diretamente pelo isolamento social, como o setor de consumo, por exemplo. Também houve o fato de que o confinamento fez aumentar ainda mais sobre as mulheres as tarefas domésticas, principalmente com filhos e familiares, o que impactou diretamente na produtividade”, esclarece a coordenadora do atendimento corporativo do Senac São Paulo.
Vantagens e desafios da liderança feminina
“A liderança feminina tem características importantes que trazem inúmeros benefícios a equipes e organizações. Elas tendem a ser menos centralizadoras, delegando e pedindo mais auxílio às equipes, compartilhando problemas e soluções e estimulando o trabalho a partir de uma construção coletiva. Além disso, estão acostumadas a fazer diversas atividades ao mesmo tempo, o que as torna mais flexíveis nas tomadas de decisões”, afirma a coordenadora.
Os desafios enfrentados pela liderança feminina são inúmeros e passam pelo preconceito, que estabelece uma relação, por exemplo, entre o sucesso profissional e outros fatores que não a competência e dedicação ao trabalho, mas a sorte, por exemplo. Para a consultora do atendimento corporativo, outra ideia equivocada refere-se ao julgamento de que as mulheres são mais frágeis e não ‘aguentam’ as pressões e os desafios das grandes decisões e dos conflitos inerentes aos altos cargos de gestão. Além disso, deve-se considerar o aspecto de que, pela característica de flexibilidade dessa liderança, muitas vezes as mulheres não são valorizadas como líderes, e há os que tentam desqualificá-las e desautorizá-las.
Porém, há meios de atenuar esse cenário, e as soluções passam por treinamentos e capacitações que mostrem caminhos para a criação de uma cultura colaborativa, capacitando os líderes a atuarem com empatia e a fomentarem o trabalho em equipe, a colaboração e a
criatividade. “Assim, profissionais acabam se sentindo confortáveis e estimulados a contribuir e expressar suas ideias contribuindo para que todos estejam alinhados para obterem o sucesso juntos”, explica Sandra.
Os
líderes precisam também priorizar a inclusão e a diversidade nas equipes, pois o sentimento de aceitação faz com que os profissionais se engajem mais e se sintam motivados e orgulhosos por suas conquistas. Valorizar o trabalho e o progresso dos profissionais das mulheres, evitando que o sucesso seja entendido como sorte, acaso ou privilégios é uma necessidade urgente.
Por Bruno Piai