“Ela estava vestida assim porque estava pedindo, né?”. Se essa já é uma frase espantosa de se ouvir em qualquer situação relacionada a assédio, imagine durante um processo seletivo ou dentro de um ambiente profissional. Muita gente imagina que ninguém diria isso, mas a verdade é que algumas pessoas possuem uma crença tão forte em suas ações que nem mesmo consideram mentir. Contudo, só é possível descobrir esse tipo de “verdade” por meio das perguntas certas.

Esse é o propósito do PIR (Potencial de Integridade Resiliente), um Teste de Integridade desenvolvido pela S2 Consultoria, empresa que atua em gestão de comportamentos de risco, que apresenta dilemas éticos e identifica quais são os gatilhos que levariam profissionais a adotarem comportamentos inadequados. Fraudes, corrupção, discriminação, assédio moral ou sexual — inúmeras possibilidades são consideradas para avaliar o perfil do candidato.

Alessandra Costa, psicóloga de formação e sócia da consultoria, explica que o teste envolve um mix de formatos e que possui validação científica: “Disponibilizamos perguntas de múltipla escolha, dissertativas e também com resposta em vídeo. Então, nosso time de especialistas analisa diversos aspectos, incluindo linguagem verbal e não verbal do profissional. Essa metodologia foi estudada e validada pelo EnAnpad (Encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração)”.

Com mais de 50 mil avaliações de integridade realizadas pela S2 Consultoria desde 2014, foi possível identificar padrões e gatilhos comportamentais que representam pontos de baixa resiliência ética. “Esse tipo de teste, quando aplicado na etapa de recrutamento e seleção das empresas, é preventivo e permite que a empresa decida como prosseguir com a relação, inclusive com programas educacionais, se for o caso”, aponta Alessandra. “Em alguns casos, pode evitar que possíveis assediadores ou fraudadores sejam sequer contratados”.

Skills obrigatórias do RH

1 – Sexismo e assédio

A situação citada no início do texto não é tão improvável quanto parece. Tratam-se de pessoas que não se consideram assediadoras, mas que acreditam que determinadas circunstâncias legitimam seu comportamento.

“Nem se trata de um caso isolado. Já entrevistamos muitos homens que acreditam que o modo que uma mulher se veste, por exemplo, justifica uma tentativa de aproximação com intenções sexuais. Inclusive quando se trata de subordinadas. Eles frequentemente não veem problema em admitir esse tipo de pensamento porque creem que é um consenso, o que reflete principalmente seu círculo social e talvez impunidade em casos semelhantes de assédio no passado”, ressalta Alessandra.

2Manipulação de despesas

Vale-refeição, vale-transporte, créditos no celular: muitos custos relacionados ao quadro de funcionários podem ser manipulados dependendo da intenção do profissional. Por exemplo, se há um limite diário de R$ 50 reais para alimentação, algumas pessoas podem escolher apresentar notas fiscais sempre no limite mesmo que não tenham realizado esse gasto. Ou, ainda, podem comunicar que precisam de determinado valor para o vale-transporte, quando na realidade optam por um trajeto mais econômico.

Quando apresentadas a essas possibilidades, alguns não veem problemas em admitir que tomariam essas decisões. Afinal, se a empresa oferece o limite de R$ 50 reais, então o funcionário tem direito a isso independentemente do quanto realmente use para o fim acordado, certo?

É uma questão de interpretação que rapidamente se torna um dilema ético, e pode apontar para outros cenários em que o candidato manipularia o uso de recursos”, comenta a sócia da S2.

3Suborno

Apesar de parecer uma forma de corrupção bastante direta, nem sempre o suborno é visto dessa maneira. “Se apresentado em forma de presentes ou brindes, ou mesmo compensação financeira sob o disfarce de ‘recompensa por um bom trabalho’, torna-se mais provável que as pessoas aceitem e admitam isso”, explica Alessandra.

Essa é uma visão já estudada, inclusive, pelo Instituto de Pesquisa do Risco Comportamental (IPRC Brasil). No Índice PIR – Corrupção, 45% dos respondentes informaram que aceitariam valores monetários como parte de gratificação mesmo que isso não tenha sido acordado previamente.

Todas essas situações foram identificadas a partir dos testes de integridade, o que garantiu às empresas uma análise aprofundada sobre o perfil ético dos candidatos. Em entrevistas de emprego tradicionais, esse tipo de informação dificilmente seria descoberta. “O PIR é uma porta para a construção de ambientes de trabalho mais seguros. Além de servir como prevenção para as empresas, também é algo que impacta a sociedade como um todo, demonstrando as circunstâncias em que o comportamento ético é colocado em jogo”, finaliza Alessandra.

Por Redação