A estrutura híbrida de trabalho esteve fortemente presente nas listas de tendências corporativas de 2021 e, agora, já é uma realidade cada vez mais consolidada na cultura organizacional dos negócios. Em decorrência do processo de adaptação que empresas de todos os portes e modelos precisaram enfrentar para lidar com a propagação da Covid-19 – que, hoje, ganhou novos e preocupantes contornos por conta da variante Ômicron -, o home office ganhou força, aceitação e motivou reflexões entre gestores sobre tornar a prática mais recorrente também após o final da pandemia. 

De acordo com estudos conduzidos durante o período de alta do novo coronavírus, líderes pontuaram que o trabalho remoto não só contribuiu para que a produtividade dos empregados se mantivesse alta, como também ajudou a potencializar o engajamento. Porém, quando falamos em processos empresariais geridos a distância, a qualidade no desenvolvimento de um trabalho efetivo não se limita ao exercício de tarefas por parte dos colaboradores. Os treinamentos híbridos, que cresceram em números nos últimos dois anos, tendem a ter em 2022 um ano para garantir sua consolidação.

A educação no Brasil vive um momento de transformação. O EaD superou a fase do “preconceito” e hoje está na etapa da aceitação. Não à toa, segundo a Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (Abmes), em 2023 o Brasil terá mais alunos matriculados no ensino a distância do que no presencial, realidade que, aos poucos, se estende também para o universo empresarial. Para entender mais sobre o potencial de crescimento da educação corporativa híbrida, o RH Pra Você conversou com Márcia Conrado, Diretora de Negócios e Relacionamento da D2L Brasil, empresa criadora do Brightspace, um ambiente virtual de aprendizagem educacional e corporativa. Confira o papo:

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RPV: Um formato híbrido de treinamento pode integrar a nova realidade de mercado? E como ele tornaria mais eficaz o desenvolvimento de profissionais?

Márcia: A forma híbrida une as melhores práticas do ensino tradicional presencial e do ensino à distância. Esse tipo de técnica busca usar os modelos educacionais mais comuns na intenção de que trabalhem para melhorar a forma de aprender. A defesa do ensino híbrido entre as formas de metodologia ativa surge quando pensamos sobre como cada pessoa aprende. As pessoas aprendem de uma maneira diferente. O sistema híbrido potencializa as chances de aprendizado.

Sendo assim, ao misturar técnicas é possível atingir melhores resultados e compreender a importância de um ensino focado em metodologias ativas de aprendizagem. Segundo a Andragogia, ciência que estuda o aprendizado dos adultos, as pessoas possuem estilos de aprendizagem diferentes. Portanto, não é razoável acreditar que, por exemplo, em uma empresa com 50 colaboradores em treinamento in company, todos tenham o mesmo estilo de aprendizagem. Esta é uma expectativa nada real, embora boa parte das empresas escolha abordagens que não consideram esta variável.

Não se trata de melhor ou pior, o ensino a distância é uma realidade como o trabalho a distância se tornou, em alguns casos mostrando-se mais produtivo. Há um ganho enorme de autonomia do estudante em programas a distância, bem como de tempo de deslocamento, por exemplo. 

O modelo híbrido possui características únicas, com metodologias ativas, que diferem do conceito já conhecido de semipresencial. Algumas ferramentas podem ser amplamente exploradas a fim de incluir os recursos tecnológicos para personalização e complemento do aprendizado. Ensinar por meio dessas ferramentas pode ser um passo significativo e estratégico para o processo de aprendizado. E ser acessível não é o único diferencial do modelo híbrido. Trata-se do formato que melhor se adapta à realidade hoje.

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RPV: Qual a definição de metodologia ativa e como ela pode ser aplicada no processo de aprendizagem de profissionais dentro de uma empresa?

Márcia: As metodologias ativas funcionam como uma quebra de paradigma no que diz respeito à sala de aula tradicional, tanto no sentido físico quanto em relação à dependência de aulas expositivas. Tudo é feito para tornar o aluno elemento participativo e protagonista da sua aprendizagem. Por exemplo, cadeiras e mesas são dispostas em círculo com toda a turma ou em pequenos grupos, dependendo da atividade. Muitas práticas são utilizadas, dependendo do perfil da turma, do tipo de aprendizagem em questão. Há algumas como, sala de aula invertida, aprendizagem baseada em projetos, design thinking.

O objetivo maior é tornar o aluno elemento ativo do seu processo de aprendizagem. As técnicas e práticas podem ser utilizadas para o desenvolvimento de todo e qualquer tipo de competência. Pode-se focar no desenvolvimento de habilidades interpessoais ou soft skills, tais como liderança, comunicação, escuta ativa.

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RPV: De que forma as empresas podem absorver de forma competente esse hibridismo?

Márcia: Existem várias estratégias que colocam formas mais eficazes no processo de aprendizagem e que podem ser aplicadas na educação empresarial. Dependendo da escolha, deverá haver um nível de comprometimento maior ou menor dos colaboradores. Contudo, este tipo de trabalho deve ser pensado considerando a aplicação do conhecimento desenvolvido via on the job como forma de possibilitar um aprendizado mais robusto.

O uso da tecnologia aliada a métodos como a gamificação, especialmente em sua versão eletrônica, torna a aprendizagem mais “friendly”. Ou seja, cada vez mais amigável aos colaboradores, que vão se familiarizando com as ferramentas digitais e têm entusiasmo por jogos.

Outro ótimo exemplo é a sala de aula invertida, um conceito que vem sendo aplicado na educação tradicional, mas que também pode ser adotado nas empresas. Essa estratégia funciona assim: antes da aula o estudante acessa os conteúdos educacionais que foram previamente selecionados e, em sala, realiza atividades de fixação de conhecimento, principalmente participando de ações de discussão sobre o assunto estudado. Debates, apresentações, troca de ideias com os colegas e momentos para tirar dúvidas.

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RPV: Como o RH pode e deve se preparar para isso?

Márcia: É preciso conhecer os colaboradores, seus interesses e necessidades e refletir sobre os principais problemas do negócio e como a educação corporativa pode potencializar resultados estratégicos de curto, médio e longo prazos.

Ao entender quais são os desafios estratégicos do negócio e quais são as competências essenciais para alcançá-los, torna-se mais objetiva a escolha de das ações de desenvolvimento que serão necessárias e como as novas metodologias ativas de ensino podem ajudar no atingimento dos objetivos de aprendizagem.

Em um mundo em constante transformação, investir na preparação dos talentos é uma escolha estratégica. Fazer com que a educação organizacional e as metodologias ativas de ensino sejam de fato compreendidas por todos é essencial para o engajamento dos colaboradores, participação voluntária e resultados positivos. Quanto mais os colaboradores entendem a importância da educação e valorizam esse trabalho feito pela empresa, melhores serão os resultados.

Além disso, é preciso entender que a educação e o uso de metodologias ativas são antes de tudo escolhas estratégicas e precisam ter resultados acompanhados de perto. Há uma frase que diz assim: “se você acha educação caro, experimente a ignorância”. Esta frase foca naquelas organizações que sempre encontram uma desculpa para não investir em educação corporativa.

Por Bruno Piai