Nesta quinta-feira (28), será comemorado o Dia Mundial da Segurança e Saúde no Trabalho. O assunto, tema da campanha Abril Verde, remete à conscientização e ao conjunto de ações voltadas à prevenção de acidentes e doenças relacionadas ao trabalho. De acordo com dados do Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho, de 2012 até 2021 o Brasil registrou 22.954 mortes de trabalhadores no mercado formal. Somente no ano passado, foram registrados mais de 571.8 mil acidentes de trabalho e quase 2,5 mil óbitos.

Nos últimos dois anos, especialmente por conta da pandemia da Covid-19, o desafio das empresas para cuidar de pessoas aumentou. Além das ações que fazem parte da rotina das companhias, questões como a saúde mental entraram em plena evidência. E não só isso. Uma vez que o trabalho remoto se tornou alternativa para encarar as mudanças no dia a dia que a Covid-19 impôs, a segurança e a saúde das pessoas a distância também precisa entrar em pauta.

Para Ricardo Pacheco, médico, gestor em saúde e presidente da ABRESST – Associação Brasileira de Empresas de Saúde e Segurança no Trabalho, um processo de conscientização e de prevenção nas organizações produtivas é sempre bem-vindo. “Ter a SST no foco é muito importante, uma vez que especialmente as empresas têm a responsabilidade de promover um ambiente de trabalho mais saudável e livre de riscos de acidentes. As ações devem ser desenvolvidas em parceria entre gestores, trabalhadores e entidades do setor”.

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Mudanças no setor e reformulação de normas regulamentadoras

O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) reformulou, no ano passado, diversas Normas Regulamentadoras (que entraram em vigor em janeiro deste ano), sob o argumento de torná-las mais fáceis de serem compreendidas e também aplicadas ao dia a dia das empresas, visando a maior qualidade de saúde e segurança aos trabalhadores. Dentre as mudanças implementadas o presidente da ABRESST destaca as que mais têm impacto nas empresas.

“A implementação do PGR (Programa de Gerenciamento de Riscos) e do GRO (Gerenciamento de Riscos Ocupacionais), que tem como um dos objetivos o gerenciamento de todos os tipos de riscos ocupacionais presentes nas atividades; e a digitalização de processos e documentos, que pode ser realizado por meio do eSocial”, ressalta.

Além das mudanças na NR-01, com essa nova forma de cumprir com as obrigatoriedades trabalhistas no formato digital, outras NRs foram atualizadas e já estão valendo, como a NR-05, que trata da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes – CIPA; a NR-07, que versa sobre o Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO); a NR-09, que trata da Avaliação e Controle das Exposições Ocupacionais a Agentes Físicos, Químicos e Biológicos; os anexos 3 e 8 da NR-15, sobre as Atividades e Operações Insalubres; a NR-17, que trata da Ergonomia; dentre outras.

As NRs estabelecem uma série de medidas a serem adotadas pelas empresas para prevenir acidentes e doenças ocupacionais no ambiente de trabalho, sob pena de multa em caso de descumprimento. O objetivo da revisão, segundo o governo, é simplificar a legislação e acabar com obrigações e multas que não fazem mais sentido ou que só existem para penalizar o empregador. Esse argumento é embasado na burocracia e na falta de eficiência, segundo o Ministério da Economia De acordo com a pasta, muitas das normas estavam desarticuladas dos padrões internacionais e causavam conflitos entre normas trabalhistas e previdenciárias.

Para Pacheco, o Brasil passa por muitas mudanças e reformas em suas leis. “Essas transformações trazem alívio para muitos, e muitas críticas por outras pessoas. O fato é que mudanças são bem-vindas, desde que resulte ainda mais segurança e ganhos para todas as partes envolvidas, e não exclusivamente para uma das partes. As NRs são também pauta de grandes mudanças que, segundo o Governo Federal, devem resultar em uma economia de R$ 68 bilhões em 10 anos. Todavia, mais que pensar na economia que as revisões podem trazer aos cofres públicos, é preciso articular estratégias para devolver o trabalhador brasileiro saudável e seguro à sua família, todos os dias”, pontua o presidente da ABRESST e CEO da Oncare Saúde.

Segurança no trabalho a distância

De acordo com Tatiana Gonçalves, sócia da Moema Medicina do Trabalho, para que acidentes de trabalho sejam evitados no modelo remoto, se faz necessária a adaptação e treinamentos para qualificação e motivação das pessoas para atingir segurança, higiene, comunicação e cooperação entre equipes, grupos de trabalho, chefias e demais níveis. Isso adequa-se a diversos pontos como prevenção de doenças, com instrução expressa, clara e objetiva quanto às precauções a se tomar a fim de evitar doenças físicas e mentais e acidentes de trabalho, bem como adotar medidas de segurança, como intervalos e exercícios laborais.

Segurança do trabalho

A executiva destaca a necessidade de se adotar estratégias de etiqueta digital que orientem toda a equipe, com especificação de horários para atendimento virtual da demanda, assegurando os repousos legais e o direito à desconexão, assim como, medidas que evitem a intimidação sistemática (bullying) no ambiente de trabalho, seja ela verbal, moral, sexual, social, psicológica, física, material e virtual, que podem se caracterizar por insultos pessoais, comentários sistemáticos e apelidos pejorativos, ameaças, expressões preconceituosas ou memes.

Além de garantir o respeito ao direito de imagem e à privacidade, por meio da realização do serviço de forma menos invasiva a esses direitos fundamentais, oferecendo a prestação de serviços preferencialmente através de plataformas informáticas privadas, avatares, imagens padronizadas ou por modelos de transmissão online.

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Segurança mental também exige atenção

Segundo a OrienteMe, healthtech especializada em saúde corporativa, o programa de qualidade de vida no trabalho é uma iniciativa que muitas empresas, atualmente, estão adotando, por conta dos diversos benefícios proporcionados tanto aos colaboradores quanto à organização.

O programa de qualidade de vida no trabalho (QVT) é um conjunto de ações voltadas à promoção de hábitos saudáveis entre os colaboradores, como oferecer atividades físicas, acompanhamento nutricional para ter uma alimentação saudável, terapias para cuidar da saúde mental dos colaboradores, desenvolvimento pessoal e profissional, trabalho remoto e horário flexível. Assim, é possível construir um ambiente de trabalho que valoriza e empodera o bem-estar das pessoas.

Hoje, a prioridade dos profissionais brasileiros é, respectivamente, cuidar da saúde mental e da saúde física, de acordo com um estudo da Happiness Business School em conjunto com a Reconnect | Happiness at Work. Esses objetivos ficam até mesmo à frente de conquistar sonhos profissionais e ganhar mais dinheiro, ainda conforme a pesquisa. Isso esclarece muito bem a importância de criar um ambiente de trabalho baseado na segurança psicológica e no bem-estar.

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De acordo com Daniela Chohfi, CGO e cofundadora da OrienteMe, seis passos são determinantes para a criação de um programa de qualidade de vida no trabalho, sendo eles:

  1. Avaliação da realidade atual;
  2. Definição de objetivos;
  3. Desenvolvimento de plano de ação;
  4. Implementação do programa;
  5. Divulgação do programa;
  6. Acompanhamento dos resultados.

“O programa de qualidade de vida no trabalho pode proporcionar à organização alguns benefícios, como, por exemplo, atração e retenção de talentos, redução da taxa de turnover e de absenteísmo, aumento da produtividade e do engajamento e, um clima organizacional mais satisfatório”, diz a executiva.

Por Bruno Piai